A
LETRA
MÚLTIPLA
DE ARNALDO ANTUNES,
O
PEDAGOGO
DA
ESTRANHEZA
André Gardel
(Doutor
em
Literatura
Comparada
pela
UFRJ,
Professor
da UniverCidade,
autor
de O
Encontro
entre
Bandeira
&
Sinhô,
compositor
de
música
popular)
Os
processos
de mudanças
nos
modos
de
criação,
reprodução
e
propagação
dos
objetos
de
arte
ganharam
força
e
definição
no
Ocidente
a
partir
de
dois
fatos
culturais
distintos:
a
ampliação
do
império
da
indústria
do
entretenimento
no
mundo
globalizado,
que
comercializou, contaminou e refuncionalizou a
idéia
mesma
de
arte,
e a
cisão
profunda
que
os
movimentos
de
vanguarda
causaram
nos
padrões
artísticos
ao forcejarem
seus
limites
formais,
com
senso
de
ruptura
e
inovação,
aprofundando
modernamente
a
pesquisa
de
linguagem
iniciada
pelos
românticos,
principalmente
os da
Escola
de Iena,
até
o
extremo
da comunicabilidade.
Contudo,
se
tais
mudanças
nos
modos
de
conceber,
reproduzir
e
propagar
arte
propiciaram
desenvolvimentos
diversificados na
produção
estética
contemporânea,
jamais
conseguiram
estabelecer
canais
de
recepção
em
comum,
antes
criaram
certas
distâncias
aparentemente
sem
atalhos
como,
por
exemplo,
o
abismo
existente
entre
a
produção
de experimentações
estéticas
e o
aumento
progressivo
do
público
no
universo
da
cultura
de
massas.
Alguns
artistas
e
movimentos
na
música
popular
comercial
brasileira
tentaram,
direta
ou
indiretamente,
diminuir
o
fosso
existente
entre
experimentação
formal
e
ampliação
de
público.
A
obra
de Arnaldo Antunes,
apesar
de se
inserir
nessa
tendência
de
nossa
música
popular,
não
se parece, no
geral,
com
nenhuma das
propostas
anteriores.
Há algumas
semelhanças,
no
entanto,
com
a
obra
de Caetano Veloso,
pelo
modo
sistemático
com
que
vem conseguindo
construir
pontes
duráveis
sobre
o
rio
que
separa o
biscoito
fino
do
gosto
popular.
Outra
aproximação
viável
com
o
poeta
baiano
origina-se no
fato
de
ambos
terem algumas de
suas
raízes fincadas na
poesia
de
vanguarda
concretista.
Mas,
a
partir
daqui,
afora
a
constatação
óbvia
de
que
ambos
são
grandes
poetas,
começam as
diferenças,
pois
da
mesma
forma
que
Caetano parece
ter
posto
em
prática
na
cultura
de
massas,
com
atitudes
e
compromissos
vitais,
as
idéias
antropofágicas oswaldianas, Antunes parece
ser
antes
um
desdobramento pop de
linhas
inventivas
desenhadas
pelo
concretismo.
Parece
apenas.
Arnaldo
não
é
mais
um
epígono
dos
concretos,
sua
postura
estética
é, na
verdade,
pós-concreta, aponta
para
um
novo
rumo
a
partir
do
movimento,
assim
como
os
três
líderes
iniciais
do
concretismo
renovaram-se seguindo
caminhos
posteriores
particulares
e revitalizantes.
Mas
a
base
é uma
só:
o instrumental
lingüístico
e semiótico; a
inserção
da
escrita
ideogramática na
escrita
alfabética,
que
incorpora a
estrutura
analógica
à
lógica
discursiva
ocidental,
subvertendo
sintaxes,
núcleos
vocabulares; a
pesquisa
gráfica
revitalizando o
verbal;
a
contaminação multimeios; a
poesia
visual
cronstrutivista; a proesia; a
busca
isomórfica de significação
entre
signo
verbal
e
referente,
similaridades fônicas e
ambigüidades
semânticas
etc.
Base
que
é
solo
nutritivo
para
outras
notas
e
atitudes
entrarem e se desenvolverem.
Como,
por
exemplo,
quando
Antunes se refere ao
que
ocorria no
processo
criativo
dos
compositores
de
música
popular
brasileira
nos
anos
90, acabando
por
apontar
para
alguns
de
seus
próprios
desenvolvimentos
pós-concretos: “a
incorporação
orgânica
da
diversidade”,
“o
trânsito
livre
entre
as
diferenças
como
uma
realidade
cultural, a
partir
da
qual
se
cria”.
Ou,
ainda,
Muitas
coisas
que
se apresentavam
como
projeto
na
visão
de Oswald foram digeridas e viraram
ação,
processo,
atitude,
quarenta
anos
depois,
com
o
movimento
tropicalista.
[1]
Poderíamos
usar
este
mesmo
trecho
do
texto
citado
acima,
apenas
trocando os
sintagmas
“na
visão
de Oswald”
e “o
movimento
tropicalista”
por
“no
concretismo”
e “a
obra
de Arnaldo Antunes”,
para
definirmos,
com
certa
semelhança,
a
importância
do
diálogo
que
o ex-Titã estabeleceu
com
a
vanguarda
paulista
dos
anos
50.
Arnaldo Antunes é
um
verse-maker,
um
compositor
de
música
popular,
um
artista
plástico,
um
performer,
um
cantor,
um
poeta
verbivocovisual,
um
escritor-crítico,
um
artista
multimídia.
Sua
postura
diante
dessa
diversidade
é
tanto
de
localizar
a especificidade de
cada
código
quanto
de
permitir
as
suas
intersecções criativas, a
partir
de uma
linguagem
sem
grandiloqüências,
que
coisifica as
palavras
e foge de
qualquer
lirismo
excessivamente
subjetivado,
lamuriento,
vivendo,
para
usarmos uma
expressão
de
sua
autoria, no “apuro
em
procurar
clareza
e (na)
certeza
de
que
tudo
é
impuro”.
[2]
E
mais,
Arnaldo Antunes tem
um
duplo
movimento
particular
que
se alarga, a
um
só
tempo,
em
retroprojeção,
para
as
bases
e,
em
outra
perspectiva,
para
incorporações
posteriores
dos
concretos:
a sondagem do
lado
lúdico-primitivo da
obra
de Oswald de Andrade,
quando
este
afirma
que
“Há
poesia
na
dor,
na
flor,
no
beija-flor,
no
elevador”[3],
na
prática
de uma
poética
que
existe
nos
fatos
culturais,
sem
conceber,
contudo,
qualquer
projeto
nacional-popular,
pois,
sente-se
um
habitante
de
Lugar
Nenhum[4],
um
cidadão
do
planeta
com
uma
brasilidade
específica,
desejoso de
fazer,
como
diz
em
entrevista,
uma “música
pop
que
tenha o
maior
nível
de
penetração
de
massa
possível”[5].
Com
a
meta
didática
e
comercial
de
ampliar
seu
público,
mas
que
isso
se
dê
como
uma
continuação,
em
bases
globalizadas, da
diversidade
de
interesses,
discursos,
interferências,
culturas
e
ritmos
introduzidos
pela
Tropicália na mpb.
Como
uma
criação
que
navega na
confluência
dessas
instâncias,
enfrentando de
modo
plural
e
muito
pessoal
o
jogo
artístico
que
se desdobra da
dialética
contemporânea
entre
novidade
e
tradição.
