Autobiografia e filosofia:

um olhar sobre a técnica cartesiana

 

Hudson dos Santos Barros (Mestre / UFRJ)

 

Em seu Discurso do Método, publicado pela primeira vez em 1637, Descartes escreve a história de sua busca pela certeza científica. Na obra em questão, ele apresenta sua insatisfação com os conhecimentos até então adquiridos e com a ineficácia dos ensinos para o esclarecimento de suas indagações. O pensador desconfia do que foi aprendido e considera muito pouco útil à vida o que estudou. Descarte declara que precisa encontrar seu método, adquirir um conhecimento claro e seguro e bem aplicá-lo. Por isso,  ele desafia a tradição, seus métodos e ensinamentos. Todavia, tal desafio só é válido na medida em que objetiva alcançar a uma verdade para fundamentar as proposições científicas.

Ao desafiar a tradição, mais do que construir argumentos para o fundamento do cogito, o filósofo francês apresenta a busca do saber como uma necessidade. Essa procura individual implica um construir-se, o reconhecer da realidade que escapa aos limites dos sentidos.  É a relação sujeito-saber em que a ratio se funda como ferramenta da verdade de um sujeito desejante de si mesmo como agente do conhecimento. Na filosofia cartesiana, o conhecimento exige a dedicação, o constante desafio às opiniões naturalmente aceitas, a disciplina, a vida. É por essa razão que não se deve reduzir Descartes a uma frase: penso, logo existo. Esta é integrante de uma processo de formação: é, exatamente, por isso que a autobiografia se justifica como escrita no Discurso do Método.

 A forma discursiva utilizada por Descartes é a narrativa autobiográfica. O Discurso do Método não é um tratado científico, tampouco um manual pedagógico: “Assim, o meu desígnio não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas apenas mostrar de que maneira me esforcei por conduzir a minha.”[1] Continua ainda: “Mas, não propondo este escrito senão como uma história, ou se o preferirdes, como uma fábula...”[2] O filósofo francês não visa a impor uma doutrina; ele declara sua intenção de mostrar sua insatisfação e os caminhos que percorreu para solucionar seus questionamentos. Para isso, ele conta a história de sua vida pessoal, da metafísica, da física e do método científico. Descartes deseja mostrar o método que ele escolheu, sua exposição não é um modelo, mas uma autobiografia intelectual: uma narrativa de eventos passados em que um indivíduo relata sua reforma nos hábitos de racionalizar e perceber o universo físico.

Conforme explica Romanowski[3], a narrativa seria uma forma de prevenir o leitor de uma decepção. A obra está à margem de um escrito sobre moral ou ciência, uma vez que não prescreve nada. A autobiografia torna-se uma maneira de enganar a ilusão, uma tentativa de chegar à verdade sem a pretensão de sucesso. Ao prevenir o leitor de que o método seguido não é um modelo, Descartes reconhece uma possibilidade de falha e, ao mesmo tempo, protege-se de qualquer culpa. O pensador não se considera como alguém iluminado, um indivíduo cuja razão está acima dos outros e em que as verdades são transmitidas por um ente superior.

Segundo argumenta Romanowski, a narrativa procura demonstrar a história de um indivíduo desejoso de evitar a ilusão. Para isso, eventos são escolhidos e organizados, a experiência pessoal é apresentada e serve de base para apresentar uma possibilidade de vitória sobre a incerteza. Duas técnicas narrativas são utilizadas: a representação (show ou faire voir) e a narração (tell). [4] A primeira técnica diz respeito a condução do processo narrativo. Descartes leva o leitor a uma participação da experiência do eu-narrador; o filósofo o faz acompanhar sua história passo a passo, mostrando suas indagações, receios, fatos significativos, proposições, enfim, sua vida. A segunda relaciona-se, principalmente, com o próprio fato de que há um reconhecimento do caráter narrativo do texto, uma consciência de que o filósofo é um narrador que relata uma série de eventos a um leitor.

No Discurso, a narração não é neutra. Há um objetivo por detrás da despretensiosa vontade de não se impor um método: fundamentar uma verdade segura. O texto conjuga a narração e o discurso direto, a narrativa e a proposição, a dúvida e a elaboração da verdade. A maior parte da narrativa é redigida no imperfeito; no primeiro capítulo, por exemplo, é narrada uma tomada de consciência, a juventude de Descartes e o período de descoberta de sua individualidade enquanto pensador. Esse uso verbal percorre grande parte da obra e alterna-se com a elaboração de proposições que visam a eliminar a incerteza e a ilusão. No quarto capítulo, por exemplo, a mudança do verbo para o presente indica um tom moralizador ao tratar da dificuldade dos homens em elevar seu espírito para além das coisas sensíveis e da fraqueza do gênero humano, “porque nós não somos de todo perfeitos.”[5] Essa alternância dos tempos verbais acaba por se tornar uma estratégia significativa. Descartes escreve sobre sua vida intelectual e a possibilidade da certeza científica. O pretérito revela a história do indivíduo e o presente sua resposta a essa história, resposta essa que culmina, segundo o filósofo, na apresentação de um conhecimento seguro, claro e evidente. A narrativa encobre aqui o real anseio e protege o seu narrador de qualquer compromisso em acertar.

