AS CONFIGURAÇÕES DE EROS NA NARRATIVA DE NÉLIDA PIÑON: ASPECTOS DO EROTISMO N’A CASA DA PAIXÃO

 Maximiliano Torres – Doutorando em Teoria Literária

 

A paixão designa um estado arrebatador, intenso, ardente, um vigoroso desejo com forte conotação erótica, ao qual o Homem se entrega sem reservas. É a sensação delirante, coligada à emoção. Domina e oblitera a razão e o discernimento face às próprias vivências, surgindo relacionada ainda à sensualidade intensa, ao afeto dominador e alucinado, aproximando-se, por vezes, da obsessão, pois a paixão é sempre provocada pela presença ou ausência de algo que conduz à reação, na maioria das vezes, de improviso. Tal sentimento revela que o Ser vive na eterna dependência do Outro.

Assim, a paixão – pulsão erótica - é caracterizada como detentora da supremacia sobre a vontade humana; aprisiona os seres aos domínios do império de Eros que se realizam como expressão da nostalgia de completude, do eterno desejo de conexão com o cosmo. Um deles - e talvez o mais poderoso, porque menos manipulável e, por isso, mais intimidante à ordem social - é a arte, em geral, e a literatura, em particular.

Falar sobre Eros é trilhar por labirínticos caminhos, é percorrer terrenos de areia movediça, espaços nebulosos e obscuros. Segundo Junito Brandão[1], Eros traduz a complexio oppositorum, a união dos opostos, dos binômios animus-anima, Yang e Yin, a força, a alavanca que canaliza o retorno à unidade, o Amor: pulsão fundamental do ser que impele toda existência a se realizar na ação.

            Inúmeras são as reflexões sobre a genealogia de Eros, esse misterioso daimon, energia geradora, cupido travesso, uma das divindades mais literárias do panteão grego. Já na Teogonia[2], Hesíodo apresenta Eros como agente fecundador da criação do mundo e dos seres. É com o poeta da Beócia que a divindade ganha dimensão universal.

            Platão, fundador da nossa filosofia do Amor, a quem, segundo Octavio Paz[3], devemos a idéia de erotismo como um impulso vital, que ascende degrau por degrau até a contemplação do bem supremo, sem dúvida, foi quem melhor investigou tal tema, tornando este um dos pilares de sustentação da sua vasta construção filosófica.

            Em O Banquete[4], o filósofo grego, através da fala de ilustres convivas na casa do poeta trágico Agatão, analisou as várias faces do discurso amoroso. Segundo ele, o Amor está dirigido ao Belo e envolve uma necessidade ou falta. Tal sentimento é gerador de beleza. Sendo assim, todas as suas inclinações são apresentadas no diálogo - do Eros físico à transcendente idealização - como participação da natureza humana e caminho de elevação à Suprema Beleza.

            O ápice do diálogo se dá quando Sócrates, rememorando Diotima, a estrangeira de Mantinéia, dá a chave do Teorema do Amor. Ela relata que Eros foi concebido na festa do nascimento de Afrodite e é filho de Pênia - a Pobreza - e Póros - o Recurso.

Por tal genealogia, percebemos que Eros é paradoxalmente revestido e, por isso, se encontra entre a penúria e a riqueza, a sabedoria e o desatino, o material e o espiritual, entre a Vida e a Morte. Estando sempre entre o divino e o humano, pode ser classificado não como um deus, mas como um daimon: uma força espiritual misteriosa de coesão; um demônio, livre da concepção maligna imposta pelo mundo cristão.

Desta forma, partindo de dados elaborados da tradição platônica e de outros mitos, comprovamos que Vida e Morte estão sempre enlaçadas nos ardis de Eros, e que a cada ligação amorosa se reaviva, simbolicamente, a dança da Vida em compasso com a Morte.

Eros não é um deus, não possui a plenitude, aparece sempre como uma força agregadora que encaminha o ser humano para o resgate de uma totalidade perdida, a que podemos chamar, seguindo a teoria de Georges Bataille, de continuidade. Um dos pilares de sua leitura poético-filosófica é a tensão entre duas noções ontológicas fundamentais: a descontinuidade e a continuidade do ser.

