Pierre Guisan *
C’est balbutier et craindre que quelque chose ne s’échappe.
(...) l’écriture est l’offrande d’un balbutiement.
Marina Tsvetaeva
Este artigo visa apenas a desfazer alguns preconceitos, reflexos e idéias prontas que o senso comum costuma entrelaçar, apesar dos dados que disciplinas como a história, a antropologia ou a lingüística, ao se darem a mão, invalidaram de forma indiscutível... Será? Pois bem, pelo menos, com os lembretes sintéticos que seguem, a discussão estará aberta.
O senso comum, ao falar de “língua escrita” e de “língua oral”, parece tratar de duas modalidades de um mesmo sistema. Na verdade, essas expressões ocultam o fato de a escrita e a língua constituírem dois sistemas diferentes, tanto de um ponto de vista histórico, como sob a perspectiva da sua funcionalidade. Obviamente, numerosos vínculos ligam esses dois sistemas, o que, entre outras funções, permite que a escrita possa ser utilizada como transcrição da língua oral, embora isso constitua apenas um dos papéis preenchidos pela escrita. Pretendemos mostrar aqui que a escrita pode não constituir necessariamente uma língua, e foi assim que historicamente o grafismo surgiu, segundo as evidências arqueológicas das quais dispomos hoje em dia. Houve depois, em diferentes épocas segundo as sociedades, uma revolução, quando se descobriu que um sistema gráfico podia também representar a língua.
Evidentemente, os tipos de relações entre esses dois sistemas terão conseqüências importantes sobre a leitura, sobre o que constitui tal processo, e sobre a sua aprendizagem.
Portanto, surge uma falsa evidência: a da visão da escrita como sendo mera reprodução gráfica da língua. Além do mais, definir o que seria exatamente uma língua revela-se bastante complexo de um ponto de vista estritamente lingüístico. Não voltaremos aqui às distinções entre línguas, dialetos, variantes, mas tudo indica que o conceito de língua como objeto étnico-cultural (por exemplo, a língua portuguesa, o chinês, o latim ou o irlandês), parece ser o resultado de uma convenção muito mais socio-histórica, do que propriamente uma delimitação objetiva e lingüística. Vale lembrar aqui que as línguas neolatinas ganharam nomes próprios somente a partir do fim da Idade Média, sendo vistas antes como meros patuás, os “romances”[*][†]. Desta forma, seria chamada de língua qualquer sistema lingüístico ao qual determinada comunidade humana atribui este nome, o que constitui uma rotulação, mas não exatamente uma definição[‡].
O que nos parece importante aqui é frisar que nossa visão da língua já é conseqüência do nosso letramento. Em outros termos, as formas da escrita refletem, ou melhor, moldam a visão que os falantes têm da sua língua – e, mais geralmente, moldam as relações que os indivíduos mantêm com a sua sociedade. Um exemplo: o conceito de “palavra” é extremamente difícil de se definir num nível meramente lingüístico – prefere-se falar de morfema independente, por exemplo – e acaba-se sempre recorrendo à noção tipográfica de segmento gráfico separado por um espaço... Entretanto, todos nós tendemos a pensar que uma língua é constituída de palavras, enquanto, de fato, elas são elementos constitutivos do texto escrito[§].
Assim sendo, a leitura nas diferentes sociedades humanas torna-se também uma história das representações da linguagem (ou das línguas). Com isso, não nos atrevemos a dizer que, sem a escrita, não haveria representação da língua, etapa que alguns autores não hesitam em ultrapassar, a ponto de afirmar que a própria razão silógica (baseada no silogismo) é conseqüência da invenção do alfabeto[**]. De nossa parte, acreditamos que as sociedades ágrafas[††] lançam mão de outros recursos que preenchem as funções que a escrita desenvolve na área cognitiva. Logo, sustentamos apenas que a escrita contribui para a nossa visão da língua, isto é, para o nosso conhecimento epilingüístico.
