O
SUJEITO
LÍRICO
FORA DE
SI
Michel Collot
Tradução Alberto Pucheu
Colocando o
sujeito
lírico
fora de
si, afasto-me de
toda uma
tradição
que,
certamente, tem uma de
suas
origens e
maiores
expressões na
teoria hegeliana do
lirismo, concebida,
por
oposição à
poesia
épica,
como “expressão da
subjetividade
como
tal [...], e
não de
um
objeto
exterior”[i].
Segundo Hegel, o
poeta
lírico constitui “um
mundo
subjetivo fechado e
circunscrito”[ii],
“fechado
em
si
mesmo”[iii].
“As
circunstâncias
exteriores”
lhe
são
apenas “um
pretexto” “para
ele,
com
seu
próprio
estado de
alma, expressar-se”. Hegel admite,
entretanto,
que uma
tal mediação possa
ser
útil,
até
indispensável: “O
elemento
subjetivo da
poesia
lírica se sobressai de
maneira
mais
explícita
quando
um
acontecimento
real, uma
situação
real, se oferece ao
poeta [...],
como se essa
circunstância
ou
esse
acontecimento fizesse
vir à
tona
seus
sentimentos
ainda
latentes”[iv].
Esses
estados de
alma estão
tão
profundamente escondidos na
intimidade do
sujeito
que,
paradoxalmente,
não podem se
revelar
senão se projetando
para
fora:
assim,
nos “povos do
norte”, “a interioridade,
concentrada e reunida
sobre
si
mesma, se serve
freqüentemente dos
objetos
inteiramente
exteriores
para
fazer
compreender
que a
alma
comprimida
não pode se
expressar”[v].
Além disso,
um
lirismo
sublime
como o dos
salmistas “supõe
um
ser
fora de
si”[vi].
Minha
hipótese é
que uma
tal
saída de
si
não é uma
simples
exceção,
mas,
pelo
menos
para a modernidade, a
regra.
Desalojando o
sujeito
lírico dessa
pura interioridade, e,
assim, destinando-o à
sua
morada,
não pretendo,
entretanto,
seguir
apenas e
simplesmente a modernidade,
que parece o
consagrar à errância e à desaparição. Gostaria de
me
perguntar se a
própria
verdade
não reside
precisamente
em uma
tal
saída,
que pode
ser
tanto ek-stase
quanto
exílio, e se a
recente
decadência do
sujeito
lírico
não
lhe daria uma
nova
chance.
Estar
fora de
si é
ter perdido o
controle de
seus
movimentos
interiores e, a
partir daí,
ser projetado
em
direção ao
exterior.
Esses
dois
sentidos da
expressão
me parecem constitutivos da
emoção
lírica: o
transporte e a
deportação
que
porta o
sujeito ao
encontro do
que
transborda de
si e
para
fora de
si.
Pelo
menos
desde Platão, sabe-se
que o
sujeito
lírico
não se possui, na
medida em que
ele é possuído
por uma
instância ao
mesmo
tempo a
mais
íntima de
si e
radicalmente
estrangeira. Essa
possessão e
esse desapossamento
são tradicionalmente referidos a
ação de
um
Outro,
quer se trate, no
lirismo místico
ou
erótico, de
um
deus
ou do
ser
amado, no
lirismo
elegíaco, à
ação do
Tempo,
ou ao chamado do
mundo
que arrebata o
poeta cósmico. Essa
ação
não se separa da
que exerce o
próprio
canto,
que
mais se apodera do
poeta do
que dele
próprio emana.
Fazendo a
experiência de
seu pertencimento ao
outro – ao
tempo, ao
mundo
ou à
linguagem –, o
sujeito
lírico cessa de
pertencer a
si.
Longe de
ser o
sujeito
soberano da
palavra,
ele se
encontra
sujeito a
ela e a
tudo o
que o inspira. Há uma
passividade
fundamental na
posição
lírica,
que pode
ser
similar a uma
submissão.
Sem
poder
mais se
sustentar
em
um
fundamento
transcendente
ou
transcendental,
não seria
esse arrebatamento
em
direção ao
outro uma
pura e
simples
alienação?
Sem
poder
mais
cantar
Deus
ou o
Ser
ideal
através das
palavras e das
maravilhas
tanto da
criação
quanto da
criatura, o
sujeito
que se precipita
para
fora de
si se
encontra lançado
em
um
mundo e
em uma
linguagem desencantados. A
transcendência
não
era
senão a
máscara de uma
contingência, de uma
ilusão
lírica.
Ceder ao
canto e ao
êxtase
não é se
deixar
embalar
pela
língua, entregar-se ao
mundo e aos
outros?
Portanto,
nada de
tão
brilhante
assim,
não havendo
motivos
para
sair
por
aí bradando
sua
subserviência.