            Para o filósofo francês, somos seres descontínuos, pessoas que individualmente morrem numa aventura enigmática, marcada, contudo, pela nostalgia da continuidade perdida. E é esta nostalgia que comanda, na espécie humana, as três formas de erotismo: o erotismo dos corpos, o erotismo dos corações e o erotismo sagrado. O que as norteia é o desejo de substituir o inexorável isolamento do ser, a sua tão incômoda descontinuidade, por um sentimento ilusório e fugaz de continuidade, da busca de sua completude primordial. Tal completude, só atingida na morte, é experienciada, simbolicamente, no clímax erótico.

            Segundo Bataille, o erotismo abre-se à exuberância, ao excesso, à vivência dionisíaca. Está ligado à violência, à violação, à desordem, à morte, à transgressão, pois,

o que está em jogo no erotismo é sempre uma dissolução das formas constituídas. Digo: a dissolução dessas formas de vida social, regular, que fundam a ordem descontínua das individualidades definidas que nós somos.[5]

 

            As três formas de erotismo, colocando em questão a substituição da descontinuidade pela continuidade, carregam em si a essência do religioso no sentido da religação universal das tribos primitivas. Tal religação conduz o homem ao alcance do horizonte do sagrado arcaico - o sagrado primordial, como sacer, ou seja, o fecundo enlace entre a bendição e a maldição, o puro e o impuro, o sublime e o grotesco, Deus e o Diabo, sem as dicotomizações instituídas pela cultura judeu-cristã. No sagrado primordial, a realidade é intensa e ambígua: purifica e queima, cura e enfeitiça. A sexualidade é um meio de participar do sagrado, assim, o erotismo representa um componente natural deste sagrado indissolúvel. É por isso que Bataille afirma que todo erotismo é sagrado, visto que, ambas as experiências de intensidade – a erótica e a sagrada – rompem com o mundo ordenado, imperador da descontinuidade.

            O erotismo dos corpos seria uma tentativa de fusão – violação - com o parceiro numa busca incessante de continuidade. Neste passo, vale lembrar que o erotismo é uma atividade exclusivamente humana e a atividade sexual do homem só é erótica quando ultrapassa a animalidade, quando o homem transforma a atividade sexual em busca psicológica, em autoconhecimento, em questionamento do ser. Ou seja, é pelo trabalho, pela compreensão e consciência da morte, pela passagem da sexualidade livre à sexualidade envergonhada, da qual surge o erotismo, que o homem desvencilha-se da animalidade. Porém, Bataille concede amplo espaço à violência, que encaminha à perda da razão e conduz o homem ao resgate da animalidade. E neste ponto identifica a primeira como resgate da segunda.

            O erotismo dos corações seria os sentimentos dos amantes, prolongador da união dos corpos entre si. No entanto, tal sentimento pode tornar-se mais violento que os desejos dos corpos, pois introduz a desordem e a confusão, instaura uma continuidade ilusória entre os seres e nos remete ao sofrimento quando nos deparamos com a real impossibilidade desta continuidade.      A paixão nos ludibria com promessas de que, se possuirmos o ser amado, a solidão e a descontinuidade se extinguirão e formaremos, com o outro um só coração. Desta forma, procuramos possuir com fúria o objeto de nosso desejo, a possibilidade da continuidade imersa nele e se porventura não alcançamos esta meta, preferimos a sua destruição. Antes matar o ser amado a perdê-lo; visto que buscamos, no erotismo, a continuidade que só é alcançada na morte. “O que caracteriza a paixão é um halo de morte”.[6]

Lembremos que violência é aquilo que vai além, e a morte é a violência maior, pois desorganiza o organizado. Vale ressaltar que, para o filósofo, o conceito de violência aponta para dois lados: por um lado, trata-se do elemento anti-racional que se opõe à ordem do mundo do trabalho; por outro lado trata-se da força que anima os órgãos sexuais levando-os ao limite máximo: a pletora - passagem do repouso à excitação física, momento em que, através da dilatação dos canais sangüíneos, o corpo sai do equilíbrio orgânico.

Esclarece-nos Maria Rita Khel, que o poder irradiador de Eros é tão violento que contamina todas as nossas funções vitais; é percebido como uma enorme força unificadora e gratificadora que preserva o viver ao batizar, com seu nome, as pulsões de vida[7].