Arnaldo pondera:
Vejo
como
maneira
positiva
essa
coisa
cultural de
ter
informações
do
mundo,
todo
um
futuro
auspicioso
pode
vir
disso. O Brasil,
pela
tradição
cultural de
ter
passado
pela
antropofagia,
pelo
tropicalismo e
tal,
é
um
país
muito
dado
a
esse
tipo
de
convivência
natural
das
diferenças.
[6]
O
movimento
mais
constante
nessa
poesia,
com
isso,
é de
busca
de uma
possível
brasilidade
desterritorializante, desfolclorizante, modulada
pelo
intuito
de
desentranhar
o
incomum
do
comum.
Tal
procedimento vai do microestético ao macrocultural,
presente
nas
unidades
mínimas
significativas da
materialidade
poética,
na reconfecção
inventiva
de
máximas
e
ditos
populares,
na
inserção
de
experimentos
de
vanguarda
na
indústria
do
entretenimento,
nas
suas
propostas
de
diálogo
artístico
intersemiótico etc.
Em
todos
os
níveis
ecoa
sempre
o
mesmo
bordão:
“transformar
o
óbvio
no
inesperado.”
Esta
idéia
é ratificada
em
outra
entrevista,
quando
Arnaldo sentencia
que
quer
se
esmerar
em
“trabalhar
dentro
da
cultura
de
massas,
da
linguagem
pop,
mas
sempre
empurrando
um
pouco
o
padrão
do
gosto
comum
para
o
lado
da
estranheza”[7].
Trata-se de
um
trabalho
de desconstrução
que
se insinua
como
a contraface pós-moderna, reciclada, do
espírito
e
olhar
primitivistas
das
vanguardas.
O
frescor
originário
do “bárbaro
tecnizado de Keyserling”[8]
transmodela-se
nos
olhos
livres
recriativos do
estranho
acústico/eletrônico
de
massas,
atravessados
pelo
desejo
desreprimido, interessado,
mas
não
especializado,
em
produzir
uma “criação
contaminada de
vida,
contaminando a
vida”[9]
e
que,
ao
mesmo
tempo,
sofra a
interferência
de várias
áreas
do
saber.
E
esse
é o
modo
como
se dá o
projeto
de
convivência
de
diferenças
em
sua
obra
pós-concreta de
fundo
desterritorializante. Na
sintaxe
staccato
de Arnaldo:
Uma
música
que
não
é
brasileira,
nem
americana,
nem
africana,
nem
de nenhuma
parte
do
planeta
porque
é. Do
planeta
todo.
Fechando os
olhos
fica
mais
fácil
da
gente
escutar.
Ela.
[10]
Apesar,
ou
até
mesmo
por
isso,
da
sugestão
de anulamento de
um
dos
sentidos
para
perceber
melhor
um
outro
na
citação
acima
(Fechando os
olhos
fica
mais
fácil
da
gente
escutar),
Arnaldo Antunes é o
pedagogo
da
estranheza
poética
na
sociedade
brasileira
contemporânea
de
massas.
Na
verdade,
realiza
em
sua
práxis
poética
a
proposta
de
um
movimento
sinestésico
que
se desborda
em
multiculturalidade e multidiscursividade:
códigos
distintos
vistos
como
mundos
distintos
inter-relacionáveis,
mundos
distintos
ouvidos
como
códigos
assimiláveis,
linguagem
e
vida
interagindo
em
contágios
incessantes,
vários
campos
de
conhecimento
em
trânsito,
desviando
seus
sentidos,
readiquirindo
força
na migração
poética,
na
interação
de
noções
na
imagem.
A
crise
de
sentido
que
a modernidade trouxe
consigo,
implodindo a
idéia
de uma “correspondência
unívoca
entre
uma
palavra
e
aquilo
que
ela
representa”,
que
“(...) é
também
uma
crise
da
verdade”,
não
pode
significar
para
o
poeta
“obscurecimento
ou
ineficiência
comunicativa”,
pois
“a
clareza
de uma
mensagem
depende
agora,
mais
do
que
nunca,
de
um
uso
apropriado”,
reflete Antunes[11].
Tal
uso
deve se
dar
na
encruzilhada
aberta
por
sua
obra
entre
vanguarda
e
comunicação
de
massas:
injetar
estranhamento numa
ambiência
que,
para
funcionar,
exige o
já
assimilado, o
estável,
a não-novidade, e, ao
mesmo
tempo,
embeber
positivamente
de
cotidiano
múltiplo,
diálogo,
clareza,
fluxo
vital
a complexidade
formal,
o
trabalho
com
a
linguagem.
Sua
pedagogia
da
estranheza
se desdobra de muitas
maneiras.
Na
configuração
performática de
sua
imagem
pública,
uma
mescla
de
informações
culturais contrastantes
que
surge nas
roupas
formais
que
usa,
geralmente
pretas,
entre
o
design
executivo
e o
quimono,
no
corte
exótico
do
cabelo
meio
punk
meio
clean,
nos
anéis
artesanais,
primitivos
que
traz e apresenta
nos
dedos.
A
dança
que
realiza
nos
remete à biomecânica,
um
sistema
de
interpretação
criado
no
teatro
cubo-futurista russo
por
Meyerhold,
em
que
os
atores
misturavam
movimentos
de
exatidão
e esquematismos extremados, recuperando as
cadências
da
produção
do
operário
na
indústria
com
um
espírito
despojado e “um
humor
clownesco”[12].
O
uso
da
voz
entre
o
canto,
o
berro
e a
fala,
alternando
timbres,
apresentando
em
algumas
canções
um
grave
cavernoso
em
contraponto
intencional
com
a
padronização
do
gosto
popular
nas
canções
pelas
vozes
mais
agudas. Na sonoridade e
arranjos
de
seus
CDs
que
freqüentemente
apresentam
timbres
orgânicos
interagindo
com
ruídos
mecânicos,
ritmos
nacionais
com
música
techno, rock, pop,
melodias
e
sons
transnacionais,
instrumentos
inventados dialogando
com
instrumentos
convencionais
usados de
modo
inusitado
etc.
A
griffe
de
moda
Ellus
desencadeou
toda
uma
campanha
publicitária
de
seus
produtos
para
o outono-inverno de 2001 a
partir
de uma
frase
de Arnaldo Antunes: “o
corpo
é
para
ser
usado”[13].
Explorando
mais
este
novo
meio
de
veiculação
poética,
através
de
caligrafias
e
desenhos
estampados
em
roupas
usadas
por
modelos
que
aparecem
em
“outdoors,
muros
de
colégios,
fachadas
de
museus”[14],
o
poeta
expande
sua
estranheza
pela
cultura
comercial
hegemônica
major,
ampliando
seu
universo
de
trabalho,
dando
nova
dimensão
a
seus
poemas.
O
mesmo
acontecendo no
comércio
minor,
com
a
criação
de
poemas
verbais/visuais
para
estamparem
almofadas
de
ervas
aromáticas, vendidas na
loja
paulista
Baobá,
especializada
em
tecidos
feitos
em
tear.
Máquina
lúdica
A
poesia
de Arnaldo Antunes se organiza
como
um
tipo
de
máquina
lúdica
que
não
se
esgota
no
modelo
barroco.