Os suportes da escrita
Chamamos aqui de suporte o material utilizado para garantir a permanência da mensagem que se quer conservar, já que em última análise é isso que distingue a escrita da fala: figuras de barro, nós de lã, tabuletas de barro ou de cera, rolos de papiro ou de pergaminho, codices, livro impresso, tela de computador. Lista certamente não exaustiva, porém representativa das etapas sucessivas pelas quais a comunicação entre os homens pôde ser fixada. Portanto, o caráter principal do suporte é assegurar a permanência da mensagem, ao contrário da voz que, até época recente, voava como diziam os romanos.
As evidências trazidas pela arqueologia na Mesopotâmia indicam que os primeiros documentos tinham por função selar contratos de compra e venda, estabelecer cadastro fundiário, contabilizar terras, safras e rebanhos para fins de imposto, e enfim, codificar leis e costumes. Essas funções aparecem na História mais ou menos nesta ordem. Mais do que propriamente comunicativo, o objetivo dos documentos era antes de tudo mnemônico: tratava-se de conservar provas, para utilização posterior. A função literária[‡‡] da escrita, portanto, aparece bem mais tarde, como “sub-produto”.
Os artefatos que constituem os primeiros documentos demonstram claramente que não havia nenhuma intenção de transcrever a língua; os documentos não podiam constituir representações da língua, nem da fala. Foram descobertos invólucros de barro fechados contendo pequenas representações de animais. Também foram encontrados invólucros de terracota, que constituem representações e atestados de bens pecuários, objetos concretizando contratos ou cadastros. Tais artefatos caminhariam para uma forma mais próxima daquilo que chamamos de escrita, quando a parte externa dos invólucros cobre-se de símbolos que retratam os animais que o recipiente contém. Daí a gravar os mesmos signos icônicos numa tabuleta, dispensando assim as mini-estatuetas de animais, só havia um passo.
Podemos reconstituir as lentas mudanças que levaram da representação icônica do referente – assim como as práticas mágicas o fazem – para as etapas da escrita, que vai se fixar na “tabularidade” (bidimensional), depois de ter passado por uma fase tridimensional (a das estatuetas contidas no invólucro de terracota). Temos que frisar aqui que essas formas de escrita são representações de um referente (objeto, contrato, cadastro), e não de um discurso ou de uma fala; assim como a fala pode vir a ser uma representação (fônica) de um referente. A fala ou um grafismo podem representar o mesmo referente, mas o grafismo nunca representa diretamente um discurso.
Assim surge a leitura: linear, disposta numa tabuleta, logo, bidimensional. Para textos mais compridos, a partir de um suporte material menos frágil do que o barro, que será o papiro ou o pergaminho, será inventado o rolo, que permite armazenar textos de grande dimensões num espaço reduzido. Nesta etapa, a leitura continuava sendo um processo essencialmente linear, como ainda ocorre quando da leitura de um poema ou de uma narrativa.
Entretanto, havia casos em que a leitura não era linear; por exemplo, quando se consultava um texto procurando por uma informação específica, como uma receita de cozinha, uma lei específica, ou uma solução a um problema existencial na Bíblia. Nesses casos, o rolo se torna absolutamente inadequado, já que ele não permite o “folhear”. Foi assim que o “volumen” (o rolo dos romanos) foi substituído pelo “codex” – que em particular era usado para os códigos civil e penal, mas também para a Bíblia dos cristãos, que viria a substituir a torá dos judeus. Podemos assim supor que a adoção do cristianismo como religião oficial do Império foi uma das causas da substituição paulatina, porém generalizada, dos “volumina” pelos “codices”, ou seja, dos rolos pelos livros.
Tal mudança constitui uma revolução que tem conseqüência no próprio processo da leitura, quebrando a sua linearidade[§§]. Ao longo dessa revolução lenta – oxímoro que aqui se justifica – ocorreram outras mudanças, que, porém, dizem respeito mais à própria escrita do que ao seu suporte, como a “invenção” da palavra, ou seja, do espaço entre as palavras, ou ainda da pontuação. E, sobretudo, generaliza-se a leitura silenciosa, primeiramente privilégio dos profissionais da escrita, que praticavam muito a leitura de consulta. A leitura silenciosa generalizada acelera o ritmo da leitura e permite a quebra freqüente da linearidade do processo.