Outro pilar de sustentação da teoria de Bataille calca-se sobre as regras de condutas repressoras - interditos - e a suspensão das mesmas - transgressões. Segundo o pensador, há uma interdependência entre o interdito e a transgressão. A transgressão não é a negação do interdito, pois o ultrapassa e o completa, visto que, qualquer proibição pode ser transgredida. O que mantém o interdito não é a lei, e sim o horror: o horror que aquilo pode causar. Há o interdito porque há o sentido de morte. Na vida comum vivencia-se o interdito ou a transgressão, no erotismo tais regras de conduta são simultâneas.

Octavio Paz, em suas poéticas reflexões sobre a linguagem, clarifica o vínculo entre poesia - poiesis/criação - e erotismo. O poeta/ensaísta mexicano nos mostra que pela tradição filosófica ocidental, Eros é visto como uma divindade de ligação; uma divindade que comunica a obscuridade com a luz, a matéria com o espírito, o sexo com a idéia, o aqui com o além, a vida com a morte. Diz-nos que refletir sobre Eros e seus poderes não é similar a expressá-lo, pois expressá-lo é dom do artista e do poeta. Em suas próprias palavras,

A relação entre erotismo e poesia é tal que se pode dizer, sem afetação, que o primeiro é uma poética corporal e a segunda uma erótica verbal. [...] O erotismo é sexualidade transfigurada: metáfora. A imaginação é o agente que move o ato erótico e o poético. [...] A imagem poética é o abraço de realidades opostas e a rima é cópula de sons; a poesia erotiza a linguagem e o mundo porque ela própria, em seu modo de operação, já é erotismo. [8]

 

A arte, sempre desafiadora, incita o princípio de razão predominante. Ao invocar a sensualidade, invoca a gratificação em oposição à repressão. Faz emergir a sua pureza e a sua animalidade.   Paz analisa o discurso do amor, portanto um discurso erótico. Aliás, o livre exercício da palavra já é erótico por si só, exatamente por se instalar num lugar onde o objeto do desejo é o verbo.

Sabemos que a Literatura não é simplesmente um veículo de cultura, mas, principalmente, a representação da nossa própria existência, dos nossos problemas diários, da nossa história. Com isso, as fronteiras são transgredidas pela delimitação, a vida não passa para o texto, ela se converte em campo de referência pela sua intencionalidade. Deste modo, uma obra literária sempre indica uma ausência. Trata-se, portanto, de uma lacuna que transparece como palavra não pronunciada, e que perpassa o texto literário, repercutindo no ser humano. Sendo assim, qualquer transgressão, neste sentido, pode ser autorizada pela liberdade criadora.

A Casa da Paixão[9] (1972) quarto romance de Nélida Piñon - refere-se aos lineamentos da cultura judeu-cristã que amortizou e controlou a sexualidade à sua função de reprodução, à heterossexualidade e à sua legitimidade somente após o casamento religioso. Também aponta para a falência da tradição cultural nas sociedades Ocidentais que atribuem ao significante corpo, múltiplos significados que vêm escamoteando o desejo físico e a materialidade do erotismo. Assim, todos os elementos da natureza aparecem, no texto, corporificados por uma espécie de epidemia. O corpo ganha tal poder que, à sua volta tudo se erotiza. Transforma-se no jogo, na fonte, na forma, na imaginação, na sensação, no efeito, no lado fantasioso, na linguagem. Corpo, alforriado de qualquer ideologia de natureza espiritual ou social:

Da terra, Marta escolhia qualquer recanto. Fechava os olhos tropeçando contra pedras, galhos livres, perdendo às vezes a esperança. Até não suportar o próprio suor e exclamava:

- Aqui conhecerei o repouso. (p.7)

Amava o sol, sob a luz imitava lagarto, passividade que os da própria casa jamais compreenderam, parecendo-lhes proibido que se amasse tanto o que ninguém jamais amara tão devotada. Mal se sentava, as pernas abriam-se escorregadias sobre o solo, exigindo o esforço da pele ressentida, extraía da areia, da grama, o que fosse, sua aspereza. Dava-lhe gosto olhar as pernas escancaradas sem que o homem ocupasse suas coxas, a obrigasse tombar sentindo mágicas contorções. O exercício de usufruir alguma coisa próxima ao prazer distinguia-a. (p.7) [...] Pela identidade que descobriu e a certeza de evoluir sempre que se entregasse exaltada à sua paixão. (p.7-8)

