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Resumos

 

 

Machado de Assis e Lima Barreto: da ironia à sátira

 Álvaro Marins (alvaro_marins@yahoo.com.br) 

Durante muito tempo, na percepção crítica de nossas letras, sobreviveu, e ainda hoje sobrevive, a idéia de que Machado de Assis e Lima Barreto seriam antagônicos. Indo mais além, e considerando o imaginário de nossa intelectualidade de uma maneira bastante ampla, o senso comum de que Machado de Assis seria o escritor oficial e Lima Barreto, o maldito, continua sólido e, pode-se dizer, pouco questionado.

O antagonismo também se deve ao fato de que as primeiras tentativas de aproximação feitas pela crítica na primeira metade do século XX opuseram os dois escritores em termos de estilo: o primeiro seria mais correto e o segundo mais “desleixado”. Por outro lado, os defensores do autor de Policarpo Quaresma adotaram como estratégia para sua valorização bater na tecla da suposta ausência de negritude em Machado, proclamando, em contrapartida, o posicionamento explícito de Lima Barreto nessa questão. Argumentavam, por exemplo, que Machado, sendo um mulato, e vivendo em pleno período abolicionista, não engajou sua literatura nessa campanha.

Ao final do século XX, entretanto, nota-se uma mudança de rumo nas metodologias críticas dos estudiosos e hoje é possível fazer uma releitura dos dois autores com base em novos paradigmas críticos. 

 

Álvaro Marins é doutor em Teoria Literária e mestre em Literatura Comparada pela UFRJ. Professor adjunto de Literatura Brasileira e de Teoria Literária do Centro Universitário da Cidade. Autor de Machado de Assis e Lima Barreto: da ironia à sátira é também o organizador, junto com Fred Góes, do volume Melhores poemas de Paulo Leminski.

 

 

O sentido social da forma literária   

 André Bueno (bueno_andre@ig.com.br)

 O trabalho consiste numa abordagem resumida da relação literatura e sociedade, texto e contexto, forma literária e processo social, tendo como centro da análise os problemas, simétricos e complementares, das reduções entendidas como formalismo e sociologismo. De um lado, o texto entendido como realidade formal em si mesmo, sem vínculos com referentes externos. De outro, o texto pensado apenas como parte de um contexto social e histórico, sem levar em conta sua dimensão formal e a construção de sua estrutura. No vértice do assunto, a categoria crucial da mediação estética, que permite pensar relações dialéticas entre literatura e sociedade, texto e contexto, forma literária e processo social.

Tendo sempre em vista o senso cuidadoso das mediações, é possível evitar as reduções que pendem ora para o texto, ora para o contexto, superando assim o que pode ser entendido como um falso problema. Por extensão, o argumento sustenta que a ponta avançada da literatura não precisa estar nos textos que propõem rupturas ostensivas e que enfatizam o tempo todo sua consciência da linguagem e dos artifícios da criação literária, como que isolando a literatura de qualquer realidade externa. No outro extremo, argumenta-se que a defesa enfática da consciência social, das causas políticas em sua evidência mais próxima, marcando a presença ideológica ostensiva do autor em sua obra, não representa garantia de literatura mediada e bem elaborada.

 

André Bueno é mestre em Literatura Brasileira pela PUC - Rio (1979), doutor em Teoria Literária pela UFRJ (1987), pesquisador do CNPq, professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na faculdade de Letras da UFRJ, consultor científico do CNPq, Capes, SESU-MEC, Faperj e UFRJ.  Publicações recentes: Pássaro de fogo no Terceiro mundo - o poeta Torquato Neto e sua época (Rio:7 Letras, 2005); Formas da crise - estudos de literatura, cultura e sociedade (Rio:Graphia Editorial, 2002); O mosaico da memória (revista Terceira Margem, 2005); Memórias do futuro - mitos do Brasil moderno (Nação-invenção: ensaios sobre o nacional em tempos de globalização, Rio:Contracapa, 2004).