Descartes escreve, principalmente, sobre a aquisição de uma autonomia. Ele conta sobre a importância de sair da sujeição de seus preceptores e do estudos das letras. O filósofo reconhece a validade dos seus estudos, assim como sua insuficiência. Reflete, além disso, sobre sua relação com a matemática, a teologia e a filosofia. “Comprazia-me, sobretudo com as matemáticas, por causa da certeza e da evidência de suas razões; mas não notava ainda seu verdadeiro emprego ...”[6] sobre a teologia diz que “...era necessário ter alguma extraordinária assistência do céu e ser mais do que homem.”[7] Em relação à filosofia, escreve que “nela não se encontra ainda uma só coisa sobre a qual não se dispute.”[8] Cabe observar que o que menos interessa nessa autobiografia é a narração da vida, mas sim a relação do indivíduo com o conhecimento e deste último com uma aplicação prática. A autonomia do filósofo é permanentemente enfatizada. Sair das sujeição dos seus preceptores e dos saberes da tradição é o primeiro passo. Na busca pelos fundamentos científicos, Descartes enfatiza que deseja empregar seu próprio esforço, suas forças, de modo a alcançar uma certeza da qual não pode duvidar. Pode-se verificar que na história de seu progresso intelectual há uma passagem do mundo para o indivíduo. Ou seja, a verdade é resultado de uma autonomia deste, de sua vontade, disciplina e raciocínios sistemáticos. A experiência da tradição é posta à parte para ceder lugar à força de uma subjetividade empenhada na conquista de um bem indubitável: o conhecimento seguro e verdadeiro. Assim escreve o pensador na segunda parte de seu Discurso: “...não há tanta perfeição nas obras compostas de várias peças, e feitas pela mão de diversos mestres, como naquelas em que um só trabalhou.”[9]

Para que essa autonomia se efetive, Descartes não realiza sobre si uma disciplina rígida sobre o corpo. A disciplina a ser imposta é sobre os juízos: “Nunca o meu intento foi ir além de procurar reformar meus próprios pensamentos, e construir um terreno que é todo meu.”[10] O pensador francês marca sua insatisfação com as proposições pouco sólidas, as inócuas disputas filosóficas e a inutilidade moral dos ensinamentos. De forma a tentar modificar essa fragilidade do saber, o filósofo empreende uma modificação sobre si. Todavia, Descartes não renuncia o “mundo”, fato esse que não implica o abandono da moral. No entanto, deve-se observar que a reforma proposta está ligada a uma reelaboração dos conceitos por meio de uma recusa das opiniões até então proferidas. Para tal, a ativação da dúvida é o primeiro passo: negar os princípios e apartar-se do caminho comum para procurar por si próprio; rejeitar opiniões dos outros e não se deixar entregar a confusão dos discursos que tentam se passar por verossímeis.

            Essa reforma intelectual possui como base quatro preceitos metódicos: “O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal...”[11] Continua ainda: “O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.”[12] Escreve também: “O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos...”[13] E, por fim: “E o ultimo, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.”[14]

Apoiado nos conhecimentos matemáticos, esses preceitos se complementam com o que Descartes chama de moral provisória. Esta é desenvolvida em toda a terceira parte Discurso do Método, e é fundamental para a compreensão da relação entre o exercício da razão e a aplicação da moral. Nessa terceira parte, Descartes expõe suas quatro máximas. A primeira refere-se a obediência às leis e aos costumes, ao seguimento da religião e à moderação. A segunda consiste na resolução em ser firme e decidido na busca por opiniões seguras. A terceira liga-se à decisão de vencer a si próprio, modificar os desejos a acreditar na segurança do pensamento e da vontade. A quarta relaciona-se ao emprego da vida no cultivo da razão.