É
duplo
do
mundo
e se insere nele, e o traz simultaneamente
para
dentro
da
máquina
poética:
jogos
de
espelhos
deformantes,
refratários
e
reflexos;
alternâncias
de
peças;
pares
opositivos
em
tensão
ou
complementariedade;
planos
se sobrepondo, justapondo, se atravessando;
movimentos
circulares;
rotações
sobre
o
mesmo
eixo;
câmaras
de
ecos
e
reverberações;
reutilizações desfuncionalizantes; reescrituras palimpsésticas; desdobramentos
de
pontos
de
fuga.
Tudo
é
signo
e há a
perspectiva
de
que
os
signos
sejam
tudo.
Nesse
universo
os
entes
têm
entidade,
são
seres
e se relacionam
enquanto
tal,
de
modos
diversos:
por
associações
inesperadas, similaridades,
analogias,
esbarros iluminadores,
presença
pela
ausência,
afirmação
pela
negação,
sistemática
científica.
A
linguagem,
ao
mesmo
tempo
em
que
implode
suas
camadas
de significação,
busca
se
construir
com
clareza
expressiva,
muitas
vezes
encenando poeticamente a
coerência
de
esquemas
lógicos
rigorosos.
Quer
mapear
o
conceito
nos
mínimos
espaços
ou
multiplicá-lo ao
infinito
como
em
Escurissíssimo, do CD
Paradeiro:
“escuríssimo/ escurissíssimo/ escurississíssimo/ escurissississíssimo/
escurississississississi...”[15],
chegando ao
inapreensível,
ao
inaudível,
pela
hipertrofia
do
senso,
que
encontra
sempre
seu
oposto.
É
barroca
conceptista nessa
busca
por
uma
superfície
expressiva
que
se
quer
clara,
mas
que
existe
cheia
de
malabarismos
lógicos,
e,
também,
pela
concepção
poemática
rotativa
de
peças
alternantes. É
construtivamente
moderna
pela
negação
dos
excessos
líricos
sentimentais
e
emotivos,
pelo
jogo
reflexo
entre
sujeito
da
enunciação
e
eus
múltiplos,
pela
incorporação
paródica
irônica
(muito
embora
sua
contraface positivada, a
paródia
que
se desdobra
em
canto
paralelo
tenha
maior
incidência),
pelo
uso
refigurado do
popular,
principalmente
das
máximas,
adágios,
clichês
expressivos,
locuções
coloquiais,
gírias,
palavrões.
E é pop
quando
quer
afirmar,
segundo
suas
próprias
palavras,
“a
potência
das
letras
diretas, das
melodias
fáceis e das
batidas
primárias”,
pois
“nem
tudo
que
se tem se
usa”,
combatendo...
...um
tipo
de
pensamento
que
supervaloriza a complexidade,
enquanto
parâmetro
de
qualidade
artística.
Confunde
precariedade
com
pobreza,
sinteticidade
com
banalidade,
acabamento
com
concepção.[16]
Arnaldo
trabalha
com
livros-conceito, CDs-conceito,
que
se configuram
como
uma
proposta,
um
projeto
de
idéias
que
atravessa e organiza,
por
contaminação
lógica
ou
poética,
cada
parte
da
obra.
Nome
(1993),
seu
primeiro
CD, vindo à
luz
também
como
vídeo-home e
como
livro,
conceitua o
jato
que
principia o
verbo,
a
gênese
descarnada
do
mundo,
que
funda
o
ser
ao nomeá-lo.
Imagens,
fotomontagens,
poemas
visuais,
gráficos,
plásticos
em
formas
geométricas se inter-relacionam
com
as
letras
no
encarte
do CD. A
primeira
foto/letra
chama-se Fênis, musicalmente
apenas
respiração
e
programação
eletrônica,
o
renascer
da
criação,
é uma
espécie
de
buraco
negro
branco,
um
sorvedouro
das
letras
vermelhas,
que
levam
para
outra
dimensão[17].
E
que
propicia a
apreensão
de
diálogos
internos
à
obra,
intratextuais, a
partir
da
idéia
mágica
de
início
de
aventura,
mudança
de
mundos
como,
por
exemplo,
o “Abre-te,
cérebro”[18]
paródico
que
descortina
o
livro
As
Coisas
(1996), e a
epígrafe
de Dante, ‘Lasciate ogni speranza voi ch’entrate’,
que
inicia o
poema
Inferno[19].
A
palavra
Fênis sugere
ainda,
por
similaridade fônica, a
palavra
pênis,
tanto
que
está
escrita
com
s e
não
com
x, permitindo a
leitura
de
que
uma
cópula
som/letra,
fênis/buraco
negro
branco,
música/imagem
engendrará o
primeiro
Nome.
A
letra
seguinte
do CD é
Diferente
e faz uma
arqueologia
poético-filosófica da
estranheza
criativa,
no
mito
do
Eterno
Retorno
dos
seres
diferentes
que
“falam
outra
língua
pela
nossa
voz”,
“que
fazem
companhia
mas
estamos
sós”,
mas
que
“têm os
olhos
grandes
para
ver
melhor/
eles
têm a
boca
grande”[20].
Em
jogo
intertextual
com
a
famosa
passagem
da
fábula
de Chapeuzinho
Vermelho
-
em
que
o lobo-mau se traveste de vovó esperando a netinha na
cama
e esta, reparando na
diferença
de
formas
na vó/lobo,
exclama e
pergunta
sobre
tais
estranhezas,
com
o
lobo
respondendo
que
olhos
boca
orelhas
nariz
são
grandes
para
usar
melhor
os
sentidos
-,
são
introduzidos os
nomes,
os
seres
da
linguagem
poética
que
se constitui de
nomes
no
mundo,
que
vão
querer
comer
o
mundo.
A
imagem
de
origem
do
estranho
que
interage
com
o
poema
no
encarte
é a de uma
foto
de
um
feto
nos
meses
iniciais,
gerado da
cópula
letra/som,
que
se assemelha a
um
ET,
flutuante
no
cosmos,
no
líquido
aminoácido,
no
nada.
Em
Fora
de
si,
do CD
Ninguém,
no
trecho
“eu
fico
oco/
eu
fica
bem
assim/
eu
fico
sem
ninguém
em
mim.”[21],
o
uso
do
verbo
na
terceira
pessoa,
fica, inicia a
trajetória
de relacionamento do
estranho
com
o
outro
e faz do
eu
ele,
do
criador
criatura,
do
sujeito
expandido romântico
voz
lacunar cabralina, do
ser
existencial
linguagem
poética,
a
partir
da
contribuição
milionária
de
todos
os
erros
oswaldianos.
Por
outro
lado,
a
terceira
pessoa
materializa a
saída
de
si,
cristaliza a
presença/ausência
do
outro,
e o
ente
ninguém
se
torna
o
mesmo.
Na
verdade,
como
em
O
seu
olhar,
do
mesmo
CD, “o
seu
olhar
seu
olhar
melhora/
melhora
o
meu”[22],
alteridade
e mesmidade atuam
juntas
na
compleição
do
ser.