Talvez seja nessa
alienação,
precisamente ao se
distinguir de
um
eu
que
sempre se quis
idêntico a
si
mesmo e
senhor de
si e do
universo,
que o
sujeito
lírico pode se
realizar:
não é na
pretensão de sua-majestade-o-Eu à
autonomia
que reside a
pior
ilusão? A
verdade do
sujeito
não se constitui
em uma
relação
íntima
com a
alteridade? Perdendo
sua
caução
transcendente, o ek-stase
lírico se depara,
em
muitos
pontos,
com a redefinição do
sujeito
pelo
pensamento
contemporâneo. Reinterpretado, o
lirismo pode
aparecer
como
um dos
modos de
expressão
possíveis e
legítimos do
sujeito
moderno.
A
meu
ver, uma das
vias
mais fecundas de uma
tal reinterpretação da subjetividade
lírica é a da fenomenologia,
que
não considera
mais o
sujeito
em
termos de
substância, de interioridade e de
identidade,
mas
em
sua
relação constitutiva
com
um
fora
que,
especialmente
em
sua
versão existencial, o altera, colocando a
acentuação
em
sua ek-sistência,
em
seu
ser no
mundo e
para
outro. Privilegiarei
mais
particularmente o
pensamento de Merleau-Ponty –
como a
poesia
moderna,
ele
leva a
sério a
encarnação do
sujeito. A
noção de
carne permite
pensar
conjuntamente
seus pertencimentos ao
mundo, ao
outro, à
linguagem,
não
sob o
modo de
exterioridade,
mas
como uma
relação de
inclusão
recíproca.
É
pelo
corpo
que o
sujeito se comunica
com a
carne do
mundo, abraçando-a e sendo
por
ela abraçado.
Ele abre
um
horizonte
que o engloba e o ultrapassa.
Ele é, simultaneamente,
vidente e
visível,
sujeito de
sua
visão e
sujeito à
visão do
outro,
corpo
próprio e,
entretanto,
impróprio, participando de uma
complexa intercorporeidade
que
fundamenta a intersubjetividade
que se desdobra na
palavra,
que é,
para Merleau-Ponty,
ela
mesma,
um
gesto do
corpo. O
sujeito
não pode se
exprimir
senão
através dessa
carne
sutil
que é a
linguagem, doadora de
corpo a
seu
pensamento,
mas
que permanece
um
corpo
estrangeiro.
Dada essa
tripla
pertença a uma
carne
que propriamente
não o
pertence, o
sujeito
encarnado
não saberá se
pertencer
completamente. A
cega
tarefa do
corpo e do
horizonte o impede de
acessar uma
plena e
inteira
consciência de
si
mesmo.
Sua
abertura ao
mundo e ao
outro o
torna
um
estranho “por
dentro –
por
fora”[vii].
Ele
não pode,
então,
reaver
sua
verdade
mais
íntima pelas
vias da
reflexão e da
introspecção. É
fora de
si
que
ele a pode
encontrar.
Talvez, a e-moção
lírica
apenas prolongue
ou reapresente
esse
movimento
que
constantemente
porta e deporta o
sujeito
em
direção a
seu
fora,
através do
qual
ele pode ek-sistir e se
exprimir. É
apenas saindo de
si
que
ele coincide
consigo
mesmo,
não
como uma
identidade,
mas
como uma ipseidade
que, ao
invés de
excluir, inclui a
alteridade,
conforme foi
bem mostrado
por Ricoeur[viii],
não
para se
contemplar
em
um
narcisismo do
eu,
mas
para realizar-se
como
um
outro.
O
poema
lírico será
esse
objeto
verbal
graças ao
qual o
sujeito
chega a
dar
consistência a
sua
emoção.
Em
um
aforismo de Moulin
premier, René Char disse admiravelmente:
Audácia de, num
instante,
ser
si
mesmo a
forma realizada do
poema. Instantaneamente,
reina o
bem-estar de
ter entrevisto
cintilar a matéria-emoção[ix].
O
sujeito
lírico virá a
ser “si
mesmo”
apenas
através “da
forma realizada do
poema”,
que encarna
sua
emoção
em uma
matéria
que é ao
mesmo
tempo do
mundo e de
palavras: “Como
você sabe, o
sentimento”, escreveu
em
outro
lugar René Char, “é
filho da
matéria;
ele é
seu
olhar admiravelmente nuançado”.
Um
pensamento da
carne,
como o de Merleau-Ponty, uma
poética da matéria-emoção,
como a de René Char, orienta-nos
para uma
nova
concepção e
prática do
lirismo,
que
me parecem aptas a responderem a certas
objeções
que
seus
detratores
lhe fazem.
Eles reprovam, no
lirismo,
principalmente
seu subjetivismo e
idealismo, opondo-lhe
freqüentemente a
palavra de
ordem de
um
novo
realismo,
associado, às
vezes de
modo
problemático, a
um
materialismo
lingüístico
que faz da
literatura a
única
via de
acesso
possível à
realidade[x].
Em
suas
versões
mais
polêmicas, essa
posição antilírica corre seriamente o
risco de
nos
reconduzir às clivagens
mais tradicionais:
entre o
fora e o
dentro,
entre a
matéria e a
idéia,
entre a
emoção e o
conhecimento. Invertendo a
hierarquia e a
prioridade
entre os
termos desses
pares conceituais,
tal
posição
lhes assegura a perenidade.