  

 

A letra da canção e a letra do poema

 André Gardel (agardel@msm.com.br) 

Desbordar do âmbito das oposições e hierarquias, dos preconceitos e das camisas-de-força de projetos estético-ideológicos, as reflexões sobre as aproximações e fugas entre a poesia cantada e a escrita. Deslocar a questão para o campo, nem por isso menos minado, da cultura. A criação poética, a experiência artística no mundo contemporâneo  pensada em termos de atividade extraordinária/ ordinária, comum a todo o processo de construção da sociedade e de arte social esteticamente interessada/ desinteressada.

 

André Gardel é poeta, compositor de música popular e doutor em Literatura Comparada pela UFRJ. Publicou os seguintes livros de poesia: ...e o diabo a quatro (1991), Abre o azul (2000) e Poemas de Nova York (2002). Sua dissertação de mestrado, O encontro entre Bandeira & Sinhô, foi vencedora do Prêmio Carioca de Monografia de 1995, editada no ano seguinte pela Secretaria de Cultura do RJ. Publicou pelo Arquivo Geral da Cidade a biografia de Vinicius de Moraes: Vinicius, poeta do encontro (2001). Lançou ainda, de modo independente, o CD Sons do poema (1997). Em 2006 lançará seu segundo CD: O vôo da cidade; e o seu quarto livro de poesias: A letra do poema. Escreve resenhas sobre poesia e música popular para o suplemento Idéias do Jornal do Brasil. É professor de Literatura Brasileira, Portuguesa e Dramática da UniverCidade.

 

 

Laudelim Pulgapé, o cancionista do sertão

 André Vinícius Pessoa (andreviniciuspessoa@hotmail.com)

 

No conto Recado do Morro, de João Guimarães Rosa, que pertence ao Corpo de Baile, o personagem andarilho Laudelim Pulgapé, com suas canções, traz em si a experiência arcaica dos aedos. Diz Jaa Torrano que os aedos, poetas-cantores da antiga Grécia, representavam “o máximo poder de tecnologia da comunicação”. Violeiro virtuose que tem sua arte reconhecida com honras pelos que professam o linguajar dominante, Laudelim Pulgapé carrega traços de um discurso tradicional e inteiramente compatibilizado com o seu tempo. O cancionista do sertão, diz o narrador, é merecedor de umflorão de cantador-mestre”. Sua mais nova composição, apresentada no conto é o próprio recado do morro - destinado ao protagonista Pedro Orósio - em forma de canção. No enredar de seus versos, são sintetizados elementos dispersos encontrados ao longo da narrativa, que antes eram obscuramente captados e transmitidos por personagens marginais, viventes de uma dimensão poética e originária.

 

André Vinícius Pessôa é poeta, músico, jornalista (formado pela PUC-Rio) e mestrando em Ciência da Literatura na UFRJ.

 

 

O popular e o erudito - Ariano Suassuna e suas dualidades 

Anna Paula Lemos (annapaulalemos@gmail.com)  

O popular e o erudito caminham lado a lado e representam uma dualidade que se mostra em movimento constante em toda a obra de Ariano Suassuna. No Romance da Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai e volta que, segundo ele, é uma síntese de tudo o que fez e pensou até agora, a dualidade está inclusive na própria imagem da Pedra - dois rochedos gêmeos da região da Pedra Bonita, divisa de Pernambuco e Paraíba, no meio árido do sertão do Cariri. Durante todo o romance, contado de forma epopéica pelo narrador Dom Pedro Diniz Quaderna, é possível observar também outras dualidades, não menos interligadas: o Brasil Real e o Brasil Oficial, o sagrado e o profano, o arcaico e o moderno, a literatura oral e a escrita, o local e o universal. Do ponto de vista do Castelo Poético, da cegueira alegórica e dialética do narrador Quaderna. Da vida como um picadeiro do circo. Da estetização da morte como força, como vontade de imortalidade e de ressurreição Mesmo que essa força não mude a pedra de posição efetivamente, mesmo que seja inútil, a ação de força, a pura e simples intenção da ação é necessária para a vida dessa cultura popular que Suassuna, um erudito, defende diante da modernidade.

 

Anna Paula Lemos é jornalista, produtora cultural e mestranda em Literatura Comparada pela UFRJ.