 

O romance apresenta uma história aparentemente tradicional, facilmente encontrada em mitos, lendas, contos de fadas e na literatura clássica. Há um casal de jovens, a resistência da geração mais velha perante novos costumes, as forças antagonistas que lutam para manter os amantes separados e, após muitos obstáculos, sofrimentos, crises existenciais - que supostamente deverão propiciar crescimento e maturidade -, finalmente chegam à união amorosa. O discurso, no entanto, reveste-se de uma linguagem deveras desconstrutora de forma que, ao percorrer as labirínticas páginas da narrativa, os enigmas impostos pela Esfinge/Escritura são incalculáveis.

Nélida Piñon, em poético “decifra-me ou te devoro”, acena ao que não pode ser dito claramente por meio de símbolos, arquétipos, alusões bíblicas e literárias. Do ponto de vista estrutural, emerge, do romance, a rejeição das formas convencionais. O enredo é mínimo; as descrições dos personagens são símbolos analógicos, pois estes parecem inseridos no turbilhão da massa elemental e primitiva a que os gregos chamaram de Caos, pois um mundo subterrâneo com movimentos rudimentares e frenéticos se recria por meio da linguagem nelideana.

Antônia foi escorregando para o centro da terra, onde a galinha também nascia, todos da sua espécie eram concebidos deste modo, no ninho coberto de feno, penas, cheiro enfim que Antônia absorvera e agora vivia em sua pele: ali ela ficou muito tempo, severa, até que as pernas sobre o feno se escancararam e imitaram uma galinha na postura do ovo: Marta percebia que de tudo Antônia praticava para assimilar o animal, quem a olhasse não duvidaria, tanta a sua transcendência, como que a velha abdicara de sua figura humana a pretexto de ser a galinha que abandonou a luta após ingente tarefa, seu rosto assinalava o rigor da procriação, tremiam suas bochechas, os dentes, tão dilatada pelo esforço que Marta murmurou: que se consinta à criatura abrir seu ventre para a terra: (...) 

Sem contar com os elementos da natureza, que também aparecem como personagens, quatro personalidades se destacam por suas atuações na trama: Marta, a púbere órfã de mãe, que deseja desbravar limites da casa/corpo; Antônia, a velha ama, conhecedora de todo o perímetro da casa; o Pai, inominado, zeloso com as tradições e os costumes, possuidor de uma atração incestuosa pela filha; Jerônimo, o jovem pretendente trazido pelo Pai para possuir Marta.

A narrativa é produzida com uma grandeza de intenções, metáforas e ressonâncias que revelam a representação da visão particular de um mundo em que o gosto por associações simbólicas e a postura perante a vida e a literatura expressam um imaginário mítico povoado de alusões à época de um passado humano que é precedente à idade da razão e ao progresso civilizatório. Nesse mundo, a relação com a natureza é direta, possui uma intimidade muito próxima à fantasia, ao sonho e ao maravilhoso:

[...] fosse então a pedra o desenho inventado para servir aos seus deuses quando sobre altar exigente invocariam milagres, também imagens, e eu gritaria para Antônia e o pai ouvirem, sem pedir socorro, a salvação de me perder, a salvação da alma está entre minhas pernas, pressenti já menina, quando os raios exaltados do sol me prenderam, (p.58) 

Três pilares sustentam a geografia ficcional d’A casa da paixão: sacralidade e impureza; sacralidade e transgressão; sacralidade e erotismo -, onde a pletora é a tônica das ações dos universos de seus personagens. Partilhantes da energia do numen, eles incendeiam a desenfreada paixão, as emoções e instintos, os atos libertários, a vida e a morte, o prazer e a dor, a violência do caos adornando-se em cosmo. Neste ambiente da revelação, perpassa a desesperada ânsia de continuidade na consciência de que o homem é um ser descontínuo. Ele convive com o fracionamento, com a perda, em virtude da emergência dos interditos, dos tabus civilizatórios, das coerções, dos modelos produtivos culturais:

