É com grande alegria que chegamos ao quinto número da Revista Garrafa, conseguindo realizar aquilo que mais nos interessa: estimular e tornar pública a produção dos alunos de Pós-Graduação em Ciência da Literatura, para que haja uma visibilidade cada vez maior da pluralidade de pensamentos que nos atravessam. Deste modo, torna-se possível a alegria de uma interlocução mais prazerosa e intensa entre nossos pesquisadores. Os diversos textos que seguem são decorrentes de estudos particulares que, em pleno movimento de solidificação, no curso da escrita de projetos, dissertações, teses, ensaios, enfim, de toda escrita envolvida com o processo acadêmico, estão em busca de um aprimoramento contínuo. Espera-se de uma escrita que ela tenha a capacidade de estabelecer, estendendo diante de qualquer pessoa que por ela se interessar, uma leitura original acerca de determinado assunto. Nela, situamos um pensamento, deixamos aparecer uma possibilidade do que nos convocou e exigiu nossa atenção por determinado momento de nossa vida. A extensão dos anos de estudos conta pouco: o movimento de uma perplexidade que nos persegue se faz muito mais pela verticalidade de sua imposição à nossa intimidade do que pela horizontalidade da cronologia dispensada a sua formulação. Um texto acadêmico se caracteriza por uma afirmatividade calcada em alguma hipótese de trabalho. Delineia-se uma proposta, uma intenção, uma sugestão, um objetivo, uma suposição, que o texto vai tentando confirmar. Só descobrimos, entretanto, o que efetivamente somos capazes de pensar (ou melhor, o que o pensamento quer e pode pensar através de nós), quando o foco se transfere da tentativa de estabelecer um pensamento para a autonomia do próprio pensamento situado, a princípio, nas respectivas páginas. Somente ele importa: todo o resto passa a ser resíduos que se reservam tão somente na trajetória interior do autor do trabalho, em sua memória particular, fora aqueles que se perderam para sempre no esquecimento, sem terem sido aproveitados por não se encaixarem com pertinência na exigência do que, no momento, estava sendo escrito, ou por não estarem diretamente ligados à linha de força principal que, aos poucos, foi se delineando no estudo. Neste sentido, escrever é se comprometer, assumir a responsabilidade de estar atravessando um caminho que não é nenhum outro senão este que se percorre: demarcação de limites, para o melhor e para o pior. O pensamento se arrisca a tornar-se vulnerável, frágil, expondo ao olhar alheio o que era a manifestação de um fazer solitário e inescrito. O que fica para o leitor compartilhar são algumas palavras, supostamente aquelas que, de nossa incerteza, acreditamos ser as que mais demarcam nossos anseios. Nunca podendo ser exposto em sua totalidade, revelando-se sempre por escombros, o pensamento tem de se manifestar no movimento que se tornou explícito. Que este movimento não queira se estancar. Texto pronto, sempre muitas dúvidas: convencemos o leitor, sobretudo, de nosso espanto? Mesmo sabendo que a problemática é muito maior do que nossa capacidade de pensá-la, tivemos habilidade suficiente para dar o passo do tamanho exato de nossas pernas, nem maior, nem menor? Tangenciamos, ao menos, de maneira honesta, o revolvimento interno que tal assunto nos provoca? Conseguimos mostrar a relevância tanto de nossos escritos quanto da temática para o momento em que vivemos e para toda uma tradição? Escapamos da erudição pela erudição, que pode até impressionar leitores incautos, mas que, muitas vezes, esconde a incapacidade de elaboração de um discurso próprio? Em algum momento, mesmo que por poucas páginas, descobrimos a voz que nos atravessa, ou seja, o que de efetivamente autêntico podemos ter a dizer? São estas, algumas das questões com as quais os textos a seguir se confrontam, buscando enfrentá-la de maneira, a um só tempo, rigorosa e criativa. Assim como ocorrerá com os próximos números da Revista Garrafa, este nasceu do 2º Simpósio de Pós-Graduação em Ciência da Literatura: ele é precursor ou resultado de algumas comunicações então apresentadas. Além dos alunos do nosso Programa, acolhemos também tanto os de outros programas que participaram do evento quanto os de graduação que, por desenvolverem pesquisas com professores da Ciência da Literatura, foram convidados a participar. Nosso objetivo é, paulatinamente, ainda este ano, publicar os textos que nos forem enviados. Fica, aqui, meu grande agradecimento a todos vocês, que participam deste número, e, muito, ao Alan Seabra, nosso estagiário que fez toda a programação visual da revista, a preparação dos textos e sua viabilização on-line.
Alberto Pucheu |