 

 

Modernização às avessas: o caso da Argentina 

Ary Pimentel (UFRJ) 

             Um projeto de nação baseado na negação do outro, os modelos de civilização dominantes na construção do cenário moderno na periferia, a incursão à periferia da periferia e a cartografia cultural da cidade. Estes são alguns dos temas que pretendemos pensar a partir de um olhar sobre Adán Buenos Aires, de Leopoldo Marechal, uma das mais importantes narrativas que encenam no espaço literário as tensões do processo de modernização tardio e excludente da Argentina.

Doutor em Literatura Comparada pela UFRJ, com a Tese Literatura, imagem & ação: intelectuais massas e poder no discurso cultural argentino, e Professor Adjunto de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade de Letras da mesma universidade. Desenvolve atualmente o projeto de pesquisa intitulado “Imagens do mundo do Outro”. É autor de diversos artigos em revistas, entre os quais “A invasão do labirinto: a casa e a cidade na literatura Argentina” (Hispanismo 2002. Vol. II – Literatura Hispano-Americana. São Paulo: ABH, Humanitas, 2004, p. 103-112.).

 

 

Grande sertão: veredas um grande romance e alguns impasses para a crítica

Danielle Corpas (danielle.corpas@terra.com.br) 

É consenso conhecido até por quem nunca leu Grande sertão: veredas que o romance de Guimarães Rosa constitui um dos mais altos momentos da literatura em língua portuguesa. Os críticos não se cansam de coroá-lo com elogios, sendo um dos mais freqüentes talvez o mais freqüente sua caracterização como grande-obra-estética-que-se-abre-às-mais-diversas-possibilidades-de-leitura. Em meio a essa euforia geral, 50 anos depois do lançamento do livro, subjazem alguns impasses interpretativos referentes à relação entre a narrativa de Riobaldo e a extensão (e as tensões) da matéria histórica plasmada nela. Que o grande sertão não é uma região geográfica delimitada, sabemos há muito tempo. Mas qual é o acúmulo crítico de que dispomos para discutir o peso que têm na configuração estética as particularidades de processos sociais vividos neste país? A passagem do sertão ao mundo, como perguntou certa vez José Antônio Pasta Jr., é imediata oupassa por uma mediação essencial, que é o Brasil”? Como a crítica literária brasileira tem lidado com esse questionamento? Como tem operado com as formas de uma experiência social específica ao tratar de um texto encharcado de misticismo universalizante? São essas as perguntas que se colocam no horizonte deste trabalho.  

 

Danielle Corpas é mestre em Literatura Comparada pela UFRJ. Integra o Grupo Formação. Foi editora da revista Range Rede e professora substituta dos departamentos de Ciência da Literatura da UFRJ e de Literatura Brasileira e Teoria Literária da UERJ. Atualmente, é doutoranda em Teoria Literária na UFRJ e redige tese a respeito da crítica de Grande sertão: veredas.

 

 

Cultura popular, identidade e memória. Em cena: o teatro brasileiro dos anos 90. 

Denise Espírito Santo (deniseespirito@uol.com.br) 

Este texto se propõe refletir sobre as montagens teatrais brasileiras, que, nas duas últimas décadas do século XX, orientaram-se por um teatro de fontes populares, servindo, em justa medida, para o debate sobre o lugar das pequenas tradições num contexto de globalização e cultura de massa. Esta produção vem se destacando com base numa aguda consciência da singularidade cultural do nosso país e se opõe abertamente a uma idéia de teatro popular que fez história no Brasil a partir dos anos 1960-1970. 

Denise Espírito Santo é doutora em Teoria Literária pela UFRJ, professora visitante do Instituto de Artes da UERJ, professora de Ensino de Arte UBM, pesquisadora e diretora de teatro.

 

 

Lírica e sociedade: a poesia de Ferreira Gullar

Eleonora Ziller Camenietzki (eleonoraziller@ceac.ufrj.br) 

Este trabalho pretende discutir a produção poética de Ferreira Gullar durante a primeira metade da década de 1960 e a sua perspectiva de construção da Revolução Brasileira, ou seja, de um projeto de libertação nacional. A operação mais difícil, tentada por Gullar, nesse período, é a de compatibilizar a sua criação como poeta e a militância partidária. Durante a década de 1980, com a redemocratização do país, a crítica avaliou essa experiência a partir de conceitos sociológicos como o populismo, que migrou da política e se estendeu por todos os campos de saber, tornando-se uma espécie de chave inquestionável paraentender” o período. Pretende-se rever as bases na qual este debate foi proposto e identificar o caráter histórico e circunstancial do conceito de populismo e de sua inadequada aplicação à poesia de Ferreira Gullar. 