Colocar o
objeto
contra o
sujeito, o
corpo
contra o
espírito, a
letra
contra a significação, é
perder o
essencial e o
mais
difícil de
ser pensado,
que é a
implicação
recíproca de
tais
termos.
Para
tentar
compreender
que o
sujeito
lírico
só pode se
constituir na
sua
relação
com o
objeto,
que
passa
pelo
corpo e
pelo
sentido, lançando-nos e lançando
seu
sentido
através da
matéria do
mundo e das
palavras, a
poesia
moderna
nos
leva a
ultrapassar todas essas
dicotomias.
A
noção
inteiramente
poética de matéria-emoção
nos convida a
conceber a possibilidade de
um “lirismo de
pura imanência”,
certamente,
um “lirismo
materialista”,
como o
próprio Jean-Marie Gleize
deixa
entrever,
mas
sem se
esforçar
em analisá-lo
ou desenvolvê-lo[xi].
Gostaria de
ilustrar
isso
com
dois
exemplos: os de Rimbaud e Francis Ponge.
Esses
dois
poetas partilham
entre
si uma recusa
violenta do
lirismo
entendido
como
expressão de
um
eu, da subjetividade
pessoal, e a
tentativa de
promover uma “poesia
objetiva”
que valorize a
materialidade das
palavras e das
coisas.
Para
eles,
esse
privilégio concedido ao
objeto da
sensação e da
linguagem
não implica a
pura e
simples desaparição do
sujeito
em
benefício de uma
improvável
objetividade,
mas,
antes,
sua transformação.
Através dos
objetos
que convoca e constrói, o
sujeito
não
expressa
mais
um
foro
íntimo e
anterior:
ele se
inventa
desde
fora e do
futuro, no
movimento de uma
emoção
que o faz
sair de
si
para se
reencontrar e se
reunir
com os
outros no
horizonte do
poema.
No
que concerne a Rimbaud, limitar-me-ei a
lembrar
que essa redefinição do
sujeito
lírico
já está inscrita
em
seus
textos
inteiramente
fundadores da modernidade
poética, as
chamadas
Cartas do
Vidente.
Vale
sublinhar de
passagem o
que essas
cartas devem ao
Romantismo e a
homenagem
que,
ainda
que
com
reservas, Rimbaud
lhe presta, e a Lamartine, a Hugo e a Baudelaire.
Principalmente a
partir de Hegel, há uma
forte
tendência a
interpretar o
lirismo romântico
como a
expressão de
um
imperialismo do
Eu. Exaltando
inteiramente o
sujeito, Rimbaud trabalhou
para destituí-lo de
sua
autonomia, de
sua
soberania e de
sua
identidade.
Para Lamartine, o
sujeito
lírico
não é
senão “um
instrumento
sonoro de
sensações,
sentimentos e
idéias”[xii]
provocados nele
pela “comoção
mais
ou
menos
forte
que
ele recebe das
coisas
exteriores
ou
interiores”.
Ele se constitui no
ponto de
encontro
entre o
interior e o
exterior,
entre o
mundo e a
linguagem. É nesse
ponto
que Baudelaire
também situa a “arte
moderna”,
capaz de
criar “uma
mágica
sugestiva
que contenha simultaneamente o
objeto e o
sujeito, o
mundo
exterior ao
artista e o
próprio
artista”[xiii].
Essa
abertura põe
em
questão a
identidade do
sujeito romântico, podendo colocá-lo
em
crise; Nerval escreveu: “Eu
sou o
outro” e,
em O
homem
que ri, Rimbaud pôde
ler: “Era a
ele
que se falava,
mas
ele
próprio
era
outro”[xiv].
O
projeto de uma “poesia
objetiva”
que se formula na
carta a Izambard se opõe,
certamente, à “poesia
subjetiva”, mantendo do “eu”
apenas “a
falsa significação”,
mas
reserva
um
lugar ao
sujeito,
não
mais
definido
por
sua
identidade e
sim
por
sua
alteridade.
Tal alteração do
sujeito
lírico está
ligada ao
exercício da
linguagem e do
corpo. É no
ato de
enunciação
que “Eu é
um
outro”, reduzido a
um
pronome
que o designa
sem o
significar, deportado da
primeira
para a
terceira
pessoa do
singular; e é
pelo “desregramento de
todos os
sentidos”
que
ele “chega ao
desconhecido”. Perdendo,
assim,
entretanto, o
controle de
sua
língua e
seu
corpo,
ele se
encontra. Objetivando-se nas
palavras e nas “coisas
inauditas e
inomináveis”,
ele se
inventa
sujeito. Projetando-se
sobre a
cena
lírica
através das
palavras e
imagens do
poema,
ele
chega a
apreender do
fora
seu
pensamento
mais
íntimo,
inacessível à
introspecção:
Isto
me é
evidente:
eu assisto à
eclosão do
meu
pensamento:
eu a vejo,
eu a escuto:
eu
lanço uma
flecha: a
sinfonia faz
seu
agito nas profundezas,
ou
salta
sobre a
cena.