            Pode-se observar um diálogo do pensador com a tradição grega e cristã no tocante ao emprego do esforço para o encontro da verdade. Por mais que sua ênfase não seja uma disciplina rígida sobre o corpo, como os estóicos e os pais da Igreja, Descartes reconhece a necessidade da moderação, do bom uso da razão e da obediência religiosa e cívica. Sua prática intelectual tem como apoio um vínculo das ações com a lei da Igreja católica e o país. Para que a atividade intelectual seja possível, torna-se necessário esse reconhecimento da posição indivíduo no mundo e um entendimento de si. Entretanto, esse olhar sobre si não está vinculado à renúncia. Em Santo Agostinho, por exemplo, esta é o ponto central para a otimização da razão e para o encontro da verdade. Para este, os prazeres (sobretudo, o sexual) são causa de confusão, por isso, devem ser combatidos pela vida em oração. A atenção de Agostinho está relacionada ao conflito. Ao contrário desse pensamento, Descartes focaliza o exercício do pensamento e suas possíveis barreiras. O excesso e os desejos devem ser controlados, porque podem atrapalhar a razão:

E, assim, sem viver  aparentemente, de forma diferente daqueles que, não tendo outro emprego senão passar uma vida doce e inocente, procuram separar os prazeres dos vícios, e que, para gozar de seus lazeres sem se aborrecer, usam todos os divertimentos que são honestos, não deixava de persistir em meu desígnio e de progredir no conhecimento da verdade, mais talvez do que se me limitasse a ler livros ou freqüentar homens de letras. [15]

 

            Percebe-se, nesse trecho, que Descartes não apresenta sua conduta como algo especial, diferenciador. Ele vive em meio à sociedade, obedecendo suas leis, vivendo os lazeres que lhe são permitidos. Ele não se considera um modelo, não associa seu desígnio em obter um conhecimento seguro com os conflitos do corpo gerado pelos desejos. Os “divertimentos honestos” não são um entrave para sua meta, tampouco para o exercício da razão. Entretanto, vale observar que essa tarefa demanda uma certa solidão e empenho pessoal que o destacam da sociedade. Esse é o trabalho de um homem, de um único arquiteto engajado na construção de juízos seguros. É na solidão de sua autonomia de sujeito pensante que o filósofo procura assegurar-se do caráter veritativo da realidade exterior e de si mesmo: a descoberta do mundo é também uma descoberta de si, isto é, de sua capacidade de intelectual e, consequentemente, de sua força volitiva.

            A reforma intelectual é o foco do filósofo: “E, ademais, continuava a exercitar-me no método que me prescrevera”[16] Nessa disciplina, é necessário atacar as ilusões dos sonhos, os equívocos, as dúvidas, a fragilidade dos sentidos. Para isso, há uma ativação radical da dúvida. É na quarta parte que Descartes enuncia “eu penso, logo existo”[17], única certeza segura que fundamenta a existência. Após o alcance dessa verdade, todo o restante é posto em dúvida. Não há mais corpo, nem mundo, somente um “eu” pensante, uma substância que consiste apenas no pensar e que, para ser, não necessita de nenhum lugar ou de algo material. O ser pensante é autônomo, é a evidência clara do real em si mesmo. É, principalmente, na afirmação da razão e da existência que Descartes ataca severamente a ilusão. Há nesse momento um reconhecimento de si, não somente o de uma faculdade específica (o pensar), mas de um indivíduo que racionaliza o mundo a sua volta e a si mesmo e, por meio dessa racionalização, toma decisões. Combater o engano, o erro, a ilusão é uma afirmação da realidade do sujeito e da validade de seus pensamentos. O sujeito é aquele que pensa e escolhe. Dessa forma, reformar o intelecto através do uso de um método é buscar a certeza do poder de seu livre-arbítrio.

Vale mencionar novamente que a narrativa é nesse texto uma estratégia para não levar o leitor ao erro, para não impor um dogma. Contudo, não há neutralidade, um descaso, uma simples intenção de narrar uma história. O filósofo quer conduzir o leitor a um reconhecimento da verdade; diferentemente de um tratado científico, em que há um consenso prévio de apresentação de uma certeza, o Discurso aparece como um escrito que admite poder fracassar em seu objetivo. Este não é um manual científico, tampouco um conjunto de exortações a uma moral. É um texto que explora as potencialidades da narração e da autobiografia aplicando-as a uma função já explorada por Santo Agostinho em suas Confissões: a descoberta da verdade. Acaba por tornar a autobiografia uma técnica a serviço não somente do sujeito e da própria narrativa, mas da ciência e também da metafísica, uma vez que há também uma discussão importante sobre a existência de Deus.[18] Contudo, tudo se passa no plano da razão. Ao contrário das Confissões, não há a experiência espiritual do indivíduo e uma luta contra o pecado. Descartes admite a fraqueza humana, mas não põe sua atenção sobre o combate da carne. A razão é a essência do ser, sua força é soberana e pode comandar tudo. O que está em jogo é a validade dessa força, sua fidedignidade e relação com a realidade exterior. Enfim, nessa escrita de si, o tema do livre-arbítrio torna a autobiografia uma ferramenta para afirmação da existência.