Eleonora Ziller Camenietzki é doutora em Literatura Comparada, vice-coordenadora do Centro de Estudos Afrânio Coutinho da UFRJ, inaugurado em março de 2005 e professora substituta de Literatura Brasileira nessa Unversidade.  

 

Poema, letra e livro

Eucanaã Ferraz (correio@eucanaaferraz.com.br) 

As relações entre o poema e a letra de música, entre esta e o livro. Letra e poema pensados como peças do intertexto da cultura. O convívio no espaço do livro-antologia. Os falsos conflitos e as diferenças essenciais. Entretenimento versus institucionalização. As diferenças entre os suportes, as especificidades estruturais dos gêneros. A conciliação: o horizonte das linguagens e a utopia do conhecimento como prazer e aventura. Duas experiências editoriais: os livros Letra e Veneno antimonotonia.

 

Eucanaã Ferraz é professor de Literatura Brasileira na UFRJ. Como poeta publicou Martelo, Desassombro e Rua do mundo. Organizou Letra , seleção de letras de Caetano Veloso, Poesia completa e prosa de Vinicius de Moraes e a antologia Veneno antimonotonia. Com Antonio Cicero, elaborou a Nova antologia poética de Vinicius de Moraes.

 

 

"Letra de música é poesia?"

Francisco Bosco (franciscobosco@terra.com.br)

O objetivo dessa exposição é fundar bases teóricas mais pertinentes para se pensar a canção popular e, notadamente, a relação entre poema e letra de música. Partindo do desmonte de alguns dos enunciados mais freqüentes pelos quais essa relação é trazida ao debate crítico (sobretudo estes: "letra de música é poesia?", e "a letra de música resiste no papel, desamparada da música?"), trata-se de mostrar a pertinência teórica de pensar a canção como totalidade estética indissociável. É ainda objetivo da exposição propor uma possibilidade de pensar a poesia no interior da canção, o poético como uma determidade característica de algumas letras: a poesia como o excesso da letra, seu a mais, algo que ultrapassa a canção sem sair de dentro dessa. Serão indicadas ainda as questões: 1) de um possível esgotamento histórico da forma "canção" (o que implica primeiramente definir essa forma) e 2) da canção popular no Brasil tal como vem sendo pensada por José Miguel Wisnik, isto é, como sistema híbrido, complexo, lugar de convergência entre tradição literária e cultura oral, vanguarda e cultura de massas, mercado e diferença.

 

Francisco Bosco é escritor, letrista e ensaísta. É autor de Da Amizade (7Letras, 2003), entre outros. Doutorando em Teoria Literária pela UFRJ e professor de Teoria Literária da Universidade Estácio de Sá.

 

 

Tirando de letra: a poesia da canção brasileira

 Fred Góes (fredgoes@terra.com.br)

A comunicação busca estabelecer um panorama da presença da crônica no texto da MPB, observando como as diferentes modalidades presentes no texto literário se espelham no texto da canção. Busca-se também perceber como o Rio de Janeiro é representado nesta produção. 

Fred Góes é professor doutor de Teoria Literária, ensaísta, compositor, letrista, tem nove livros publicados. Desenvolve junto ao CNPq a pesquisa Carnaval na diligência das crônicas e lidera o Grupo Interdisciplinar de Estudos Carnavalescos da UFRJ. É membro do Conselho de Cultura do Estado do RJ.

 

 

A noção de trabalho em Machado de Assis

João Roberto Maia da Cruz (jrmcruz@uol.com.br) 

Afrânio Coutinho afirmou a ausência de trabalho em Machado de Assis como conseqüência do "ódio à vida", postura machadiana relevante na ótica do crítico. Apesar de não corroborar a "negação rancorosa do mundo", em Machado, tampouco certa "espiritualização do trabalho", que sustenta o ponto de vista do ensaísta baiano, Sérgio Buarque de Holanda considera "justa" a opinião de Coutinho. Raymundo Faoro assinala, por sua vez, que o enriquecimento das personagens machadianas é normalmente sinônimo de "pôr-se ao abrigo do trabalho". Entretanto, um exame mais detido, com foco na trajetória de algumas personagens dos romances e na situação nuclear de pelo menos dois de seus contos (O caso da vara e Pai contra mãe), pode facultar, sim, a percepção de que a questão do trabalho em Machado tem presença considerável como problema a ser estudado.