Para
dar
palavra a
esse
outro
em
si
que procede do
desregramento de
todos os
sentidos, o
poeta deve
recarregar a
linguagem de sensorialidade, “encontrar
uma
língua” “resumindo
tudo,
perfume,
sons,
cores”. Mobilizando
toda uma
física da
palavra,
ele conseguirá
dar
corpo ao
pensamento.
Rimbaud
não “inventa a
cor das
vogais”
pelo
simples
prazer de
tratar o
alfabeto
como
um
abecedário
nem
para
explorar sinestesias
improváveis. Isolando e exibindo
esses
componentes
não
significativos da
língua,
ele os oferece
em
sua
materialidade; associando
cada uma delas a uma
cor
elementar e a uma
série de
imagens
em
que
elas se fazem
presentes,
ele as faz
reencontrar
não
apenas a
matéria do
mundo,
mas os
movimentos da
alma e do
corpo:
I,
escarro
carmim,
rubis a
rir
nos
dentes
Da
ira
ou da
ilusão
em
tristes
bacanais (Trad. Augusto de
Campos)
I,
púrpuras,
cuspir de
sangue,
arcos
labiais
Sorrindo
em
fúria
ou
nos
transportes
penitentes (Trad. Ivo Barroso)
A
cada
vogal
também corresponde uma
tonalidade
ou uma coloração
afetiva
dominante,
em
contraste
com a precedente e
com a
seguinte: as “canduras”
sucedem aos “acres
lodaçais”, a “paz” dos
campos e das
frontes estudiosas, à
cólera e à
embriaguez
penitente. A
partir da
matéria fônica e
gráfica das
palavras e das
qualidades
sensíveis do
mundo, a
alquimia do
verbo criou uma matéria-emoção
em
que a
afetividade do
sujeito
lírico se exprime
com
tanta
intensidade
que
ele se ausentou do
enunciado, excetuando
apenas o
segundo
verso. Nas
frases
nominais
que seguem, o
eu parece
ter cedido
lugar aos
elementos da
língua e do
mundo.
Por
eles,
talvez seja
sua
vida
mais
íntima
que esteja
em
jogo, partilhada
como o
poema
entre
pólos
contraditórios, o nascimento e a
morte, a
corrupção e a
pureza, a
embriaguez dos
sentidos e o
amor
divino. Nesse
jogo
aparentemente
gratuito,
esse
poema de
andadura
impessoal
talvez seja
um dos
mais reveladores dos
lances
afetivos da
poesia rambaudiana.
Demorar-me-ei
mais no
exemplo de Ponge,
pois
ele é
menos
conhecido e
ainda
mais
paradoxal.
Aparentemente, Francis Ponge participa do
antilirismo
moderno, ao
qual
ele deu algumas de
suas
formulações
mais decapantes e agressivas.
Ele denunciou,
por
exemplo, a “vulgaridade
lírica”[xv];
na
mesma
obra,
entretanto,
ele afirma
que
seus “momentos
críticos”
também
são
seus “momentos
líricos”[xvi].
E
quando,
em 1961,
ele reúne o
essencial de
sua
obra
nos
três
tomos do Grand recueil,
ele intitula o
primeiro de
Liras.
Por
antífrase? A
crer na
tonalidade indiscutivelmente
lírica do
poema
que Ponge escolheu
para
encabeçar
sua
obra e
que evoca a
morte de
seu
pai[xvii],
nada é
menos
certo do
que
tal possibilidade.
Nesse
começo, Ponge ensaiou o
que
ele
chama muitas
vezes de “o
drama da
expressão”[xviii]:
a impossibilidade de
expressar
seus
sentimentos
mais
íntimos na
linguagem de
todo
mundo
ou nas
convenções do
lirismo tradicional: “Quando
procuro
me
expressar,
não
consigo. As
palavras
são todas
fatos e se expressam.
Elas
não
me exprimem”[xix].
E
ele diz
que é
porque “ele
próprio
não conseguiu
falar”
que buscou “fazer as
coisas falarem”[xx].
O
Partido das
Coisas procede de uma
crise do
lirismo
pessoal,
mas, na medida em que procura
precisamente evitá-lo,
ele implica uma
tomada de
posição
subjetiva,
como indica o
próprio
termo
partido [parti pris]. De alguma
maneira,
tomar o
partido das
coisas
ainda é “tomar
seu
próprio
partido”[xxi].
O
sujeito
que
não pôde se
expressar
busca se escrever através dos
objetos
que
ele descreve, “renunciando a se
conhecer senão se aplicando às
coisas”[xxii].
Saindo de
si, Ponge
espera
escapar do “adestramento” no
qual o
pensamento, reificado
por
um
discurso
social estereotipado, se transforma. Os
sentimentos “experimentados
atualmente
pelos
homens
mais
sensíveis” se reduzem a
um “pequeno
catálogo” limitado
pela
pobreza do
léxico à
sua
disposição:
eles se contentam
em
ser “orgulhosos”
ou “humildes”, “sinceros”
ou “hipócritas”, “alegres”
ou “tristes”, “com
todas as
combinações
possíveis dessas
qualidades
deploráveis”[xxiii].