É por isso que se pode dizer que a filosofia cartesiana é caracterizada pela busca de si. Esta parte de uma necessidade de superação; tanto da tradição de quem herdara os conhecimentos quanto da capacidade de ação pelo pensamento. No percurso da construção do saber, o processo de reforma dos juízos é parte de uma afirmação e confirmação de uma meta de vida. aos narrar seus questionamentos, suas desilusões e perspectivas, Descartes desafia-se, desafia o que até então aprendera e submete o saber a possibilidade de fundar-se como verdade universal. Essa meta, ou melhor, caminhada epistemológica não visa a impor um método único, mas por em discussão ou em asserção de que a ratio pode estabelecer limites entre o certo e o errado, ter algumas certezas sobre o indivíduo e sobre o mundo a sua volta. É a procura que põe em jogo a própria existência enquanto ação do pensamento, enquanto escolha.

É no jogo narrativo que esse caminhar se produz e se afirma. Ao escrever sua trajetória intelectual, Descartes traz à luz no Discurso que a produção do conhecimento vincula-se ao modo como este é elaborado na escrita. Ao incorporar a narrativa autobiográfica na construção do seu pensamento, além de tornar públicas suas inquietações epistemológicas, o filósofo francês apresenta a produção do conhecimento como téchnē, isto é, como arte, como técnica que evidencia a construção e se projeta como arte narrativa. Tal afirmação não implica atribuir uma literariedade ao texto cartesiano, mas mostrar que  a escrita do Discurso impõe-se como saber por meio de um artifício retórico poderoso: na despretensão de cientificidade, por meio de uma linguagem não formal, na exposição de uma história de vida, o filósofo  marca sua presença e autenticidade na cultura ocidental.

Descartes anuncia a verdade universal do ser através de uma técnica que visa a escapar da ilusão, do erro. Sua história objetiva demonstrar uma seqüência argumentativa. Mas a téchnē não deve ser entendida como um artifício para enganar o leitor. Ela é a evidência, a evidenciação de que o saber se move não apenas nas sinuosidades do “o que”, mas, principalmente, no domínio do “como”.  Nesse sentido, a téchnē cartesiana afirma a verdade da razão como possibilidade de escrita. A verdade não estaria vinculada somente ao discurso científico. Ela expande-se nos meandros da linguagem, nos artifícios diversos em que a escrita se permite realizar. É nos infinitos entre-lugares que a linguagem articula a certeza. Se é precipitado dizer que Descartes  pretendeu teorizar as múltiplas retóricas da escrita, é evidente que seu texto nos provoca às reflexões anteriormente mencionadas e nos faz trilhar além do que é geralmente dito da filosofia cartesiana. Esta se resume a uma frase?
 

Referências:

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. Petrópolis: Vozes, 2002.
CHANTRAINE, Pierre. Dictionnaire étymologique de la langue grecque: histoire des mots. Paris: Éditions Klincksieck, 1984.
DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
GILSON, Etienne. Études sur le rôle da la pensée médievale dans la formation du système cartesien. Paris: Librarie Philosophique J. Vrin, 1930.
ISIDRO PEREIRA, S.J. Dicionário grego-português e português-grego. 8.ed. Braga: Livraria Apostolado da Imprensa, 1998.
ROMANOWSKI, Silvie. L’illusion chez Descartes: la strucuture du discours cartésien. Paris: Éditions Klincksieck, 1974.

 


 

[1] DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996. I,  p.66.

[2] Id. 

[3] ROMANOWSKI, Silvie. L’illusion chez Descartes: la strucuture du discours cartésien. Paris: Éditions Klincksieck, 1974. p.111 et seq.

[4] TODOROV, Tzevetan. Le catégorie du récit littéraire. In: Communications, VIII, 1966, p.143-144, citado por ROMANOWSKI, op. cit., p.112. 

[5] DESCARTES, op. cit., IV, p.96.

[6] DESCARTES, op. cit., I, p.69.

[7] Id.

[8] Ibid., I, p.70.

[9] Ibid., II, p.73.

[10] Ibid., II, p. 75.

[11] Ibid., II, p.78.

[12] Id.

[13] Id.

[14] Ibid., II, p.79.

[15] Ibid., III, p.88.

[16] Id.

[17] Ibid., IV, p.92.

[18] Ibid., IV, p.95.
 

 

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