Álvaro de Campos: a moderna crítica da Modernidade

Wellington Augusto da Silva

Mestrando em Teoria Literária – UFRJ

 

 

Autor dos famosos Tabacaria, Lisbon Revisited e Poema em Linha Reta, entre outros, o poeta-engenheiro Álvaro de Campos é, dentre os outros famosos heterônimos pessoanos, o mais ancorado nas mudanças tecnológicas do séc. XX. Ligando-se à estética de vanguarda futurista, em sua poesia, é possível perceber as transformações do espaço social bem como o desenvolvimento da tecnologia. Escrita no berço do capitalismo, mas naquela prima pobre do grande Capital europeu, Álvaro de Campos, é o que pretendemos demonstrar, um crítico mordaz da modernidade e suas conseqüências.

            A linguagem e a temática tomadas do cotidiano e o projeto de união Arte x Vida caracterizam fortemente parte da produção lírica de Álvaro de Campos. Cremos que uma das marcas diferenciais deste vigoroso poeta português seja, entre outras, a crítica à sociedade burguesa bem como a percepção das mazelas de seu tempo, que permanecem ainda atuais, no alvorecer do séc. XXI. Enraizado profundamente em sua época e sabedor das dores, sentimentos do Homem moderno, capaz de versos como: “Ajo a ferro e velocidade, vaivém, loucura, raiva contida” (Passagem das Horas) ou de perguntar “Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?(...) Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?” (Poema em Linha Reta), Álvaro de Campos é dignamente considerado um expoente da renovação modernista na literatura universal.

            Importante atentar também que em Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa, o sujeito poético anuncia-se como um arguto observador, atento aos detalhes da ponta pobre da sociedade portuguesa do início do séc. XX (mas por extensão a toda sociedade burguesa) e que, a partir dela, tece comentários relativos à condição humana. Neste ponto, é fundamental observar o parentesco artístico com o poeta Cesário Verde, a quem o próprio Campos considera seu mestre[1]. Poeta que no séc. XIX percebeu nos excluídos da modernização capitalista uma vertente poderosa para sua produção.

            A questão central exposta no poema inicia-se, atenta ao seu reverso e conclui-se na explosão racionalista do ser humano não adaptado aos valores sociais contemporâneos, inseridos na mesma estrutura social por ele criticada. Pedintes e vadios são os elementos comburentes da combustão poemática de Álvaro de Campos; é questionando-os espiritual e materialmente que o sujeito, marcadamente moderno, constrói seu jogo significativo para compreender a confusão subjetiva e objetiva da modernidade capitalista. O poema surpreende ao conjugar elementos vulgares e cultos, aqueles que merecem e os que não merecem sua simpatia, para iniciar o processo de comparação, que por sua vez desembocará na supremacia da Razão. Desde o seu primeiro verso, podemos comprovar o movimento deambulatório de mendicância do pedinte das ruas da Baixa, desencadeando em seguida a reflexão extremamente culta do sujeito que nos fala em Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa.

            É interessante notar que o poema trabalha no contrapelo do senso comum, na medida em que identifica a contradição dos elementos trabalhados: o que aparentemente não merece simpatia é o que lhe é conferido pela voz lírica; o profissional inserido nas relações sociais aparentemente produtivas é o miserável adaptado às normas da vida administrada[2]. A fotografia vista pelo seu negativo nos conduz ao questionamento central da vadiagem: o que é, na verdade, é o seu oposto.

A ação principal do poema é coincidentemente a sua primeira imagem. No encontro com o mendigo, (classicamente definido como o refugo das classes em decomposição com o advento do capitalismo, para lembrar Marx) o sujeito poético reconhece que este se alimenta de sua própria miséria, pois é pedinte por profissão sendo, inclusive, seu olhar instrumento de trabalho. Um dado interessante de ser notado é a transformação operada pela própria organização produtiva periférica a respeito do lumpesinato; este não é mais um “agente” social fadado ao desaparecimento com o avanço da técnica e da ciência, conseqüentemente da modernização de toda a sociedade, e sim um elemento estrutural, degradante e degradado, da paisagem moderna produzido pelo Capital periférico, conforme a História nos prova a cada dia.

A solidariedade com o emblema da miséria, entre o sujeito poético e o pedinte, se dá não em termos materiais, mas pela condição humanista que o primeiro desenvolve ao analisar o estado do segundo, expandindo sua reflexão, em poesia, a todo o conjunto da sociedade portuguesa de então.