Resta-lhes,
contudo, “conhecer
milhões de
sentimentos”
diferentes, o
que
não poderão
fazer a
partir do
contato
com
seus
semelhantes,
prisioneiros das mesmas
expressões e
representações
estanques,
mas a
partir do
contato
com as
coisas,
cuja
infinita
diversidade
nunca foi verdadeiramente
levada
em
conta
pela
linguagem.
Pois os
homens
não fazem
senão
projetar nelas
seus
miseráveis
estados de
alma; da
pedra,
por
exemplo,
eles
não encontraram
nada
melhor a
fazer e a
dizer do
que
lhe
dar
um
coração,
com o
qual
ela passará
bem,
pois se
trata de
um “coração de
pedra”[xxiv].
Precisa-se,
então,
operar uma
espécie de
revolução copernicana,
pela
qual o
sujeito, ao
invés de
impor ao
mundo
seus
valores e
significados preestabelecidos, aceita
“transferir-se às
coisas”
para
descobrir nelas “um
milhão de
qualidades inéditas”[xxv],
das
quais
ele poderá se
apropriar se
chegar a formulá-las. O
sujeito se perde nelas
apenas
para se
recriar:
O
espírito, do
qual se pode
dizer
que se
abisma,
primeiramente,
com as
coisas (que
são
nadas), contemplando-as, renasce,
pela
denominação de
suas
qualidades, de
tal
maneira
que, no
lugar dele,
são
elas
que o propõe[xxvi].
A “viagem no
interior das
coisas”
que Ponge
nos propõe coincide
com “a
abertura de
alçapões
interiores”[xxvii];
ele permite o
sujeito se
eximir dos
limites de
sua
personalidade,
para se
renovar
profundamente e “aumentar a
quantidade de
suas
qualidades”:
Fora de
minha
falsa
pessoa,
eu transporto
minha
felicidade aos
objetos, às
coisas do
tempo, no
momento
em
que a
atenção
que as
devoto as
forma
em
meu
espírito
como
um
composto de
qualidades e
maneiras de se
comportar próprias a
cada uma delas,
inteiramente inesperadas,
sem
qualquer
relação
com nossas
maneiras de
nos
comportar
para
com
elas.
Assim, ó
virtudes, ó
súbitos
modelos
possíveis
que descubro,
em
que o
espírito
sempre
novamente se exerce e se adora[xxviii].
Identificando-se às
coisas, o
sujeito
não
busca
consolidar
sua
identidade
em
torno de
algum
totem
ou
fetiche;
ele se abre a
sua
íntima
alteridade, a
suas contraditórias
virtualidades:
Quanto a
mim, digo
que sou
outra
coisa;
por
exemplo,
fora de todas as
qualidades
que possuo
em
comum
com o
rato, o
leão e o
filé,
eu pretendo as do
diamante e
me solidarizo
inteiramente
tanto
com o
mar
quanto
com a
falésia
que
ele ataca e
com o
calhau daí gerado[xxix].
Em
outro
lugar, Ponge escreveu: “Na
realidade, a
variedade das
coisas
me constrói”[xxx].
Apagando-se
atrás da
descrição das
coisas, o
eu coloca-se
em
jogo. A
poesia “objetiva” tem
por finalidade
principal a
regeneração do
sujeito e a renovação do
lirismo. É o
que
claramente aparece
em
um
projeto de “Introdução
a O
Partido das
Coisas”,
que Ponge publicou
apenas
tardiamente:
Para os
sentimentos
humanos, as
qualidades
que se descobre nas
coisas rapidamente se transformam
em
argumentos.
Numerosos
são os
sentimentos
que
não existem (socialmente)
por
falta de
argumentos.
Penso,
portanto,
que se
poderia
fazer uma
revolução
nos
sentimentos do
homem aplicando-se
tão
somente às
coisas,
que diriam,
com
isso,
muito
mais do
que os
homens estão acostumados a fazê-las
significar.
Seria a
fonte de
um
grande
número de
sentimentos
ainda
desconhecidos.
Que
me parece
impossível os
desejar
liberar do
interior do
homem[xxxi].
Há,
então,
em Ponge, certo
lirismo
que
não consiste
em
expressar
seus
movimentos
interiores,
mas a
emoção
que nasce do
contato
com as
coisas
exteriores e
que pode se
tornar a
origem de “sentimentos
desconhecidos”. É
um
lirismo
para o
futuro,
como
seu
humanismo:
Esse
calhau
me fez
experimentar
um
sentimento
particular
ou
talvez
um
complexo de
sentimentos
particulares. Trata-se,
primeiro, de percebê-los.
Aqui, levantam os
ombros e negam
todo
interesse
por
esses
exercícios,
pois
me dizem
que
nada há,
então, de
humano. E
que deveria
haver.
Mas é o
homem
desconhecido ao
homem
atual. (...) Trata-se
aqui do
homem do
futuro[xxxii].