 

João Roberto Maia, doutor em Letras Vernáculas pela UFRJ. Em 2003 e 2004 foi recém-doutor no setor de Literatura Brasileira da UFF, onde atuou como professor e pesquisador, desenvolvendo o projeto O trabalho e seus resultados em Machado de Assis, Aluísio Azevedo e Graciliano Ramos. Entre as publicações estão Eça de Queiroz e a classe operária (Revista Vozes) e Dualidade e dialética: a crítica de Antonio Candido e Roberto Schwarz (Anais da SBPC).

 

 

Ousar Pensar o Futuro: uma análise da obra Desonra de J. M. Coetzee

Licia Kelmer Paranhos (liciaparanhos@terra.com.br) 

Apresentar um painel da obra Desonra de J.M. Coetzee a partir da construção narrativa das identidades e subjetividades diante da profunda crise de representação dos valores éticos e morais no contexto da África do Sul na era pós-apartheid.

 

Licia Kelmer Paranhos é mestre em Literatura Comparada pela UFRJ e professora de Ensino Médio.

 

 

Ação e narração: em cena, Cidade de Deus 

Lívia Lemos Duarte (livia_duarte2004@yahoo.com.br) 

O narrador de Cidade de Deus, romance de Paulo Lins, posiciona-se de maneira tensa em relação à matéria tratada: por um lado, não se mostra distante do seu assunto, o que lhe condição de falar sobre isto com mais naturalidade. Por outro, esse narrador mostra esforçar-se por ficar distante da sua temática, o que lhe confere a possibilidade de apresentar uma problemática social sem ser simpático e conivente a ela. No filme Cidade de Deus, que é baseado no romance de Paulo Lins e dirigido por Fernando Meirelles, o foco narrativo muda de perspectiva e passa a fazer parte do discurso de um dos personagens. O objetivo do trabalho é analisar as diferenças entre o ponto de vista narrativo do romance e do filme Cidade de Deus, e pensar como elas contribuem para a construção crítica da linguagem narrativa tanto do romance quanto do filme.

 

Lívia Lemos Duarte é formada em Letras pela UERJ, professora substituta de Língua Espanhola nessa Universidade e mestranda em Teoria Literária na UFRJ.

 

 

No limite da cidade: a representação da realidade no documentário Notícias de uma guerra particular e em Druglords, sua versão francesa 

Luciane Said (luolof@terra.com.br) 

A força argumentativa do filme Notícias de uma guerra particular (1999) emana da estrutura narrativa ordenada, lógica, bem desenvolvida a partir da montagem paralela de imagens filmadas in loco, de imagens de arquivo, de imagens aproveitadas de um videoclipe, ou de um filme, ou de um programa de televisão, que juntas montam um painel sobre o conflito entre a polícia e o tráfico de drogas nas favelas cariocas. Nesta estrutura, as imagens são menos avalistas do que se é falado e mais denunciantes. Elas mostram os “personagens em situações reveladoras, salientando suas reações e a dos outros diante deles. A inteireza da cena – alcançada com o uso do contracampo -, o diálogo, o clima, a tensão, o drama, o conflito são retratados do ponto de vista do objeto, permitindo, assim, que do particular se entenda o universal.

Na versão francesa do documentário, Druglords, a estrutura narrativa ordenada, lógica é abandonada e, em seu lugar, aparece uma estrutura caótica desenvolvida paralelamente com uma nova montagem. Nesta, a apropriação do material e a utilização manipulada das imagens aliadas à inserção da locução e da música incidental, denunciam um não compromisso com o “real” e uma total submissão ao imaginário estereotipado. Imaginário este que sabe como o “outro” deve ser representado. Com isso, a nova versão procura dar visibilidade a violência em oposição à delineação do problema tentada por João Moreira Salles. Assim, ao telespectador francês, em sua posição de “testemunho”, é mostrado uma nova versão do conflito como se fosse o “real” e, em seguida, apresentada uma solução.