É claro que a etapa seguinte do livro impresso, barateando o custo do suporte e fazendo dele uma mercadoria, vai dar um impulso decisivo na generalização da leitura silenciosa e, sobretudo, individual. Antes a leitura era um ritual geralmente coletivo, em que um leitor atuava frente a um público de ouvintes. Aparece até um novo gênero literário, “egoísta” por excelência, a narrativa escrita em romance, ou, de forma abreviada, o romance, pelo qual o leitor se isola do mundo real, transportado para o mundo da ficção.
A última revolução nos suportes da escrita se dá com o advento da era dos computadores. Curiosamente, no que diz respeito à leitura com esse tipo de suporte, isto é, a tela do monitor, parece haver ao mesmo tempo um grau suplementar de liberdade, graças à possibilidade do hipertexto, e um retrocesso, já que voltamos a era do volumen. Como o texto se desenrola para frente ou para trás, ele não oferece a possibilidade de se folheá-lo rapidamente para efetuar uma avaliação global primeira. Essa rigidez do suporte, aliás, é objeto de pesquisas da parte dos fabricantes de computadores, que já pensam numa forma mais “mole” de interface de leitura.
As formas da escrita
A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu, voyelles,
Arthur Rimbaud
Desde Jean-Jacques Rousseau e Condillac, considera-se habitualmente que há uma progressão regular a partir das inscrições icônicas, passando por sistemas ideográficos e logográficos, fonográficos, silabários, até os alfabetos, que constituiriam o grau mais acabado e perfeito de escrita. Obviamente convém rever tal visão, que parece marcada pelo eurocentrismo, que, aliás, caracteriza a maioria das ciências.
De fato, no que diz respeito ao arco mediterrâneo, parece estabelecido que o alfabeto emergiu a partir da transformação de signos icônicos, ou pictogramas, que representavam objetos, ou simbolizavam palavras, em signos representando sons (sílabas ou fonemas), como aleph / alif / alfa, o boi[***], que passa a representar não o animal, mas o som inicial da palavra que o designa. Assim é que se deve entender a origem do alfabeto (ou silabário?) fenício, do qual derivam os alfabetos grego ou latino, entre outros[†††]. Foi, sem dúvida, uma grande revolução, ainda mais quando se pensa que ela vincula definitivamente a escrita à língua, ou melhor, aos sons da língua[‡‡‡].
Esta mesma revolução ocorreu com uma outra “família” de escritas: as escritas cuneiformes. Com efeito, o sumeriano, por exemplo, usava uma escrita cuneiforme de pictogramas, em que cada grupo de “cunhas” representava uma palavra. Já os acadianos, que viviam na mesma região da Mesopotâmia, usavam uma escrita cuneiforme muito mais complexa, por introduzir correspondências fonéticas silábicas. Enfim, a escrita ugarítica, sempre cuneiforme, é um verdadeiro alfabeto, em que os grupos de cunhas representam consoantes ou vogais.
Entretanto, tal evolução de pictogramas para ideogramas e no final para “letras”, não representa um caminho obrigatório das formas da escrita, como o demonstram outras civilizações, como a chinesa, por exemplo. Determinados autores, em particular E. Havelock, como já dissemos, relacionam, a partir do exemplo dos gregos, o aparecimento do alfabeto com o surgimento do silogismo, da lógica e da filosofia. Essa relação mecânica entre escrita e pensamento humano se contradiz com numerosos contra-exemplos – a filosofia chinesa, para começar –, e desconhece a complexidade e a sofisticação de muitas sociedades ágrafas. Entretanto, o fato que nos parece aqui o mais importante é a maneira pela qual a escrita, como já afirmamos acima, molda a nossa visão da língua.