A
prática e a
ambição
singulares de Ponge
me parecem
cortar
em
muitos
pontos a redefinição do
sujeito
pelo
pensamento
moderno,
principalmente a da fenomenologia,
que evoquei no
preâmbulo. A
seus
olhos, a subjetividade
humana
não é uma
pura interioridade, a do “espírito”
ou do “coração”,
mas “depois de
tudo,
qualquer
coisa
mais
opaca,
mais
complexa,
mais
densa,
mais
ligada ao
mundo”[xxxiii].
Ela é, simultaneamente,
material e relacional: o sub-jetivo é “isso
que
me empurra do
fundo, do
debaixo de
mim: do
meu
corpo”[xxxiv],
para
me
projetar
para
fora.
Para Ponge,
como
para Merleau Ponty, o
corpo é o
suporte dessa intencionalidade
que constitui o
sujeito
em uma
relação
necessária ao
objeto:
O
homem é
um
tipo
estranho,
que
não tem
seu
centro de
gravidade
em
si
mesmo.
Nossa
alma é
transitiva.
Ela necessita de
um
objeto
que a afete,
como
seu
complemento
direto.[xxxv]
A
afetividade do
sujeito é
inseparável dos
objetos
que afetam
seu
corpo.
Ela é “o
resultado de uma
lenta e
profunda
impregnação (...)
pela
qual o
mundo
exterior e o
mundo
interior se tornam
indistintos”[xxxvi].
De
cada
objeto
nós possuímos
toda “uma
idéia
profunda” formada
pela “sedimentação
incessante” de “impressões”
que “recebemos” “desde
a
infância”[xxxvii].
Para Ponge, a
poesia “é
isso”: “extrair” essa “idéia
profunda”[xxxviii].
Fazendo
isso, o
poeta exprime simultaneamente a
coisa e
isso
que dele, nela, se
encontra implicado: “não
se pode
ser
explicativo
sem
me
explicar, se
explicar
ou,
antes, autoexplicar”; “trata-se de
explicar autenticamente as
coisas
em
si mesmas”. Desviando-se de
si, o
sujeito se descobre: “Ele tem a
chance de
produzir
seu
canto
mais
particular
quando se ocupa
bem
menos de
si
que de
outra
coisa,
quando
ele se ocupa
muito
mais do
mundo do
que de
si
mesmo”[xxxix].
Ponge
expressa
sua singularidade
através dos
objetos
mais
comuns; trata-se de
um
lirismo na “terceira
pessoa do
singular”[xl].
Para
dizer,
entretanto, “o
mais
particular” da
coisa e do
sujeito, a
língua
comum,
com
seu
cortejo de
idéias
gerais e
expressões prontas, parece
um
obstáculo;
sobre
ela, há
muito
tempo, Ponge manifestou a
maior das desconfianças,
além de
ter exercido a
mais
crítica vigilância dela. O
poeta deve “falar
contra as
palavras”
já faladas,
purificar
sua
linguagem de
todos os
estereótipos[xli].
Esse
empreendimento atravessa
principalmente a
exploração de
recursos inscritos na
própria
matéria das
palavras.
Antes de
seus
significados,
que,
ainda
que se possa reativá-los refazendo o
curso de
suas
histórias e
etimologias[xlii],
são
freqüentemente fisgados
pelo
código e
pelo
uso, Ponge explora
seus
significantes.
Em
um de
seus
primeiros
textos,
ele celebrava liricamente os “caracteres”
e as “vogais coloridas”, ligando-se
mais à “substância” dos
signos
lingüísticos do
que a
seu “significado”;
sua
materialidade os aproxima das
coisas,
que ocultam a
linguagem
conceitual, oferecendo ao
poeta “reservas
imóveis de
arroubos
sentimentais”[xliii].
Ponge retomará
constantemente
tal
pensamento: “tratando o
meio de
expressão
pelo
que
ele é,
em outras
palavras,
pelo
significante, o
que se obtém é uma
matéria,
matéria de
sensações”, “que
satisfaz de
modo
superior ao
que se pretende
obter” “partindo” “de
um
significado
anterior”[xliv].
Em
sua
obra, a
exemplo de
seus
amigos
pintores, Ponge acedeu
cada
vez
mais à
iniciativa do
material
verbal.
Tal
emancipação dos
significantes
em
relação a
toda
intenção de
um
sentido preexistente parecia
conduzir a
um
tratamento
lúdico
ou
puramente
estético da
linguagem:
A
partir do
momento
em
que se considera as
palavras (...)
como uma
matéria,
passa a
ser
bastante
agradável se
ocupar
com
elas.
Tanto
quanto o é ao
pintor se
ocupar
com
cores e
formas.
Bastante
prazeroso
jogar
com
elas.[xlv]
Esse
jogo,
entretanto, possui uma
aposta,
pois “apenas a
partir das
propriedades
particulares à
matéria
verbal, as
coisas podem
ser expressas”; e “tratando-se de
relacionar o
homem ao
mundo, é
apenas dessa
maneira
que se pode
sair do adestramento”[xlvi].
O
livre
jogo dos
significantes permite
afastar os
significados estabelecidos
para
que se crie
outros
novos.