[...] sou mulher porque não desconfio do fervor com que abro pernas, deste modo o sol bate à minha porta, o líquido dourado que imita água na minha carne é a segurança que o sol exige e eu ofereço, sol é o meu ventre, sol é o pênis precioso de minha terra encantada, [...] (p.60)

[...] sou deusa da fertilidade porque não concebi, sou senhora da carne por não ter conhecido homem ainda, sou tirana do sangue porque imagino o corpo do homem em ascensão sob o dever da carne parecida ao arbusto, a que cederei dor e sangue, para que se veja ele nas expressões da minha luz arbusto, foguete, sol afinal concebido e premiado no regaço de minha carne, e meu ventre se perfumará, ah o perfume do suor tantas vezes extraído pelos corpos em movimento de cachorro vagabundo, sou carne vagabunda, pai, pois sou carne preparada, sem hesitar [...] (p.64) 

A casa da paixão, escrita numa linguagem em que as imagens são sugeridas e, na maioria das vezes, declaradas com tamanha violência erótica, possivelmente seria insuportável não fosse pela força e suavidade da poiesis que funda o texto. As expressões, que fora do halo da arte soariam vulgares, fremem em nossos ouvidos num misto de acordes harmônicos e desarmônicos, instaurando um sagrado som primordial que aponta para o desejo de que a mulher seja superiormente mulher, contrabalançando com o seu poder sexual o poder político patriarcal.

Um rompimento limite da estrutura sintática nas construções frásicas nelideanas se dá até o romance A casa da paixão. A partir daí, parece-nos, ainda que a escritora realiza tal rompimento, mas mais atenuado. E, no romance em estudo, podemos ler tal rompimento como o véu da estrutura erótica feminina que se dilacera diante do leitor: a mulher em toda a sua plenitude de terra, de ar, de água, de fogo. Isto nos possibilita dizer que A casa da paixão se erige erótica não somente pela sua trama, mas principalmente pela linguagem que a constitui. Uma linguagem fremente, plena de excessos, fervente de ardor sexual.

O erotismo para Nélida é um jogo, como é um jogo o seu próprio fazer literário e o tempo deste fazer. A criação, um rastro difícil, um texto sempre disposto a contrariar as versões e as descrições que se fazem dele, haja vista a sua consciência verbal sempre em busca de desvendar uma obsessão proclamada pela própria escritura, resistindo a qualquer sistema que queira aprisionar sua criação de linguagem. Nas palavras da escritora:

Uma vez que a terra está povoada pelos sentidos humanos, é natural que se impregne o texto da emoção que emana simultaneamente do corpo, do espírito e do mistério. E que passe a ser ato de vida e de rebeldia estética a apropriação do corpo físico e do corpo verbal.

 

Esta é Nélida Piñon em A casa da paixão. A que, buscando ressignificar um fenômeno ético em estético - Eros - rasga o tecido da linguagem para, delicada e audaciosamente, suturá-la no âmbito do erotismo dos corpos, do erotismo dos corações, do erotismo sagrado.


[1] BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário Mítico-Etimológico da Mitologia Grega. 4 ed, Petrópolis: Vozes, 1991, v.1, A-I, p. 356.

[2] HESÍODO. Teogonia. A origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano, Massao Oho, 1981.

[3] PAZ, Octavio. A Dupla Chama; Amor e Erotismo. 2 ed. Trad. Wladir Dupont. São Paulo, Siciliano, 1995. p. 41.

[4] PLATÃO. O Banquete. In: Diálogos: Mênon, Banquete, Fedro. Trad. Jorge Paleikat. Porto Alegre, Globo, 1945.

[5] BATAILLE, Georges. O erotismo. Trad. Antônio Carlos Viana. 2 ed. Porto Alegre, L&PM, 1987.   p. 18.

[6] Op. cit. p. 20

[7] KHEL, Maria Rita. A psicanálise e o domínio das paixões. In: --- et alii. Os sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

[8] PAZ, Octavio. A Dupla Chama; Amor e Erotismo. 2 ed. Trad. Wladir Dupont. São Paulo, Siciliano, 1995. p. 12.

[9] PIÑON, Nélida. A casa da paixão. 5 ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988. Todas as referências dessa obra serão feitas por essa edição; por isso indicaremos, após cada citação, a respectiva página.

 

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