Pois,
em
O
Buraco,
do CD
Silêncio,
“o
buraco
ensina
a
caber/
a
semente
a
não
caber
em
si”[23],
e
caber
em
si
pode
ser
ficar
preso
no
Buraco
do
espelho,
do
mesmo
CD,
que
não
dá
acesso
ao
lado
de
cá,
à
comunicação
com
o
mundo:
“Mesmo
que
me
chamem
pelo
nome/
Mesmo
que
admitam
meu
regresso/
Toda
vez
que
eu
vou a
porta
some”[24],
ou
ficar
sem
comando,
como
no
poema
sem
com,
do
livro
2
ou
+
corpos
no
mesmo
espaço:
“sem/
mim/
ando/
com/
igo/ sigo/
sem/
com/
ando[25].
A
semente
que
cai no
buraco,
o
encontro,
produz o
nós,
poema
do
mesmo
livro:
“eu
e
você/
sob
o
mesmo
nós/
dois,
sóis/
sob
o
mesmo
pôr/
(o
enigma
do
amor)/
do
sol/
onde
todo
o
contorno
finda”[26],
e
aí
sair
de
si
pode
significar
o
paraíso,
como
na
canção
Paradeiro,
do Cd do
mesmo
nome:
“Haverá
paraíso/
sem
perder
o
juízo
e
sem
morrer?”[27].
Mas
há
também
um
nós
tribal,
comunitário
que
se apresenta na
poética
de Arnaldo, é o
nós
da
letra
da
época
dos
Titãs
Comida,
ou
de Volte
para
o
seu
lar,
do CD
Um
som.
Na
primeira
letra,
é
porta-voz
inserido
em
uma
coletividade
que
exige
alimento
para
o
corpo
e
para
o
espírito,
dinheiro
e
prazer,
uma
cidadania
inteira
e
não
pela
metade:
“A
gente
não
quer
só
comida/
A
gente
quer
comida,
diversão
balé/
A
gente
não
quer
só
comida/
A
gente
quer
a
vida
como
a
vida
quer”[28].
E
que
critica os
que
se inserem na
vida
social
já
pronta,
sem
questionamentos, se mantendo na
rotina
adestradamente,
como
na
letra
de
Tudo
em
dia,
do CD
Domingo
dos
Titãs:
“Vou
ter
conta
no
banco,
vou
trabalhar
no
escritório/
Vou
tomar
um
chopp, vou
tomar
sorvete/
Vou
tomar
remédio,
que
maravilha/
Vou
casar
e
constituir
família...”[29]
Ou
como
em
Família,
também
da
época
dos
Titãs:
“Janta
junto
todo
o
dia/
Nunca
perde essa
mania...”[30];
mantendo o
status
quo de uma
Cidade,
do CD
Paradeiro,
“sem
céu
mas/
com
paisagens
portáteis”,
em
que
miséria,
desigualdade
social,
abandono,
ineficiência
das
forças
públicas,
violência,
sucesso
e
moda
banalizante, compõem
um
quadro
vivo
contraditório
e
inumano:
“lixo
de
domingo
entupindo o
bueiro/
cascas
de
banana
nas
calçadas
da
fama/
crianças
para
enfeitar
as
praças/
mas
não
têm
cama/
camelôs
fugindo da
sirene/
sob
o
sol
a
pino/
o
sangue
da
chacina/
escapou da
jaula
do
jornal
de
hoje/
com
a
pose
da
sessão
fashion...”[31].
A
letra
que
define o
lugar
de
fala
dessa
tribo
de excluídos,
cujos
componentes
nem
choram, sorriem
ou
seguem à
toa,
procurando a
realização
de uma
cidadania
fundada
em
outras
bases,
é Volte
para
o
seu
lar.
A
crítica
é à boa
educação:
“Nos
dias
que
tem
comida
comemos
comida
com
a
mão.../
Nós
rimos
alto,
bebemos e falamos
palavrão”;
e
também
à catequização e
orientação
recebida
sem
crítica:
“Falamos a
sua
língua
mas
não
entendemos
seu
sermão.../
Não
temos
perspectiva
mas
o
vento
nos
dá a
direção...”.
Os
elementos
que
podem
desagregar
alguém
do
grupo
são
“a
polícia
a
doença
a
distância
ou
alguma
discussão”[32];
portanto,
sem
a
religião
oficial
ou
os
valores
oficiais,
contra
a
polícia,
“contra
o
que
for
hereditário”,
como
na
letra
de
Hereditário,
da
época
dos
Titãs[33],
com
modos
próprios,
longe
dos
padrões
ilustrados de
educação.
A
tribo
imaginária,
com
isso,
pode se
inserir
no
paradigma
das
vozes
culturais
marginais,
desreprimidas,
que
se entremostram na pós-modernidade
sem
mediações
paternalistas,
distantes
da
cultura
hegemônica,
das
idéias
nacionais
unitárias, dos
valores
iluministas burgueses, querendo
afirmar
sua
diferença
e
estranheza
particular
no
concerto
de
vozes
globalizadas, e
que
no
fundo
é
apenas
mais
um
outro
modo
de
vida
coletiva
convivendo no
planeta.
Tudos
Tudos
(1990),
seu
segundo
livro,
é a semiose realizada, o signo-coisa.
Máquina
de
desconstruir
o
mundo
e
tecer
poemas.
Permitindo
que
tudo
esbarre
em
tudo.
Na
primeira
orelha
do
livro
há uma
foto
avermelhada de
um
bico
de
filhote
de
pássaro
muito
aberto,
faminto
de
alimento
regurgitado, a
comida
esperada trazida
pelo
pássaro
mãe.
Essa
imagem
pode
ser
lida
como
uma
metáfora
da
reciclagem
contemporânea
do
excesso
de
informações
transnacionais
e interdiscursivas
que
a
obra
realiza,
não
mais
apenas
a
antropofagia
modernista, o
desejo
de
devorar
o
melhor
do
outro
para
construir
uma
identidade
própria,
mas
o
tênue
contorno
identitário
mutante
e reordenável
contemporâneo,
alimentado
por
uma
mescla
seletiva
multitemporal e desterritorializada das
vozes
do
mundo.
Fome
de
todos
os
tudos,
todos
os
mundos,
discursivos, culturais,
científicos,
de todas as
formas
de
vida.
As antigas
totalidades
especializadas e unidades-coisas se misturam
com
o
líquido
digestivo
da
mãe
criação
e alimentam, híbridas, os
poemas
do
livro.
Na
última
página,
uma
fotomontagem
do
poeta
com
cinco
bocas
sobrepostas num
rosto
composto
só
de
bocas,
todas
com
um
leve
sorriso
saciado. A deglutição polifágica do
mundo
criado
e do
mundo
incriado, do
mundo
da
natureza
e do
mundo
astrofísico,
dos
nadas
e
silêncios,
de
Tudos[34]
discursivos
refeitos
em
linguagem
contaminada, transdisciplinar e
artística,
duplo
do
universo
em
semiose
infinita
sob
as
leis
paradoxais
e reconfigurantes da
poesia.
No
ato
de
desentranhar
poético do não-poético, Arnaldo Antunes negocia
com
métodos,
vocábulos
e
composições
das
ciências
naturais,
principalmente
a
física
e a
biologia.