Para Ponge, trata-se de
alcançar essa
matéria “expressiva”[xlvii],
fazer das
palavras
esses “objetos
comoventes”,
cujos “sons
significativos” “nos
servem simultaneamente a
nomear os
objetos da
natureza e a
exprimir
nossos
sentimentos”[xlviii].
A
noção pongiana de
objeto faz do
poema
um “objeto
transicional”, no
sentido de Winnicott,
que,
graças ao
jogo de
palavras, realiza uma
transação
entre o
eu do
poeta e o “objeto de (sua)
emoção”[xlix].
Pelo
menos num
primeiro
momento,
isso supõe o
abandono de uma
certa desconfiança
que Ponge, há
muito
tempo, manteve
em
relação à
linguagem.
Como o
pintor, o
poeta deve,
por
um
momento,
aceitar
perder o
controle de
seu
gesto e de
sua
matéria
para se
abrir a
suas
sugestões e
revelações.
Assim
como o
material
pictórico, o
verbal
não é
um
simples
meio de
expressão. Conquistando
sua
autonomia,
ele
próprio provoca
reações
imprevisíveis,
acorda, no
artista
ou no
poeta, “sentimentos
inauditos,
formas sugestivas e complexas de
sentimentos
ainda
inéditos”
que
lhe permitem “modificar e
renovar
seu
mundo
sensorial”, “lançar
sua
imaginação
para
novas
direções inexploradas”. Colocando-se de
corpo perdido nessa matéria-emoção, o
sujeito encena e
obra o
colocar
que o constitui:
Exprimimos
nosso
complexo
interior
já na
projeção, no lançar-se, no colocar-se.[l]
Abdicando
todo
significado e
representação pré-estabelecida, aceitando
estar
fora de
si na
abstração
lírica do
gesto de
escrever, projetando-se na
matéria das
palavras e das
coisas, o
poeta se revela a
si
mesmo e aos
outros.
Tal
lirismo
não é,
certamente,
propriedade de
ninguém
nem,
sobretudo, de “minha
falsa
pessoa”. Pode-se
notar a
presença de
nós nesse
texto,
como
em
muitos
textos de Ponge. Na
medida em que, se apoiando nas
palavras e nas
coisas do
comum,
ele ultrapassa o
indivíduo,
esse
lirismo na
terceira
pessoa do
singular pode se
transformar num
lirismo da
primeira
pessoa do
plural: “o
mais
subjetivo
não é” “de
qualquer
maneira
comum”?[li]
A matéria-emoção está à
disposição de
quem queira e possa trabalhá-la:
Todo
mundo é
capaz de
lançar
um
punhado de matéria-a-expressões (um
punhado de
pasta, de
cor, de
tinta,
um
punhado de
sons, de
palavras –
que sei? –
um
punhado de
palavras)
contra o
muro (a
página) (...)
Depois
esperar,
constatar o
que foi
feito...
Isso
sempre fará alguma
coisa... alguma
coisa “boa”, um engate
para a
sensibilidade e a
imaginação.[lii]
Porque o
sujeito se coloca
fora de
si,
um
lirismo
assim é transpessoal. Pode-se
ainda
perguntar se o
que é
conveniente de
chamar “o
lirismo
pessoal”
não é
antes a
exceção do
que a
regra, se
ele
não é
forçosamente antilírico.
Quando, ao
fim da
Idade
Média, emerge uma
poesia
pessoal,
autobiográfica, é
freqüentemente ao
preço da
perda do
canto
que acompanhava a
lírica
anterior, transpessoal[liii].
É
raro o
sujeito
cantar
só
sua
pessoa,
fora da
exaltação
que confere
seu
encontro
com
Deus,
com o
outro,
com o
mundo
ou
com a
língua. É
verdade
que existe
um
lirismo
elegíaco
ou
irônico da
individualidade sofredora
ou
rebelde,
que
não exprime o
encontro,
mas a
separação.
Para
Adorno, essa é a
característica do
lirismo
moderno,
expressão de uma
crise
em
que,
frente a uma
sociedade e a uma
linguagem reificadas, o
indivíduo afirma
dolorosa,
agressiva
ou humoristicamente
sua
diferença[liv].
Portando-se,
assim,
entretanto,
ele corre o
risco de se
fechar. A
certos
olhares,
nada
mais narcisista do
que o antilirismo
contemporâneo,
cujo
sujeito às
vezes se compraz no
deleite
moroso,
não parando
mais de
contemplar
seu
próprio
desaparecimento no
espelho de uma
escrita
que
não cessa de se
voltar
sobre
si
mesma. Quis
sugerir
que existia
um
outro
caminho,
mais
positivo e
transitivo,
pelo
qual, saindo de
si, o
sujeito
moderno, abrindo-se à
alteridade do
mundo, das
palavras e dos
seres, pode se
realizar nesse desapossamento.
[i]
Esthétique, trad. S.
Jankélévitch, Flammarion, coll. « Champs », 1979. 4 vol., p. 178.
[ii]
Ibid. p. 184.