Os níveis da leitura
Neste momento temos que parar para pensar sobre alguns aspectos do próprio processo da leitura. Temos que distinguir vários níveis naquilo que chamamos de “leitura”. Lembramos aqui o caso famoso do poeta inglês Milton que, tendo se tornado cego, mandava as filhas lerem em voz alta Homero, em grego; o detalhe é que as filhas não sabiam nada de grego, apenas conheciam o alfabeto, de modo que soletravam os versos da Odisséia. É claro que a prosódia das moças devia deixar muito a desejar, mas assim mesmo, esse texto mal-tratado era reconstruído pelo Milton. Perguntamos: quem era o leitor, nesse caso? As decifradoras do código gráfico? Ou o ouvinte intérprete que compreendia o texto? O bom senso manda responder que cada um dividia uma parte das operações que compõem a totalidade do processo da leitura. Entretanto, temos que frisar que isso não significa que cada operação seja absolutamente necessária; pelo contrário, afirmamos que a etapa do soletramento deve, em geral, ser dispensada pelo leitor experiente.
O processo da leitura obedece a um princípio de economia análogo ao da dupla (tripla, até) articulação da língua. Sabe-se que funciona na base da memória funcional (ou memória curta), que “salva” na média 7 elementos (entre 5 e 9, na realidade), de modo que cada novo elemento que surge além deste número será memorizado em detrimento de outro que será expulso da memória-intermediária, ou seja, do “buffer”. Se o ato da leitura se mantivesse no nível do soletrar, seria simplesmente impossível chegar ao nível da compreensão textual, já que o leitor nem lembraria da palavra que acabaria de ler.
Uma vez identificado o grupo de letras como “palavra”, esta última unidade composta se torna um elemento que vai se agregar aos outros grupos de letras identificados como palavra, por sua vez. O processo continua assim, identificando unidades superiores, passando das letras às palavras, das palavras às orações, aos grupos textuais. O leitor experimentado poderá dispensar a primeira etapa, a do soletramento, já que vai reconhecer as palavras imediatamente pelas “fisionomias” conhecidas. Ele pode até reconhecer, ou antecipar frases inteiras. As teorias do letramento já deram conta dos procedimentos adotados pelos leitores, e de suas conseqüências para a aprendizagem da leitura.
Queremos, entretanto, aproveitar a oportunidade para desfazer o que nos parece um erro quando se estabelece uma distinção entre as escritas tradicionalmente tidas como alfabéticas, e as ditas ideogramáticas, ou lexogramáticas. Tal distinção se justifica do ponto de vista histórico, pelo menos na região do Mediterrâneo, como acabamos de ver, na medida em que a representação da palavra transformou-se progressivamente através de sua decomposição fônica, ao longo da emergência dos sistemas alfabéticos do arco mediterrâneo. A distinção é também legítima na perspectiva das aprendizagens tradicionais praticadas no Ocidente e na China. No primeiro caso, o leitor iniciante aprende a reconhecer as letras para lhes atribuir um som, a juntá-las para formar sucessivamente sílabas, palavras, frases e texto. Na China, o aprendiz reconhece diretamente a palavra (que, aliás, é monossilábica na sua língua), logo é dispensado da etapa do reconhecimento do aspecto puramente fônico. Por um lado, aparente economia do número de caracteres a serem identificados; por outro lado, economia de uma etapa na proficiência do leitor.
Ao nosso ver, os dois caminhos da aprendizagem poderiam se revelar equivalentes, já que o objetivo final do leitor experimentado, no Ocidente, é o reconhecimento da palavra ou do grupo de palavras, sem passar pela operação de soletramento. Em outros termos, a palavra, sendo reconhecida imediatamente como tendo uma “fisionomia”, por já ter sido encontrada muitas vezes, tornou-se de facto um ideograma, ou, mais precisamente, um logograma. O grupo “Ouro Preto” é reconhecido, e não “lido” da esquerda para a direita, assim como os signos “¥”, “5”, “å” ou “&”, que também constituem ideogramas da nossa escrita. De modo que a leitura em si não se diferencia nas diversas sociedades humanas; apenas as tradições de aprendizagem podem divergir.