Nessa contaminação
com
as
ciências
- César Lattes diz
que
“A
ciência
é uma irmã
caçula
(talvez
bastarda)
da
arte”[35]-,
o
poeta
pop possui
um
antecedente
ilustre
na
poesia
brasileira
em
Augusto
dos
Anjos,
de
quem,
aliás,
musicou
um
poema,
Budismo
Moderno,
no CD
Ninguém
(1995). O
conceito
microbiológico de
cultura:
“bactérias
num
meio
é
cultura”
se distende
para
o macrobiológico da
vida
dos
animais
em
geral
na
natureza:
“o
girino
é o peixinho do
sapo”,
ou
domesticados: “o
bigode
é a
antena
do
gato”,
e de
corpos
que
se tornam
estranhos/
comuns
ao
meio,
as
situações
culturais humanas: “...o
silêncio
é o
começo
do
papo/...a
batalha
é o
começo
da
trégua/...o
desejo
é o
começo
do
corpo...”,
na
letra/poema
Cultura,
do CD
Nome.
O
método
experimental de
observação
dos
fenômenos,
estimulando a
descoberta
de
leis
ou
princípios,
é
expresso
por
fórmulas
poéticas
em
que
entes
e
espécies
se misturam
dentro
da
realidade:
“o
cabrito
é o
cordeiro
da
cabra”,
entre
o
fantástico
e o
natural:
“papagaio
é
um
dragão
miniatura”
ou
se humanizam: “...o
pescoço
é a
barriga
da
cobra.../...as
raízes
são
as
veias
da
seiva...”[36].
O
cultivo
dos
signos
parece se
dar
sob
influxos
da
física
moderna,
em
que
as
coisas
são
probabilidades
de
eventos,
ondas
de
energia,
caminhos
de uma
teia
dinâmica
interconectada,
sem
partes
estanques,
objetos
sólidos
ou
determinismos.
O
universo
é
um
todo
composto
sem
dualidades demarcadas. O
observador
assume uma
importância
fulcral nesse
contexto,
uma
vez
que
apreende o
mundo
de
um
modo
específico,
sem
compromisso
com
uma
única
realidade.
No
poema/letra
O
macaco,
do CD
Nome,
uma
encenação
lúdica
desses
eventos
apreendidos
como
energia,
numa
linguagem
que
parodia as
construções
lógicas
científicas, ocorre na
medida
em
que
refunda
genealogias
evolutivas de
espécies:
“...o
homem
veio
do
macaco/
mas
antes
o
macaco
veio
do
cavalo/
e o
cavalo
veio
do
gato/
então
o
homem
veio
do
cavalo...”;
ou
semelhanças
que
definem
gêneros:
“...as
crianças
parecem
com
micos/
os
papagaios
falam o
que
as
pessoas
falam/
mas
não
parecem
pessoas...”;
mais
uma
vez
na
perspectiva
da
mistura
de
culturas:
“...pessoas
se parecem
com
peixes/
quando
fazem
bolas
de chiclet/
macacos
desaparecem/
peixes
parecem
peixes/
micróbios
não
aparecem/
todos
se parecem/
pois
diferem.[37]
A
ciência
que
desponta na
obra
de Antunes é A
ciência
em
si,
nome
da
letra
em
parceria
com
Gilberto Gil
que
se
encontra
no CD experimental
artístico/religioso/científico
do
compositor
baiano,
Quanta.
A
ciência
ela
mesma,
método
e
linguagem
de
prospecção
do
mundo:
“...Se
toda
coincidência/
Tende a
que
se entenda..”; e
mito
da
razão:
“...E
toda
lenda/
quer
chegar
aqui...;
mas
é
também,
de
modo
complementar,
a “...ciência
da abeia/ da
aranha
e a
minha/
(que)
muita
gente
desconhece... “[38],
da
letra
de João do
Vale
e Luiz Vieira, a
ciência
do
criador
que
“...não
se aprende.../a
ciência
apreende/ A
ciência
em
si”.[39]
Se
nos
permitirmos a
leitura
de
mais
uma
camada
de significação do
sintagma
ciência
em
si
como
uma
obra
musical
clássica
definida
em
seu
tom,
em
si,
juntaremos as duas
acepções,
pois
si
é a
última
nota
de
nossa
escala
modelo
de
música,
o
limite
da
altura
do
som
padrão,
metáfora
do
extremo
epistemológico da
ciência
na
civilização
material
ocidental,
a
ciência
em
seu
limite,
atingindo,
com
isso,
seu
oposto
complementar,
a
arte,
o
sintagma
se realizando
assim
como
oxímoro,
com
dois
semas
em
tensão.
As duas
versões
da
ciência
apreendem
realidades,
são
formas
de
ver
e
recortar
o
mundo,
de
construir
linguagens,
daí a
importância
de se
desmitificar
a
idéia
evolutiva,
poetizando a
ciência:
“...Se a
crença
quer
se
materializar/
Tanto
quanto
a
experiência
quer
se
abstrair...”
Com
isso,
ambas podem se
tornar
modelos
em
diálogo,
se permitindo a
convivência
no trans, ao assumirem
seus
limites
não-absolutos, distanciados de
perspectivas
teleológicas e da
obstinação
de uma
verdade
única:
“...A
ciência
não
avança/
A
ciência
alcança/ A
ciência
em
si”.[40]
A desconstrução
poética
da
ciência
como
evolução,
com
finalidades
totalizantes, emerge
também
da
apreensão
da
entidade
silêncio,
a
partir
de uma
ordem
regressiva,
involutiva da
história,
dos
produtos
materiais
inventados
pelo
ou
próprios
do
homem,
com
palavras
desierarquizadas definindo
fases,
chegando
até
aos
primórdios
dos
tempos
na
letra/poema
O
silêncio,
no CD do
mesmo
nome:
”antes
de
existir
computador
existia
tevê/
antes
de
existir
tevê
existia
luz
elétrica/
antes
de
existir
luz
elétrica
existia
bicicleta/
antes
de
existir
bicicleta
existia
enciclopédia/
antes
de
existir
enciclopédia
existia
alfabeto/
antes
de
existir
alfabeto
existia a
voz/
antes
de
existir
a
voz
existia o
silêncio/
o
silêncio...”[41].
O
silêncio
precisa
ser
resgatado
em
meio
ao
mar
de
ruídos
contemporâneos,
por
ser
“a
primeira
coisa
que
existiu”. A
educação
dos
sentidos
implicando na
audição
de “um
silêncio
que
ninguém
ouviu”, no
micro
e macrouniversos, na
vida
e na
morte,
nas
partes
internas e
externas
dos
seres:
“...astro
pelo
céu
em
movimento/
e o
som
do
gelo
derretendo/ o
barulho
do
cabelo
em
crescimento/
e a
música
do
vento/
e a
matéria
em
decomposição/
a
barriga
digerindo o
pão/
explosão
de
semente
sob
o
chão/
diamante
nascendo do
carvão...”.
A
letra
termina
com
a
voz
poética
retornando aos
dias
de
hoje,
pedindo
atenção
educada e apaixonada ao silêncio-signo
presente/ausente
em
tudo:
“...vamos
ouvir
esse
silêncio,
meu
amor/
amplificado no
amplificador/
do
estetoscópio
do
doutor/
no
lado
esquerdo
do
peito
esse
tambor”[42].
Lugar
(in)
comum
O multiculturalismo pulsando no
que
a
Antropologia
chama
de
cultura
material,
cujo
conhecimento
traz o
social
para
o
âmbito
do
sensorial,
aparece na
personagem
transnacionalizada, “anjo
sem
asa”,
que
“segue a
moda
de
ninguém”,
“moda
tem a
sua
só”,
da
letra
Na
massa
do CD
Paradeiro.