[iii]
Ibid. p. 197.
[iv]
Ibid. p. 182.
[v]
Ibid. p. 210.
[vi]
Ibid. p. 206.
[vii]
Reconhecemos a
fórmula
célebre de Henri Michaux,
que a
emprega
com
um
outro
sentido
em L’Espace aux ombres.
[viii]
Ver Soi-même
comme un autre, Seuil, coll. « L’Ordre philosophique », 1990.
[ix]
Lê
Marteau sans
maître,
seguido de Moulin
premier,
Corti, 1970, p. 124.
[x]
Substancialmente,
é,
por
exemplo,
a
posição
defendida
por
Jean-Marie Gleize,
em A
noir, poésie et litteralité, Seuil, Coll. “Fiction&Cie », 1992.
[xi]
A noir, op. cit., p. 121.
[xii]
Prefácio às
Meditações
Poéticas (1849).
[xiii]
A
Arte Filosófica,
Curiosidades
Estéticas. Classiques
Garnier, 1962, p. 503.
[xiv]
Victor Hugo, L’Homme qui rit, coll. « Garnier Flammarion », t. 11, p.
142.
[xv]
Pour
um
Malherbe, 1965, p. 81.
[xvi]
Id.
Ibid., p. 198.
[xvii]
Trata-se da La famille du
sage,
Le grand recueil, t. 1 : Lyres, Gallimard, 1961, p. 7-8.
[xviii]
Drama da
expressão,
em Proémes, Tome
premier, Gallimard, p. 143.
[xix]
Rhétorique, dans Proémes,
Tome
premier,
op.cit., p. 177.
[xx]
Introdução a O
Partido das
Coisas, Pratiques d’écriture
ou l’inachévement perpétuel,
Hermann, 1984, p. 79.
[xxi]
Braque le réconciliateur, L’Atelier contemporain,
Gallimard, 1977, p. 6.
[xxii]
Introdução a O
Partido das
Coisas, Pratiques d’écriture, op. cit.,
p. 79.
[xxiii]
Introduction au Galet, Proémes, Tome
premier,
op. Cit. P. 197.
[xxiv]
Ibid. 201.
[xxv]
Ibid. p. 198.
[xxvi]
Ressources naives, Proémes, op. cit. p. 187.
[xxvii]
Introduction au Galet, Proémes, Tome
premier,
op. cit. p. 199.
[xxviii]
Ressources naïves,
Porémes,
Tome
premier,
op. cit., p. 187.
[xxix]
Introduction au Galet, Proémes, Tome
premier,
op. cit. p. 197.
[xxx]
Méthodes, My creative
method, Méthodes, Gallimard, 1961, p. 12.
[xxxi]
Pratique d’écriture. Op. cit.,
p. 81.
[xxxii]
My creative method, dans Méthodes.
Gallimard, 1961. p. 25-26.
[xxxiii]
Lê murmure ou la condition de l’artiste. Méthodes, op. cit. p.192.
[xxxiv]
La Fabrique du pré, Skira,
coll. « Les sentiers de la création », 1971, p. 29.
[xxxv]
L’objet, c’est la poétique. L’Atelier contemporain. Op. cit. p. 221.
[xxxvi]
Braque lê réconciliateur. L ‘Atelier contemporain. Op. cit. p. 63.
[xxxvii]
Id. Ibid.
[xxxviii]
Tentative orale, Méthode, op. cit. 255.
[xxxix]
Braque le réconciliateur, L’Atelier contemporain, op.cit. p. 62.
[xl]
Tentative orale, Méthodes, op.cit. p. 255.
[xli]
Des raisons d’écrire, dans Proémes, Tome premier, op.cit. p. 186.
[xlii]
Aqui, deixo de lado essa estratégia, que, em outros lugares, corta
freqüentemente a via do significante. As etimologias de Ponge são
freqüentemente fantasistas. Sobre isso, ver meu Francis Ponge entre mots
et choses, Champ Vallon, 1991, p. 155 em diante.
[xliii]
La promenade dans nos serres, dans Proémes, Tome premier, op.cit.
p.145.
[xliv]
Braque ou en méditatif à l’oeuvre, L’Atelier contemporain, p. 312.
[xlv]
Pratiques d’écriture, op.cit.,
p. 89.
[xlvi]
Id. Ibid.
[xlvii]
Le murmur ou la condition de l’artiste, Méthodes, op.cit., p.193.
[xlviii]
A la rêveuse matière, fragmento Nouveau recueil, em Lyres,
coll. “Poésie/Gallimard”, p.167.
[xlix]
Le soleil place en abime, Pièces, Gallimard, 1961, p. 156.
[l]
Pochade en prose, L’Atelier Contemporain, p.150.
[li]
Pour un Malherbe,
p.166.
[lii]
Pochade en prose, L’Atelier contemporain, p.147.
[liii]
Ver Michel Zink, La subjectivité littéraire, PUF, coll. “Écrivains”,
1985.
[liv]
Ver pricipalmente Discurso sobre a poesia lírica e a sociedade,
Notas sobre a literatura.