EDIÇÃO No. 4 - Setembro-Dezembro 2004

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ISSN 1809-2586   


 

   

APRESENTACÃO

- Dois em Um -

Luís Alberto Alves
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura UFRJ

A Revista Garrafa vem mantendo seu compromisso originário de fazer escoar, preferencialmente, a produção de nosso corpo discente, que de outro modo enfrentaria obstáculos bem reais _ e por nós já conhecidos _ , que tendem a empurrar para a sombra a pesquisa universitária.

O conjunto de artigos que o leitor terá à disposição é representativo do que de melhor se vem fazendo, em nosso Programa, em matéria de crítica e teoria. Cada um deles corresponde a uma etapa diversa de um processo que ganhará, no seu devido tempo, a forma de uma tese, de uma dissertação de mestrado. Trabalhos em vias de, que despertam interesse precisamente por isso, pois apostam na força da reflexão estética, ao contrário da voz corrente, inclusive dentro da universidade, que só enxerga nesse tipo de intervenção diletantismo, desperdício ou mesmo perda de tempo.

Vindas de todos os lados, como que apanhadas no ar por várias mãos, as questões que atravessam os números 3 e 4 Revista Garrafa (dois em um) são formuladas ao sabor de preferências teóricas variadas, com base nas quais os autores enfrentam desafios, alguns bem cabeludos, aos quais se lançam apaixonadamente, revelando insuspeita simpatia por seus objetos, a ponto de se poder dizer que o gesto de se chegar até eles, justificá-los, defendê-los é tão importante quanto as soluções propostas. A vitalidade da reflexão teórica enfeixada em cada um dos artigos pode ser medida também pelo alcance das abordagens e pelo compromisso com a interdisciplinaridade, o que, à primeira vista, pode até atordoar, devido a um cem número de gestos, estocadas, posições, que a um leitor atento não escapará um certo valor, uma certa herança intelectual de que (já me incluindo) não abrimos mão.

Sabemos, por força e graça de ofício, que a arte _ essa “forma enfática da verdade” (Adorno) _ e seu conhecimento exigem esforço, seriedade e ... concentração. Aquela concentração de que falava o mesmo Adorno, a propósito da regressão imposta pelo progresso da sociedade da mercadoria. Às vezes, a arte choca; em outros casos, provoca perplexidade; mas via de regra seus melhores resultados são experimentados com satisfação e _ por que não _ alegria. É bem verdade que essa alegria costuma entrar pela porta dos fundos, ao menos foi assim com boa parte da melhor arte moderna, brasileira e estrangeira, muito bem freqüentada por nossos alunos, como o leitor poderá comprovar. O juízo da obra, seja dito, não é monopólio ou exclusividade do artista, que inventa (sim!) uma forma, sob a qual, no entanto, outra costuma operar independentemente de sua vontade. O trabalho de decifração demanda o crítico, aquele que, para falar com o jovem Lukács, nas formas entrevê o destino.

Terão os trabalhos aqui reunidos os desdobramentos que deles esperamos? O tempo _ que ensina o exercício do vôo mas também os riscos da altura _ nos dirá. O certo é que o empenho em buscar respostas numa época que se apressa em desautorizá-las já é um indício de que (me incluindo de novo) não desaprendemos a esperança; de que combatemos com as armas que julgamos justas e adequadas. Enfim, para quem leia com atenção redobrada não faltarão inquietações, perplexidades, apostas em trânsito; não faltarão também dúvidas e indecisões, que pipocam, aqui e ali, sob a proteção dos conceitos, das imagens, das metáforas, normais em trabalhos desse natureza. São, portanto, posições bem contemporâneas, que, por conta disso mesmo, têm lá seus riscos.

Nossos agradecimentos a José Ciro Nogueira pela padronização dos textos para publicação eletrônica.