Mesclando
informações
diversas,
lixo
reciclado,
fantasia
de
carnaval,
badulaques
múltiplos,
o
poeta
compõe
um
tipo
híbrido:
“...
roupa
de princesa/
em
pele
de
plebeu...”,
nas
falas
e
nomes
de
coisas:
“...vai de my cherri/ vai de mon amour.../
manto
de
garrafa
pet.../
óculos
Ray-ban/
raios
de
tupã...”,
nas
roupas:
“...no
corpo
collant.../
camiseta
de Che Guevara.../ de
biquíni
xale
bata
ou
avental.../
turbante
importado/
lá
de Bagdá.../ México
chapéu
cabana.../
tanga
de
miçanga
fina...”,
nos
apetrechos:
“...jóia
de
bijuteria/
lantejoula
e
purpurina.../
ou
com
lenço
de
cigano.../
capacete
de
bacana.../
gargantilha
no
cangote.../
plástico
metal/
árvore
de
natal...”,
no
corte
de
cabelo:
“passa
de
cabelo
moicano” e
nos
movimentos:
“...anda
de abada/
dança
o bragada...”.
Pele
e
roupa
se confundem: “...usa
a
roupa
da
pele
da/
roupa
da
pele
da
roupa...”,
numa
construção
exterior
que
sugere o
interior
ao
mesclar
produtos
arcaicos
e high tech,
vetores
das
relações
sócio-culturais, procurando uma
identidade,
uma
diferença
“na
massa”,
mas
que
também
se desconstrói na
medida
mesmo
em
que
“some na
massa”[43].
O
nome
do
livro
dois
ou
mais
corpos
no
mesmo
espaço
(1997) nasce da reconfecção de
um
adágio
popular
oriundo
da
física,
de
que
dois
corpos
não
podem
ocupar
o
mesmo
espaço.
Entretanto,
no
mundo
da
poesia
o
impossível
se concretiza, a
expressão
ressurge
com
as
palavras
que
a compõem sobrepostas num
mesmo
espaço,
numa
espécie
de
ilusionismo
gráfico
na
página
do
livro.
Redesenhar
sentidos
nas frases-feitas,
como
se fossem
massa
de
modelar,
é
um
dos procedimentos
recorrentes
na
poesia
de Arnaldo Antunes.
Não
foi à
toa
que
regravou
Lugar
comum,
canção
de João Donato e Gil, no
CD
Ninguém,
cuja
letra
indica
que
o “lugar
comum”,
ao
invés
de
ser
abandonado
ou
encarado
com
indiferença,
pode
vir
a
ser
o
ponto
de
partida
para
o
incomum:
“beira
do
mar/
lugar
comum/
começo
do
caminhar/
pra
beira
de
outro
lugar...[44].
No
livro
Psia (1986),
feminino,
segundo
o
autor,
do
ruído
oral
significativo
psiu[45],
também
corruptela
da
palavra
poesia,
ratificando o mergulho
radical
na coloquialidade, uma das
fontes
modernas de
sua
poética,
a
frase
que
abre o
livro
é uma
espécie
de
diálogo
com
o
bordão
popular
Quem
com
ferro
fere,
com
ferro
será ferido, colocado
em
xeque
a
partir
da
mudança
do
tipo
de
metal
que
fere: “Quem
com
ouro
fere?”[46].
A
expressão
Ponha a
mão
na
consciência,
que
chama
a
si
quem
perdeu a
razão
por
motivo
qualquer,
aparece revigorada
em
tom
libertário
na
letra
Consciência,
do CD
Ninguém:
“tire a
mão
da
consciência
e
meta/
no cabaço da
cabeça/
tire a
mão
da
consciência
e ponha/ no
buraco
da
vergonha...”[47].
Em
Decida, do CD
Um
som,
as
expressões
de
situações
limites
Ou
dá
ou
desce e é
agora
ou
já,
aparecem invertidas e
reempenhadas: “...Decida/
Ou
desce
ou
desce/
Ou
dá
ou
dá/ Decida/ É
agora
ou
já/
É
agora
ou
já...”[48].
A
máxima
liberou
geral,
que
usualmente
tem o
sentido
popular
de
vale
tudo,
de
mundo
às
avessas
das
inversões
carnavalescas, reconcebida na
letra
Macha
Fêmeo,
do CD O
silêncio,
vira
“liberal
gerou”[49],
sugerindo o
significado
politicamente
correto
que
o
mundo
liberal
propiciou à
questão
das
sexualidades
alternativas.
Alguns
poemas
circulam
com
roupagens
diferentes,
em
diferentes
veículos
expressivos,
numa reconfiguração intratextual
que
reforça
a
idéia
de
máquina
lúdica
em
que
as
peças
se alternam na
produção
rotativa
de
significados.
Nesse
universo
dinâmico,
impulsionado
por
energia
vital,
o
verdadeiro
Inferno
(poema
do
livro
2
ou
+
corpos
no
mesmo
espaço)
é o não-movimento, o não-reciclado,
tudo
o
que
pára e acaba: “Aqui
a
asa
não
sai do
casulo,
o
azul/
não
sai da
treva,
a
terra/
não
semeia, o
sêmen/
não
sai do
escroto,
o
esgoto/
não
corre,
não
jorra/
a
fonte,
a
ponte/
devolve ao
mesmo
lado,
o
galo/
cala,
não
canta
a
sereia,
a
ave/
não
gorjeia,
o
joio/
devora o
trigo,
o
verbo
envenena...”. No
entanto,
como
se fosse uma
paisagem
passageira,
a
terra
devastada
vivida
ou
vista
da
janela
também,
de
algum
modo,
passa.
São
universos
paralelos
da
existência
e da
criação,
ambivalentes.
A
circulação
pelo
e a
apresentação
do
Inferno,
onde
o
verbo
envenena, significa
compreensão
da complementariedade das
coisas
no
mundo,
mesmo
que
seja
para
negá-lo: “...como
uma
foto,
a
vida,/
sem
saída,
aqui,/
se apaga a
lua,
acaba/ e continua”[50].
A
letra
da
música
Quero, do CD
Ninguém,
reaparece
como
palavras
de
cartazes
lambe-lambe
colados num
muro
e fotografadas
sob
vários
ângulos,
luzes
e
aproximações
diferentes,
ganhando
assim
novas
leituras
(inclusive
a
interferência
urbana
de uma
sombra
humana
se projetando no
muro
em
questão)
no
livro
2
ou
mais
corpos
no
mesmo
espaço[51].
Dois
refrões
“o
seu
olhar
seu
olhar
melhora/
melhora
o
meu”[52],
da
música
O
seu
olhar
do CD
Ninguém,
e “não
há
sol
a
sós”[53],
da
música
Inclassificáveis, do CD O
silêncio,
são
auto-reciclados
em
poemas
de
sintaxe
espacial,
com
outros
recortes
entre
as
palavras
no
mesmo
livro,
em
versões
em
que
a
mudança
de
contexto
implica, necessariamente,
em
variações de
sentido.
O
poema
em
forma
gráfica
circular
“que
não
é o
que
não
pode
ser”
do
livro
Psia, musicado se tornou
um
dos
maiores
sucessos
dos
Titãs,
com
a
melodia
recuperando o
mote
contínuo
da
letra
gráfica
(uma possibilidade de
circulação
infinita
dependendo da
intensidade
do
olhar
do
leitor,
à
moda
dos
círculos
de
laboratórios
que
só
se movimentam se ratinhos entrarem e correrem,
não
saindo do
mesmo
lugar),
que
permite múltiplas
leituras
interseccionantes[54].
