EDIÇÃO No. 8 - Janeiro-Abril 2006

Outras Edições: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10


Ana Paula Nascimento de Souza
O lugar das relações interpessoais na contemporaneidade: breve análise de líricas de Zeca Baleiro e Lenine

André Vinícius Pessoa
João Fulano ou Quantidades: O Cancionista do Sertão

Anna Paula Lemos
O Apolíneo e o Dionisíaco na Dança Contemporânea - Quando as forças da natureza se encontram em Isadora Duncan

Antonella Flávia Catinari
Correspondência na Barca: cartas trocadas entre Monteiro Lobato & Lima Barreto

Antônio Máximo
Vigência do Trágico: A Saga Edipiana

Cristiane Sampaio
Linguagem - um convite ao desamparo

Giovane da Silva Santos
O Adensamento Crítico e Irônico sobre o Ópio Alienador da Cultura de Massa no Filme Cronicamente Inviável de Sérgio Bianchi

Juliana Berlim
O Náufrago: A individualidade em colapso

Leila Miccolis
Os entre-lugares da arte e pensamento do Poeta da Crueldade, Glauco Mattoso,
com o Teatro da Crueldade de Antonin Artaud


Lina Arao
Carnavalização em História de Garombo, O Invisível, de Manuel Scorza

Luciana Souto
Algumas conclusões sobre os mascaramentos de Jean Lorrain e Guy de Maupassant

Maria Beatriz Albernaz
A Desgarrada, ou de como o poético pode estar no educativo

Maria José Ladeira Garcia
As Águas de Mnemósine em À Procura dos Motivos, de Oswaldo França Júnior

Maria Luiza Franco Busse
A arte da entrevista: o jornalismo no interstício do texto de Edgar A. Poe

Mauro Cézar de Souza Júnior
O Chamado Selvagem da Sobrenatureza: Leonardo Fróes e Gary Snyder

Mônica Amim
Babylon: A Cocanha Pós-Moderna de Zeca Baleiro

Stella Ferreira
A Rebeldia do Corpus Wildiano

Wellington Augusto
Álvaro de Campos: a moderna crítica da Modernidade

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APRESENTAÇÃO

Partindo da literatura, o objetivo do evento Entre-lugares: Arte e Pensamento foi tanto pensar a arte enquanto um entre-lugar como os infinitos entre-lugares que se podem realizar nos esbarros da literatura com outras artes e modos do pensamento, seja a pintura, a música, o teatro, a performance, a filosofia, a psicanálise etc. Através destas interfaces entre a literatura e seus pares, buscou-se um diálogo interdisciplinar que fizesse circular o pensamento.

A raridade de eventos que favoreçam a exposição de teorias sobre a literatura e a arte em suas diversas modalidades tornou este colóquio uma experiência de grande interesse para a construção do conhecimento e o diálogo interdisciplinar no âmbito universitário. A presença de pesquisadores acadêmicos e artistas tornou o colóquio uma oportunidade única para tal diálogo à medida que permite o debate e a troca de experiências, ambos enriquecedores, para se aperfeiçoar o encaminhamento de pesquisas acadêmicas e incentivar novas formas do pensar. O formato do evento ligou-se a um conceito longamente defendido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura de que os estudos na área de literatura, no que se refere à teoria, ao comparatismo e à hermenêutica, tendem a ampliar seu escopo reflexivo por meio das múltiplas visões de sujeitos que se relacionam com a arte de modos diferentes. Assim, um evento como este, além de proporcionar ganhos significativos no campo da pesquisa científica, dinamiza a interação entre o corpo discente e o conhecimento elaborado a partir da interface do campo acadêmico e artístico.

Em tudo o que se encontra de antemão legislado e eticamente pré-determinado, as pessoas se reconhecem, habitualmente, como territorializadas, centralizadas, classificadas, enfim, tópicas, assentindo em se tornarem passíveis de uma repetição infindável do que já fora experimentado por muitos. Poder-se-ia dizer que o que se divulga pela arte é a intensidade do encontro de um não-lugar com todo e qualquer lugar, que passa a deslizar, perder-se em uma experiência constantemente renovada. A arte torna todos os lugares permeáveis a um não-lugar onde qualquer fixidez se desassenta, se desloca, se desterritorializa, se desnorteia, se desorienta, para dar luz a novas imagens deste desterro. A partir de sua exclamação, ela é capaz de mostrar, no previsível, o imprevisível que o transpassa, no habitual, o inabitual que o risca, no sólito, o insólito que o compõe, no contínuo, o descontínuo do qual ele é apenas um rosto... Neste jogo tensivo entre o lugar e o não-lugar, pode-se dizer que, híbrida, a arte é um entre-lugar.

Tais deslimites da arte necessitam dos limites previamente estabelecidos: para superar a relação sujeito-objeto, precisa-se de um e de outro, para transitar por um entre verso e prosa, precisa-se de um e de outro, para flagrar possibilidades entre o filosófico e o banal, precisa-se de um e de outro... Neste entre-lugar, que utiliza as imagens dadas pelo que está à sua volta para, através delas, deixar ser deflagrada a força que tudo passa a controlar, descontrolando o prévio controle estabelecido e consensual, tudo está submetido à ininterrupta força de criação.

É este elogio pensado à arte, à criação, que os textos deste número da Revista Garrafa buscam realizar. Todos os ensaios aqui presentes são oriundos das apresentações discentes efetuadas no evento Entre-lugares: Arte e Pensamento, constituindo-se assim como o lado escrito daquilo que, um dia, foi oral. Estar à altura da arte realizada neste país é o desafio maior que qualquer pensamento teórico exercido no Brasil deve enfrentar – certamente, esta foi a requisição enfrentada por todos aqueles que se aventuraram em tal caminho.


Alberto Pucheu