Concluindo, diremos que sob o termo genérico de leitura existem vários processos, que sofreram transformações determinadas pelo tipo de suportes que existiram. As passagens de uma leitura linear a uma leitura espacial, de uma leitura vocalizada a uma leitura silenciosa, de uma leitura pré-estruturada a uma leitura aleatória, errante, flâneuse dos hipertextos, são condicionadas pelo suporte da escrita. Ao contrário do que se alega habitualmente, os tipos de escrita, ou as formas, não têm o papel determinante que se atribuiu geralmente. A dificuldade de se aprender os hieróglifos podia proibir o acesso democrático à escrita; entretanto, a mesma dificuldade aparente não impediu a democratização recente do acesso à escrita chinesa. Mas o fato que impulsionou definitivamente a democratização da escrita foi a revolução no suporte: a invenção da tipografia e da imprensa. Logo, uma questão de suporte material.
E amanhã? Alguns autores prevêem o fim da atividade da escrita, como Dan Sperber. O fato novo na história da humanidade é a possibilidade de fixar a fala em suportes que permitem que se possa acessar a qualquer momento a escuta de um discurso gravado. Não faltam bons argumentos para tal previsão. A automatização da transcrição da oralidade levaria à obsolescência do escrever, pelo menos da atividade manual de traçar linhas de tinta, de teclar. Se Roland Barthes considerava que tal perspectiva, que seria a do imperialismo da fala, constituiria uma barbárie do futuro[§§§], Sperber, com razão, observa que o verdadeiramente importante no escrever, é o movimento de se ler e de se reler ao se escrever, estruturar e re-organizar o texto em gestação, balbuciar, votar para trás, imobilizar o silêncio, como diz Marina Tsetaeva. Papel que a máquina, cada vez mais performante, poderá preencher. Máquinas ouvintes, atentas e solícitas... Triunfo da oralidade solitária, o solilóquio alçado à mais nobre atividade humana, a apoteose do indivíduo autista. Tal perspectiva pode tanto ser um grau de liberdade a mais, como a morte do reconhecimento prazeroso do outro, do eu no outro. Mas já é outra definição da vida. Para quem viver...
Bibliografia
Auroux, Sylvain. La révolution technologique de la grammatisation. Liège: Mardaga, 1994.
Barthes, Roland. Oeuvres Complètes. Paris: Seuil, 1993-1995.
Calvet, Louis-Jean. Histoire de l’écriture. Paris: Plon, 1996.
Catach, Nina (org.). Para uma teoria da língua escrita. S. Paulo: Editora Ática, 1997.
Cavallo, Guglielmo & Chartier, Roger. Storia della lettura. Roma-Bari: Giuseppe Laterza & Figli Spa, 1995. Trad.: . Histoire de la lecture dans le monde occidental. Paris: Seuil, 1997.
Chartier, Roger. A aventura do livro; do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 1998.
Derrida, Jacques. De la grammatologie. Paris: Editions de Minuit, 1967.
Goody, Jack. The interface between the written and the oral. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. Trad.: Entre l’oralité et l’écriture. Paris: Presses Universitaires de France, 1994.
Havelock, E. The literate revolution in Greece and its cutural consequences. Princeton: Princeton University Press, 1982.
Kleiman, Ângela. Oficina da leitura: teoria e prática. Campinas SP: Pontes, 1995.
Marchand, Valérie-Marie. Les Alphabets de l’Oubli. Paris: Éditions Alternatives, 2002.
Morais, José. L’art de lire. Paris: Odile Jacob, 1994, 1999.
Olson, R. David. The World on Paper: The Conceptual and Cognitive Implications of Writing and Reading. Paperback: 1996.
Rousseau, Jean-Jacques. Essai sur l’origine des langues. Paris: Seuil, 1976. (1a publ: 1754).