A
exploração
de
elementos
da
poética
oswaldiana se dá
em
diferentes
níveis,
com
os
mitos
da
invenção
e da
surpresa,
próprios
da
lírica
moderna
e do
poeta
modernista, funcionando
como
vetores
conceituais da
obra
mesma
de Antunes.
Como
exemplos
desse
diálogo,
o poema-minuto
Agora:
“já
passou “[55];
ou
o micropoema
rio:
“rio:
o
ir”[56].
Também
as
ilustrações
infantis, primitivistas da
forma
externa[57],
do
livro
As
coisas,
feitas
por
sua
filha,
em
sintonia
com
os
poemas
do
pai
que
trabalham
com
fatos
e
coisas
do
mundo
apresentados
como
se fossem
vistos
pela
primeiras
vez
– “ver
com
olhos
livres”[58]-,
desentranhando didaticamente
poesia
do
óbvio,
do
banal,
em
frases
em
sua
maioria
sentenciosas e explicativas, num
resgate
do
sentido
puro
e da
inocência
construtiva
em
arte
como
nestes
exemplos
de
poemas
colhido no
livro
As
coisas:
A
boca:
“Dentro/
da bo-/ ca é/ es-/ curo”[59];
O
tempo:
“O tem-/ po
todo/
o
tempo/
passa”[60];
O
dinheiro:
“Dinheiro
é
um
pedaço
de
papel.
O/
céu
é
um.
O
céu
na
foto
é
um
pedaço/
de
papel.
Pega
fogo
fácil.
Depois
de/
queimar
dinheiro
vai pro
céu
co/ mo
fumaça...”[61];
Os
peitos:
“Mulheres/
têm
dois/
peitos.
Os/
homens
têm/
um
peito
só”[62].
Ainda
a
técnica
modernista,
muito
usada
por
Oswald, da
construção
de palavras-valise
como
na
letra
O
que
significa
isso?,
do CD O
silêncio:
“O
que
swingnifica
isso?”[63]
e,
entre
outros
procedimentos, as
colagens,
montagens
e ready-mades
diversos,
recuperados
também
nos
poemas
gráficos
e
visuais.
As enumerações,
em
que
vocábulos
de
origens
mistas, encampados
em
fluxos
rítmicos, desierarquizados
em
lufadas
verbais,
possibilitam
deslizamentos
entre
os
eixos
paradigmáticos e sintagmáticos da
linguagem,
vêm a
lume
com
diferentes
funções
na
poética
de Arnaldo Antunes:
como,
por
exemplo,
hipérbole
de
objeto
de
desejo
multicultural no
poema
em
prosa
sem
título
do
livro
Psia: “porque
eu
te
olhava e
você
era
o
meu
cinema,
a
minha
Scarlet/ O’Hara, a
minha
Excalibur, a
minha
Salambô, a
minha
Nastassia/ Filípovna...a
minha
Capitu, a
minha
Cabocla,
a
minha
Pagu, a
minha/
Barbarella, a
minha
Honey Moon, o
meu
amuleto
de Ogum, a/
minha
Honey Baby, a
minha
Rosemary, a
minha
Marilyn Monroe, o/
meu
Rodolfo Valentino ...“[64];
como
definição
de
qualidades
polidimensionais das
coisas,
no
poema
As
coisas,
do
livro
homônimo:
“As
coisas
têm
peso,/
massa,
volume,
tama-/ nho,
tempo,
forma,
cor,/
posição,
textura,
dura-/ ção,
densidade,
cheiro,/
valor,
consistência,
pro-/ fundidade,
contorno,/
temperatura,
função,/
aparência,
preço,
desti-/ no,
idade,
sentido.
As/
coisas
não
têm
paz”[65];
ou,
ainda,
como
desdobramento de
leituras
múltiplas (verticais,
de
cima
para
baixo,
de
baixo
para
cima,
horizontais,
entrecruzadas, intercaladas,
em
quiasmos etc) na
letra
Imagem,
do CD
Nome,
em
que
uma
coluna
de
versos
substantivos
está
diante
de uma
outra
coluna
de
versos
de
verbos,
possibilitando
combinações
insólitas e inesperadas:
palavra
lê
paisagem
contempla
cinema
assiste
cena
vê
cor
enxerga
corpo
observa
luz
vislumbra
vulto
avista
alvo
mira
(...)
[66].
O
desenvolvimento
das
linhas
de
força
que
trabalham
com
a isomorfia
forma/fundo
em
poemas
caligráficos,
visuais,
gráfico-espaciais, cinéticos etc, é
outra
vertente
bastante
rica
na
produção
poética
de Arnaldo Antunes e
que
apenas
ratifica a
ênfase
dada
a
aspectos
experimentais, reciclados das
vanguardas,
em
sua
produção.
Mas
deixaremos
para
outro
artigo,
por
questões
óbvias de
espaço,
a
análise
de
tais
procedimentos. Importa
aqui
é
afirmar,
a
partir
do
que
foi
exposto,
que
o
trabalho
de Arnaldo Antunes,
junto
com
o de Antonio Cicero, Francisco Bosco, Bráulio Tavares, Marcelo Diniz,
entre
outros,
retoma e amplia contemporaneamente uma
linha
criativa
de
nossa
produção
poético-musical,
cujos
antecedentes
mais
óbvios
são
Vinicius de
Moraes,
Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil,
que
se desdobra transitando
livremente,
sem
traumas,
sem
rupturas,
antes
extraindo
potência
poética
dos
choques,
interações,
cruzamentos,
encruzilhadas,
superposições, esbarros,
cantos
paralelos
existentes
entre
alta
cultura
e
cultura
folclórico-popular,
códigos
e
linguagens
diversas,
universo
comercial
massivo e
produção
experimental,
entre
vida
e
poesia,
sem
temer
qualquer
tipo
de contaminação de
vozes,
alturas,
palavras,
sons,
silêncios.
RESUMO
(Português)
A
obra
de Arnaldo Antunes
como
proposta,
criativa
e
didática,
de
diminuição
do
fosso
existente
entre
experimentação
estética
culta
e
comunicação
ligada
à
indústria
do
entretenimento.
A
idéia
base
que
norteia
seu
trabalho
é a de
desentranhar
o
incomum
do
comum,
desautomatizando o
clichê,
com
o
intuito
de
afirmar
a
estranheza,
a
diferença,
espaço
por
excelência
do poético
inventivo,
como
princípio
assimilável
para
um
público
de
massas.
Uma
produção
artística
que
se desdobra
por
várias
mídias,
por
várias
linguagens,
que
incorpora a
diversidade
discursiva e cultural do
mundo
contemporâneo,
transitando
livremente
tanto
pela
cultura
híbrida
popular
comercial
quanto
pelo
universo
seletivo
erudito.
ABSTRACT
Arnaldo Antunes’
work as a creative and didactic strategics that aims to erase the borders
between high art aesthetical experiment and entertainment culture. The
fundamental procedure of his work is that of revealing the strangeness of the
ordinary, through a subversive use of commonplace, in order to affirm difference
- the very locus of poetic invention - as something plausible to be
experienced by a mass public. An artistic production that unfolds itself through
diverse media, assimilating discursive and cultural diversity of
contemporary world, working in the level of popular hybrid commercial culture as
much as in the level of selective, erudite universe.
