APRESENTACÃO
- Dois em Um -
Luís
Alberto Alves
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Literatura UFRJ
A
Revista Garrafa vem mantendo seu compromisso originário de fazer
escoar, preferencialmente, a produção de nosso corpo discente,
que de outro modo enfrentaria obstáculos bem reais _ e por nós
já conhecidos _ , que tendem a empurrar para a sombra a pesquisa
universitária.
O
conjunto de artigos que o leitor terá à disposição é representativo
do que de melhor se vem fazendo, em nosso Programa, em matéria
de crítica e teoria. Cada um deles corresponde a uma etapa diversa
de um processo que ganhará, no seu devido tempo, a forma de uma
tese, de uma dissertação de mestrado. Trabalhos em vias de, que
despertam interesse precisamente por isso, pois apostam na força
da reflexão estética, ao contrário da voz corrente, inclusive
dentro da universidade, que só enxerga nesse tipo de intervenção
diletantismo, desperdício ou mesmo perda de tempo.
Vindas
de todos os lados, como que apanhadas no ar por várias mãos, as
questões que atravessam os números 3 e 4 Revista Garrafa (dois
em um) são formuladas ao sabor de preferências teóricas variadas,
com base nas quais os autores enfrentam desafios, alguns bem cabeludos,
aos quais se lançam apaixonadamente, revelando insuspeita simpatia
por seus objetos, a ponto de se poder dizer que o gesto de se
chegar até eles, justificá-los, defendê-los é tão importante quanto
as soluções propostas. A vitalidade da reflexão teórica enfeixada
em cada um dos artigos pode ser medida também pelo alcance das
abordagens e pelo compromisso com a interdisciplinaridade, o que,
à primeira vista, pode até atordoar, devido a um cem número de
gestos, estocadas, posições, que a um leitor atento não escapará
um certo valor, uma certa herança intelectual de que (já me incluindo)
não abrimos mão.
Sabemos,
por força e graça de ofício, que a arte _ essa “forma enfática
da verdade” (Adorno) _ e seu conhecimento exigem esforço, seriedade
e ... concentração. Aquela concentração de que falava o mesmo
Adorno, a propósito da regressão imposta pelo progresso da sociedade
da mercadoria. Às vezes, a arte choca; em outros casos, provoca
perplexidade; mas via de regra seus melhores resultados são experimentados
com satisfação e _ por que não _ alegria. É bem verdade que essa
alegria costuma entrar pela porta dos fundos, ao menos foi assim
com boa parte da melhor arte moderna, brasileira e estrangeira,
muito bem freqüentada por nossos alunos, como o leitor poderá
comprovar. O juízo da obra, seja dito, não é monopólio ou exclusividade
do artista, que inventa (sim!) uma forma, sob a qual, no entanto,
outra costuma operar independentemente de sua vontade. O trabalho
de decifração demanda o crítico, aquele que, para falar com o
jovem Lukács, nas formas entrevê o destino.
Terão
os trabalhos aqui reunidos os desdobramentos que deles esperamos?
O tempo _ que ensina o exercício do vôo mas também os riscos da
altura _ nos dirá. O certo é que o empenho em buscar respostas
numa época que se apressa em desautorizá-las já é um indício de
que (me incluindo de novo) não desaprendemos a esperança; de que
combatemos com as armas que julgamos justas e adequadas. Enfim,
para quem leia com atenção redobrada não faltarão inquietações,
perplexidades, apostas em trânsito; não faltarão também dúvidas
e indecisões, que pipocam, aqui e ali, sob a proteção dos conceitos,
das imagens, das metáforas, normais em trabalhos desse natureza.
São, portanto, posições bem contemporâneas, que, por conta disso
mesmo, têm lá seus riscos.
Nossos
agradecimentos a José Ciro Nogueira pela padronização dos textos
para publicação eletrônica.
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