Saenger, Paul. Space between words. The Origins of Silent Reading. Stanford: Stanford University Press, 1997.
Sperber, Dan. L’avenir de l’écriture. http://www.dan.sperber.com/ Paris: Bibliothèque publique d’information – Centre Pompidou, 2001.
Signorini, Inês (org.). Investigando a relação oral/escrita. São Paulo: Mercado de Letras, 2001.
Tazi-Sadeq, Sophia. Le bruissement du calame. Paris: Éditions Alternatives, 2002.
Vanderdorpe, Christian. Du papyrus à l’hypertexte. Essai sur les mutations du texte et de la lecture. Paris: La Découverte, 1999.
Resumo: Focalizando a oposição entre língua oral/língua escrita, o texto de Pierre Guisan desfaz alguns preconceitos e idéias prontas que o senso comum costuma veicular, apesar dos esforços de disciplinas como a história, a antropologia ou a lingüística.
Palavras-chave: Oralidade, Escrita, Lingüística.
Abstract: Focusing the opposition between oral and written language, the text by Pierre Guisan deconstructs some of the common sense prejudices, despite the efforts of the disciplines such as history, anthropology or linguistics.
Key-words: Orality, Literacy, Linguistics.
* Lingüista, Professor do Programa de Letras Neolatinas da UFRJ.
[†] Nota-se que essas línguas medievais, os romances, não são conhecidas com bastante segurança e precisão através dos textos que, numa época em que o latim era a escrita prestigiada, constituem mais transcrições da língua oral em uso do que produção de um sistema escrito autônomo.
[‡] Um exemplo: holandês – ou seja, o “dutch” – não deixa de ser o “deutsch”, isto é, a variante alemã dos Países Baixos. Porém, mesmo sem questionar o parentesco, a maioria dos súditos do pequeno reino com certeza se indignaria, ofendida no seu sentimento nacional, ao ver a sua língua ser rotulada de dialeto alemão.
[§] O status do morfema dependente pode ser o de palavra – ou não; na verdade, a questão é pertinente apenas do ponto de vista do texto escrito, ou seja, uma questão meramente tipográfica. Pode-se consultar a respeito, com proveito, o livro de Paul Saenger.
[**] Cf Havelock.
[††] Outro conceito ambíguo: o de sociedade ágrafa. Com efeito, pode-se considerar que determinada sociedade possui – ou não – uma escrita, o que constituiria uma noção binária (sim/não). Entretanto, mesmo nas sociedades com escrita, pode haver uma proporção mais ou menos significativa da população “ágrafa”; sociologicamente, o conceito se mediria numa escala. O Egito antigo, com 99% da população sem acesso à escrita hieroglífica, cujo conhecimento lhe era até proibido, apresentaria o caso de uma sociedade sociologicamente ágrafa, porém com um patrimônio e um saber escrito estritamente reservado a uma classe, a dos sacerdotes.
[‡‡] Tomamos o termo literário no seu sentido funcional mais amplo, que é de comunicação. Sem o reduzir, portanto, à caracterização de uma função estético-sentimental, como geralmente pode ser entendido.
[§§] Falamos aqui de uma linearidade geral, isto é, do acompanhamento da estrutura geral do texto concebido como linear, que não deve ser confundida com o processo de captação visual, que lança mão de visão periférica e de movimentos não-lineares do globo ocular.
[***] A letra A, de cabeça para baixo, representa a cabeça de um boi com os seus chifres: ". Evidências arqueológicas registram as rotações sucessivas efetuadas pelos escribas ao longo do tempo, até as letras chegarem à posição atual.
[†††] Os gregos reconheciam e saudavam essa contribuição de uma cultura estrangeira para a sua própria, através do personagem lendário de Cadmos.
[‡‡‡] O que não significa que não havia vínculo antes; com efeito, a representação não fonética de morfemas gramaticais já realizava esse vínculo.
[§§§] Barthes, R. T II, 1993, p. 1544.
anterior | S U M Á R I O | próxima |