O segundo verso desta estrofe, que nos anuncia o desmerecimento do mendigo quanto a simpatias não solidárias, é reflexo de uma tendência do sentimento burguês de esconder as mazelas da configuração objetiva da sociedade. Seus desdobramentos relativizam a condição humana e concretamente ignoram o fato de o pedinte ser, ele mesmo, um ser humano.

A partir deste momento, inicia-se uma investigação lírica muito potente que lança mão da justaposição de tipos sociais, com sutil sarcasmo, para os desmascarar quanto ao seu relativismo demagógico ao mesmo tempo em que à reflexão estética do sujeito poético o leva a duvidar de sua própria posição social.  A experiência do ser pedinte e vadio nos leva a um jogo de interessantíssimo movimento que transita do indivíduo inserido na ordem social, seja ela digna ou não, ao seu reverso, a mendicância. É lícito imaginar que a recusa à adaptação às “normas da vida” seja uma voz de protesto moderna em erupção contra a degradação dos valores humanistas mais elevados atingidos pela História da Civilização. A necessidade de recíproca quanto a simpatias da condição de sujeito burguês culto de nosso locutor é tamanha, e tão generosa, que oferece a esmola em um gesto largo, semelhante ao do reencontro de um ente querido distante ou de um amigo há muito não visto. O pedinte, que não se fez de rogado retribui a felicidade, quase sincera (porque tem os olhos treinados pela necessidade), simpatiza e recebe a ajuda como que a um abraço e um caloroso cumprimento, posto que: “Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele”. No entanto, é fundamental atentar que mesmo esta voz de recusa da relativização humana faz parte daquilo que nega; não nos esqueçamos que nosso mediador poético escarnece de seu momento de caridade, ainda que categórico nas suas afirmações de simpatia. Para isso, basta atentar ao tempo verbal, no qual dá absolutamente todo o seu dinheiro ao pedinte. Da algibeira de valores menores... Afinal: “não sou parvo” e “romantismo, sim, mas devagar...”.

O caráter fraturado do sujeito moderno devido à cisão radical proporcionada pelo capitalismo afirma que o ser humano, dado o alto padrão de exclusão e exploração, sobrevive não podendo viver plenamente, desenvolvendo suas potencialidades materiais e espirituais. Este sujeito poético é vadio não por ser um mendigo das esquinas das ruas, mas sim por fazer um questionamento radical da condição espiritual medíocre do sujeito alienado da modernidade e por não se harmonizar com seu termo antitético: “Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas/ Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas”.

Tal é a perspicácia do poeta em perceber as contradições, tanto estéticas como sociais que não faz apologia das classes alijadas pela modernização capitalista, pois empreende uma busca devastadora dos agentes servidores da ideologia do mercado, não conciliando com as origens dos tipos enumerados. A afirmativa se comprova muito claramente na leitura das justaposições das principais figuras sociais contidas na 5a estrofe, verso nono:

“Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,

Não ser pobre a valer, operário explorado,

Não ser doente de uma doença incurável,

Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,”

Uma observação importante de ser feita é a natureza das ocupações surgidas nesta estrofe. Somente pela reflexão estética o Juiz do Supremo estaria ao lado da prostituta, intermediado pelo empregado certo. De todo modo, a realidade objetiva de qualquer década capitalista se encarregaria de ladear o pobre a valer do operário explorado ou então, salvo a superação histórica da cavalaria, pelo seu aspecto monárquico, o sedento de justiça estaria bem próximo ao capitão desta armada. Não precisamos distanciarmo-nos muito do poema para saber quais são os nexos construídos entre a Arte e a Realidade; são os mesmos agentes sociais aqueles presentes nas novelas clássicas, aqueles que harmonizam as brutalidades da modernidade capitalista, ou seja, aqueles mesmos que compõem o público burguês que lê e são retratados nos altos romances europeus, ou europeizados.

A forma que subjaz aos versos é o Humanismo sendo reivindicado para a emancipação posto à margem da modernidade capitalista. Ao lado disso, faz-se necessário atentar que o sujeito poético é o mesmo que anuncia também a recusa pelo passado burguês clássico, que já não pode ser integralmente restituído no advento da Modernidade. Nesta hora, o indivíduo esclarecido reclama a elevada tradição humanista e voz lírica que nos guia por esta reflexão poética, certamente, é herdeira das tendências progressistas da arte moderna. A consciência avançada, histórica e esteticamente, proposta seria contrária àquelas que abandonam o ponto de vista que a Arte é reflexo mediado da realidade objetiva, pois “Nada de estéticas com coração: sou lúcido”. Quais seriam estas estéticas do coração? Quais seriam as matizes da lucidez deste sujeito? Dentre as muitas perguntas que derivam deste verso, acreditamos ser correta a afirmação da indispensável edificação para a Arte nos marcos da Humanidade e da vitória da racionalidade.