O perigoso é que esta nova estrutura narrativa desordenada e caótica formará uma matriz que possivelmente será reprisada muitas vezes, formando, assim, uma nova verdade (memória) sobre a realidade da violência e do tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

 

Luciane Said é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Atualmente, cursa o mestrado em Literatura Comparada da UFRJ. Como roteirista, participa de documentários e de curtas-metragem.

 

Antonio Candido para iniciantes

Luis Alberto Alves (laalves@uol.com.br)

           O que pode ser dito a um aluno do curso de Letras, iniciante em matéria de crítica literária, que não leu Antonio Candido, mas cansou de ouvir que o autor de Formação da literatura brasileira faz crítica sociológica (e não estética), seqüestrou o barroco e seu método está “datado”? O propósito do trabalho é mostrar os principais momentos da trajetória do intelectual que reconstruiu a tradição literária brasileira a partir da noção de sistema literário, contribuindo também para a constituição da crítica de esquerda no Brasil.

 

Luis Alberto Alves é professor de Fundamentos da Cultura Literária Brasileira e do programa de pós-graduação em Ciência da Literatura.

 

Uma análise semiológica do texto da China, na geopolítica do século XXI, a partir dos romances Bombons chineses e O complexo de D.

Maria Luiza Franco Busse (mariabusse@yahoo.com.br) 

A China é um país no qual seus intelectuais têm presente a questão entre tradição e modernidade. Essa problemática é marcante no século XIX, do mesmo modo atravessa o século XX e assim chega aos dias de hoje. Trato por intelectual todo fazer e pensar crítico conforme a distinção estabelecida por Jean-Paul Sartre, no livro Em defesa dos intelectuais, entre um cientista e um cientista intelectual. Segundo Sartre, cientista é quem faz a bomba atômica e cientista intelectual é aquele que pergunta para quê?

Bombons chineses e O complexo de Di são romances de dois autores contemporâneos, respectivamente, Mian Mian e Dai Sijie, que têm como perspectiva as transformações que vêm ocorrendo na China. Seus textos podem ser associados à linhagem que discute as relações entre tradição e modernidade num país que, por apenas um breve período de sua história de mais de cinco mil anos, de 1949 a 1979, não sofreu invasões e ficou fechado em si mesmo forjando uma alternativa própria para realizar as mudanças consideradas necessárias. Ambos os romances se inscrevem na linha Literatura e Sociedade na medida em que atam os laços entre a vida e a arte.

Bombons chineses, de Mian Mian, é o romance sobre uma geração de jovens chineses da década de 1990 do século XX, lançada em meio às transformações econômicas iniciadas por Deng Xiaoping, com o objetivo de promover o salto desenvolvimentista e exposta às conseqüências advindas do choque provocado entre a modernidade e a tradição.

Em O complexo de Di, de Dai Sijie, a história ambientada na China do ano de 2001 envolve Muo, quarentão chinês, que foi estudar psicanálise na França e volta à sua terra para tirar da cadeia seu amor de juventude, Vulcão da Velha Lua, presa por divulgar fotos consideradas politicamente ofensivas ao país. O adversário de Muo na empreitada é o velho e corrupto juiz Di, encarregado do caso, que condiciona a libertação ao pagamento na forma de uma moça donzela virgem, que, conforme a tradição, é fonte de virilidade e energia para quem se deita com ela.

 

Maria Luiza Franco Busse é jornalista, mestre e doutoranda em Semiologia pela UFRJ, faz tese sobre a China. É autora dos livros Texto sem conforto e Ensaio sobre a pergunta.

 

 

Do falatório ao silêncio – o desenvolvimento da escrita dramatúrgica de Anton Tchekhov 

Mariana da Silva Lima (marisilvalima@yahoo.com.br)

O ensaio compara a primeira e a última peças de Anton Tchekhov (Platonov e O Jardim das Cerejeiras), observando as transformações que levaram à criação de uma dramaturgia inovadora. Partindo de uma peça excessivamente verborrágica, o autor desenvolve um teatro em que vale mais o não-dito, por meio de um processo de depuração dramatúrgica e de corte de excessos. Ao mesmo tempo, é possível perceber, desde sua primeira peça, elementos que seriam característicos da dramaturgia tchekhoviana, como o peso do presente. No entanto, o processo de desintegração da sociedade é visto não mais a partir de uma perspectiva individual e sim uma visão coletiva.  