PALAVRAS-CHAVE
Música
e
poesia.
Experimentação
estética.
Cultura
popular.
Pedagogia
da
estranheza.
Multidiscursividade e
jogo
intersemiótico.
KEYWORDS
Music and
poetry. Aesthetical experiment.
Popular
culture. Pedagogy of strangeness. Multidiscursivity and intersemiotic play.
[1]
ANTUNES, Arnaldo. 40
Escritos.
Org. João
Bandeira.
SP:
Iluminuras,
2000 p.138
[3]
OSWALD
apud
ANTUNES, op. Cit.,
p.21
[4]
Música
de Arnaldo Antunes,
Charles
Gavin, Marcelo Fromer, Sérgio Britto, Toni
Bellotto. LP Go Back dos
Titãs,
WEA, 1988.
[5]
ANTUNES, Arnaldo.
Entrevista
concedida a Júlio Maria,
Jornal
da
Tarde,
11/08/2001.
[6]
Idem,
entrevista
concedida a Jamari França,
Caderno
B do
Jornal
do Brasil, 27/08/1998.
[7]
Idem,
entrevista
concedida a Marili
Ribeiro,
suplemento
Idéias-Livros do
Jornal
do Brasil, 27/09/1997.
[8]
ANDRADE, Oswald.
Obras
Completas
Volume
VI: Do
Pau-Brasil
à
Antropofagia
e às
Utopias.
RJ,
Civilização
Brasileira,
1978. p.14
[9]
ANTUNES, op.
Cit., p.12
[12]
RIPELLINO, Ângelo Maria. Maiakóvski e o
teatro
de
vanguarda.
Tr.: Sebastião Uchoa
Leite.
SP:
Editora
Perspectiva,
1971.p. 129
[13]
ANTUNES
apud
Jackson Araújo,
Internet,
01/02/2001.
[14]
ARAÚJO, Jackson,
Poesia
para
ver
e
vestir,
Internet,
01/02/2001.
[15]
ANTUNES, Arnaldo. Escuríssimo (Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Paradeiro,
BMG/Ariola, 2001.
[16]
Idem,
op. Cit., p.19
[17]
Ibidem.
Fênis (Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Nome,
BMG, 1993.
[18]
Ibidem.
As
coisas.
SP:
Iluminuras,
1996. p.11
[19]
Ibidem.
Dois
ou
+
corpos
no
mesmo
espaço.
SP:
Perspectiva,
Coleção
Signos,
1997. p.58/59. “Deixai
toda
a
esperança,
ó
vós,
que
entrais”,
segundo
a
tradução
de Cristiano Martins: ALIGHIERI, Dante. A
divina
comédia.
Tr., introd. e
notas
de Cristiano Martins.
Belo
Horizonte:
Editora
Itatiaia; SP: Ed. Da
Universidade
de
São
Paulo, 1979. p.120
[20]
Ibidem.
Diferente
(Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Nome,
BMG, 1993.
[21]
Ibidem.
Fora
de
si
(Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Ninguém,
BMG, 1995
[22]
Ibidem.
O
seu
olhar
(Paulo Tatit/ Arnaldo Antunes).
[23]
Ibidem.
O
Buraco
(Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD O
Silêncio,
BMG/Ariola, 1997.
[24]
Ibidem.
O
Buraco
do
Espelho
(Arnaldo Antunes).
[25]
Ibidem,
Op. Cit. (1997), p.16
[27]
Ibidem.
Paradeiro
(Arnaldo Antunes, Marisa
Monte,
Carlinhos Brown).
Encarte
do CD
Paradeiro,
BMG/Ariola, 2001.
[28]
TITÃS.
Comida
(Arnaldo Antunes/ Marcelo Fromer,
Sérgio Britto).
Encarte
do CD
Acústico
MTV, WEA, 1997.
[29]
Idem.
Tudo
em
dia
(Arnaldo Antunes/
Branco
Mello/ Sérgio Britto).
Encarte
do CD
Domingo,
WEA, 1995.
[30]
Ibidem.
Família
(Arnaldo Antunes/ Tony Belloto).
Encarte
do CD
Acústico
MTV, WEA, 1997.
[31]
ANTUNES, Arnaldo.
Cidade
(Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Paradeiro,
BMG/Ariola, 2001.
[32]
Idem.
Volte
para
o
seu
lar
(Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Um
som,
BMG, 1998.
[33]
TITÃS.
Herditário (Arnaldo Antunes/
Titãs).
Encarte
do CD
Acústico
MTV, WEA, 1997.
[34]
ANTUNES, Arnaldo.
Tudos.
SP:
Iluminuras,
1993.
Orelha
da
capa
e
última
página
do
livro
(sem
numeração).
[35]
LATTES, César.
Texto
escrito
para
o
encarte
do CD de GIL, Gilberto,
Quanta,
WEA, 1998.
[36]
ANTUNES, Arnaldo.
Cultura
(Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Nome,
BMG, 1993.
[37]
Idem.
O
Macaco
(Arnaldo Antunes).
[38]
VALE,
João e VIEIRA, Luiz
apud
VELOSO, Caetano. LP
Jóia,
Philips, 1975.
[39]
GIL, Gilberto. A
ciência
em
si
(Arnaldo Antunes/ Gilberto Gil).
Encarte
do CD
Quanta,
WEA, 1998.
[41]
ANTUNES, Arnaldo. O
silêncio
(Arnaldo Antunes/ Carlinhos
Brown).
Encarte
do CD O
Silêncio,
BMG/Ariola, 1997.
[43]
Ibidem.
Na
massa
(Davi
Moraes/
Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Paradeiro,
BMG/Ariola, 2001.
[44]
Ibidem.
Lugar
comum
(João Donato/ Gilberto Gil).
Encarte
do CD
Ninguém,
BMG, 1995.
[45]
Ibidem.
Psia. SP:
Iluminuras,
1998.
Orelha
da
primeira
capa
feita
pelo
próprio
autor.
[47]
Ibidem.
Consciência
(Edgard Scandurra/ Arnaldo
Antunes).
Encarte
do CD
Ninguém,
BMG, 1995.
[48]
Ibidem.
Decida (Edgard Scandurra/ Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Um
som,
BMG, 1998.
[49]
Ibidem.
Macha
Fêmeo
(Paulo Tatit/ Arnaldo Antunes/
Marcelo Fromer).
Encarte
do CD O
Silêncio,
BMG/Ariola, 1997.
[50]
Ibidem.
Op. Cit., (1997), p.58/59
[54]
Ibidem.
Op. Cit., (1998), p.37
[55]
Ibidem.
Agora
(Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD
Nome,
BMG, 1993.
[56]
Ibidem.
Op. Cit., (1997), p.44
[57]
OSWALD, Andrade. Op. Cit., (1978), p.xix.
Prefácio
de Benedito Nunes.
[59]
ANTUNES, Arnaldo. Op. Cit., (1996), p.59
[63]
O
que
significa
isso?
(Arnaldo Antunes).
Encarte
do CD O
Silêncio,
BMG/Ariola, 1997.
[64]
Ibidem.
Op. Cit., (1998), p.25
[65]
Ibidem.
Op. Cit, (1996), p.90
[66]
Ibidem.
Imagem
(Péricles Cavalcanti/ Arnaldo
Antunes).
Encarte
do CD
Nome,
BMG, 1993.