Refletindo sobre a lírica moderna, é significativo demonstrar que o bastante culto poeta-engenheiro é capaz de formular problemáticas e explicitar dúvidas através do seu mergulho radicalmente interior, que se alargam tanto quanto indivíduos componentes da humanidade. Compreendemos que esta investigação pode ser transformada esteticamente e captada como experiências universais da raça humana.[3] Não existem barreiras que limitem as teses expostas por Álvaro de Campos visto que a contradição fundamental encerrada no poema é a discrepância entre o tempo do sujeito humanista e o modo de produção da acumulação privada.

Os elementos objetivos e os subjetivos da ordem burguesa moderna valorizam e se alicerçam no fenômeno da reificação, cuja premência é a redução do desenvolvimento pleno do ser humano, a burocratização das relações humanas, tal como observadas pelo atual estágio da Humanidade. Por seu mergulho nas águas profundas do oceano da subjetividade, o poeta anuncia sua categoria de pedinte posto que é necessário “ter que pedir aos dias que passem,”para que, em seu espírito, a pressão provocada pela tutela do individualismo seja abreviada.

Interessante notar a reação formal às conseqüências ideológicas burguesas na vida cotidiana da sociedade. Neste quesito, o poema torna-se uma feroz arma por conjugar os elementos, que recusa, contra seus destinatários; a força interior amplia-se, pois se torna coletiva ao passo que mobiliza o sentimento de toda a História progressista. O sujeito apresenta-se como um emblema da Civilização frente aos desmandos típicos da vida burguesa. Já que um dos princípios da obra é sublevar-se à futilidade e à banalidade da rotina cultural moderna, o poeta o faz em profundidade não reconciliando nem harmoniza estes elementos. Campos identifica claramente a contradição, busca implacavelmente seus agentes, insufla a ira racional contra a mediocridade negando-os a possibilidade da compaixão dada a insignificância de sua existência. Não concebe a idéia de que estes possam ser os representantes da tradição racional acumulada pela humanidade, pois são eles:

“Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas

E se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso supor.

...............................................................................................................

Não: tudo menos ter razão!”

            Protegida pelo manto pesado da ideologia, a experiência do homem moderno é acobertada pela superficialidade e falta de valores profundos. O sujeito poético de Álvaro de Campos avacalha estes pedintes de capas de veludo que reivindicam para si o direito à revolta social sem o compromisso com a emancipação das camadas alijadas da totalidade da vivência social e educação estética. A equação dos três últimos versos destacados encontra seu ponto de equilíbrio na palavra razão, pela sua repetição e por suas diferentes significações.  Utilizada no segundo verso com significado próximo a pretexto, ensejo, motivo, é licito pensar em uma nova acepção, de razão como esclarecimento, próxima inclusive da Aufklaerung. O poeta é taxativo e fiel ao seu princípio de sensacionista: “Não: tudo menos ter razão!”, não admitindo a correspondência entre a sensibilidade e a racionalização.

Coerente com o princípio estético, Campos questiona-se sobre a validade da própria sensação como fundamental para o seu contato com o mundo exterior. Há que se notar o argucioso recurso da ironia, pois a recusa às atrocidades do mundo moderno se dá no uso irracional de uma suposta Razão esclarecida, que se atém unicamente ao compromisso do lucro. É válido retomar aqui alguns momentos da intensa discussão a respeito da dialética entre Razão e Arte. A difícil relação existente entre a possibilidade de conhecimento da realidade, em um mundo tomado pela objetividade e pela reificação, encontra equilíbrio no desenvolvimento artístico na sociedade administrada combinado ao seu processo de modernização. É bom lembrar que, de maneira nenhuma, a Arte é refúgio irracional do mundo racionalizado[4] e sim uma promessa de reconciliação futura do homem consigo mesmo.

            Os versos de Álvaro de Campos nos indicam um caminho interessante para pensar a crise da modernidade capitalista em um contexto periférico cuja ressonância é universal. As conseqüências de estar inserido nas relações materiais de produção e alijado formalmente delas são expostas aqui e com clareza, pois o antagonismo presente na sociedade de classe opõe quase cruamente, o vadio pedinte e o isolado em sua alma abissal, surdo pelas balbúrdias das multidões de seu interior. Com nitidez, Campos nos demonstra esteticamente que, para compreender o que ressoa no poema, é necessário calar-se para, em seu isolamento mais íntimo, ouvir a voz da Humanidade[5]. Se a “alma humana é um abismo”, nada mais legítimo, no silêncio do espírito, afirmar “Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!”.

