AGORA É QUE SÃO ELAS

Marcelo Rezende foi repórter dos cadernos Mais! e Ilustrada, do jornal Folha de S. Paulo (1993-1998) e correspondente do diário Gazeta Mercantil em Paris (1998-2002). Ocupa o cargo de diretor de redação da revista CULT.

A revista CULT existe no mercado brasileirosete anos, e é um dos raros títulos (de alcance nacional) que pode ser descrito como uma publicação “de cultura”. Isto é, voltada para a produção cultural e para o debate em torno dessa mesma produção, sobretudo a literária, lírica. Mas esse pequeno histórico da relação entre a CULT e a poesia não é em tudo exato.Uma descrição possível, mas não exatamente a mais fiel.

 Durante toda a história da CULT, sobretudo em seus primeiros cinco anos, a presença da poesia (tanto em textos sobre autores pertencentes ao cânone quanto na publicação de poetas iniciantes – ainda que esta definição seja em tudo, e exageradamente, larga) de diferentes tendências, escolas, facções é um fato. Mas isso significa, necessariamente, um bom diálogo, relação, enfim, com a produção poética?

Minha resposta – sendo impossível evitar a exigência de uma – seria: não. Umnãoconsciente de não ser a publicação de um verso – e da mesma maneira seu comentário – uma “pensée ” sobrepoesia e suas possibilidades; umnãoque assumisse a ausência de um engajamento que significasse a manutenção de um espaço que pudesse, de alguma forma, traduzir a reflexão sobre, usando uma expressão beletrista, “o fazer poético”.

Logo, há muito ainda a ser pensado, espaços a serem ocupados e a necessidade de uma vigorosa ação para provocar no leitor a reação diante do verso, uma que possa ser, ainda, interrogação diante das coisas do mundo.

 Roberto Piva ou Augusto de Campos? Beckett ou Claude Simon (sim, um prosador, mas essa é também uma questão)? Philip Larkin e Francisco Alvim, é isso possível? Tudo e todos, claro, mas – e aqui talvez a resposta direta sobre o trabalho com a poesia na CULT— a perspectiva deve ser apenas uma: moral. Mostrar ao leitor que o papel de um título (de um editor, em última análise) é o de fazer escolhas que signifiquem tomadas de posição estéticas, logo, políticas, em relação ao produto cultural e ao atual e crescente ruído que pretende tornar a cultura irrelevante, viciada ou conservadora. Escrever poesia, hoje, é em si um ato de vanguarda. E a missão da CULT é viver com essa vanguarda

 

 

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