            A partir da constatação da estupidez das pessoas sociais, o sujeito poético inicia um verdadeiro ato de contrição racional no qual revisita o episódio primeiro, agora potencializado pela reflexão acumulada nas estrofes anteriores. A ironia percebida na combinação advinda do verso “E estou-me rebolando numa grande caridade por mim” e o sentido translato do pedinte desencadeia toda a fala, estritamente individual, e  acolhedora da universalidade do discurso humano. A voz que se apresenta como antítese das estruturas sociais é cunhada pela solidão em meio à sociedade, mas também por portar a humanidade e a solidariedade, entidades hoje quase totalmente derrotadas pelo recrudescimento do capitalismo.

            A autenticidade das lágrimas é a chave invertida para se compreender a dimensão do humanismo evocado no poema cuja “promessa de reconciliação” ainda nos ressoa na estrofe seguinte: “Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa! / Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!” Um locutor que sente pena de si mesmo não pode ser modelo confiável posto que, neste dístico, é perceptível o apagamento do pesar lamurioso para o resplandecer da força lírica e racional, cuja proposta mais digna é a de compaixão pela Humanidade (vadia no capitalismo) do que indulgência, tanto para aqueles absorvidos pelas normas reais e sociais da vida como para os materialmente pedintes.

Uma das linhas de força do poema estudado é o primado da Razão, sendo este o arremate interpretativo que dissolve a leitura pessimista da suposta depressão, característica desta fase da obra do poeta. O estado de euforia proporcionado pelas outras fases da produção poética de Álvaro de Campos é, a nosso ver, alicerçado no uso da Razão como instrumento do progresso modernizador, em seus vários artefatos tecnológicos e desdobramentos subjetivos. Indissociada do legado do Iluminismo, a Razão proporcionaria a superação das dificuldades inerentes à sociedade de classes. Nesta viragem poética, o sujeito lírico compreende as vitórias da ordenação burguesa da sociedade de sua época cujo efeito sintomático, entre outros, é a sua própria condição marginal. No entanto, não descrê da Razão (tratada, em nossa leitura, por lucidez) para negar a configuração social na qual ele mesmo se insere; o protesto em tom de recusa é categórico. Qual depressivo seria tão explícito nas suas preferências a ponto de afirmar 3 vezes e exclamar sua opinião? A última estrofe do próprio poema pode ser prova do que argumentamos...

Por fim, o famoso Lisbon Revisited serve, resguardada a condição de citação e enxerto, de contra-golpe àqueles que crêem no eterno retorno da mercadoria e no triunfo sem fim da ideologia, insistindo em esmorecer a luta pela civilização: “Vão para o diabo sem mim”, exclama o poeta num convite sugestivo e acintoso. A danação do auge do capitalismo não precisa mais de reforços em seu exército, os que se recusam a segui-lo e acreditam na lucidez, sim.

 

Referências bibliográficas  

ADORNO, Theodor. Palestra sobre Lírica e Sociedade. In: Notas de Literatura I. São Paulo: 34 Letras, 2003.

BENJAMIN, Walter. O Narrador. In: Obras escolhidas. Magia e Técnica, Arte e Política. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BÜRGUER, Peter. O declínio da era moderna. Novos Estudos nº 20 – CEBRAP, 1988, pg. 89.

PESSOA, Fernando. Poemas/Fernando Pessoa; seleção e introdução de Cleonice Berardinelli. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

 

Agradeço muitíssimo as generosas opiniões e a leitura do professor André Bueno, do departamento de Ciência da Literatura e do professor Luis Maffei, doutorando em Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da UFRJ.


 

[1] Tal apontamento é claramente percebido nos versos “Das ruas ao cair da noite, ó Cesário Verde, ó Mestre,” de “Dois excertos de Odes (Fins de duas odes, naturalmente) II.

[2] Este conceito é aquele tomado de empréstimo das formulações de Theodor Adorno, encontrado vastamente em sua produção intelectual.

[3] Tomamos de empréstimo as opiniões de T. W. Adorno no que: “somente pouquíssimos homens, devido às pressões da sobrevivência, foi dado apreender o universal no mergulho em si mesmos”. Palestra sobre Lírica e Sociedade, pág. 76. In: Notas de Literatura I, SP: 34 Letras, 2003.

[4] Cf.: Bürger, Peter. O declínio da era moderna. Novos Estudos nº 20 – CEBRAP, 1988, pg. 89

[5] Esta formulação se encontra no artigo de “Palestra sobre Lírica e Sociedade” de T. Adorno.

  

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