Mariana da Silva Lima é graduada em Teoria do Teatro pela UNIRIO e mestranda em Ciência da Literatura pela UFRJ.

 

 

Literatura e sociedade no Brasil: o teatro de Alcione Araújo 

Myrian Naves (myrnave@brfree.com.br) 

O teatro de Alcione Araújo, do ponto de vista histórico, se insere no período que vai da luta armada, passa pelo anúncio de uma abertura democrática e chega aos nossos dias. Enfoca sempre o homem brasileiro, suas idéias e ideologias que trazidas para o cotidiano, são postas em xeque diante das circunstâncias sociais a que esse homem é submetido.

A comunicação pretende então analisar duas de suas peças, Muitos anos de vida (1984) e Deixa que eu te ame (2004) no âmbito do que há de concreto e de universal nas relações homem-mulher e no que há de abstrato na psicologia humana. As duas peças exprimem contradições e violências nesse confronto entre escolhas pessoais, profissionais, éticas e respectivas visões inconciliáveis. Alcione Araújo é um representante do chamado teatro do cotidiano. Isso porque sua obra reflete a história do homem comum frente aos dilemas de sua época, com um instrumental eficiente que extrai desse cotidiano de mudanças cada vez mais rápidas e contraditórias, um sentido global de coerência.  

Myrian Naves é graduada em Letras pela PUC-MG, é professora do CAP-UFRJ e mestranda em Literatura Comparada da UFRJ. Linha de Pesquisa: construção crítica da modernidade.

 

 

 

Leituras periféricas: José Saramago 

Renato Alves Barrozo (raiana@uol.com.br) 

            Tentamos caracterizar um leitor típico dos últimos romances contemporâneos de José Saramago, sob o ponto de vista de um sistema capitalista mundial. A análise desses romances prioriza uma crítica dialética entre a literatura e a sociedade - mediação entre forma estética e forma social - que implica uma percepção maior da sociedade em que vivemos. A literatura é percebida, então, como um instrumento para melhor compreender a sufocante e empobrecedora realidade. Assim, os romances de Saramago (Ensaio sobre a cegueira, Todos os nomes, A caverna, O homem duplicado e Ensaio sobre a lucidez) denunciam a surpreendente e alienante vida pós-moderna. O resultado é a configuração de um leitor da periferia do capital. São leituras periféricas, portanto, a partir da crise global do capitalismo avançado. Fundamentamos essa empreitada na teoria de Immanuel Wallerstein, Eric Hobsbawm e na crítica de Antonio Candido. 

Renato Alves Barrozo defende tese de doutorado na UFRJ Leituras periféricas: em busca de um leitor de José Saramago.  É mestre pela UERJ. Pesquisa a formação de leitor na periferia do capitalismo com artigos em revistas especializadas na UERJ e UFRJ.

  

Literatura, violência urbana e cinema 

Ricardo Pinto (rcrd@ig.com.br) 

              Retomaremos, em nossa comunicação, a discussão presente no livro Sertão: mar, de Ismail Xavier, qual seja a necessidade de uma forma artística complexa que além de um realismo estrito para representar adequadamente um processo social e histórico, o que é uma questão determinante para a importância de Glauber Rocha, na história do cinema, dado que o diretor estabeleceu esta responsabilidade formal como um projeto. Interessa-nos, especificamente, começar a discutir até que ponto este projeto possui ainda algum vigor na produção cinematográfica atual. O estudo do filme Barravento, longa metragem sobre uma comunidade de pescadores, é bastante produtivo devido a sua proximidade temática com dois longas recentes, o filme Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002) e De Passagem (Ricardo Elias, 2003). Nossa reflexão acontecerá por meio de dois eixos: primeiro, os problemas e os limites de representar uma comunidade, especialmente o perigo de trair a dinâmica desta comunidade, na transposição de seus dilemas e conflitos, para uma forma artística; segundo, a importância da alegoria, retomando aqui uma série de insights e de conclusões de Walter Benjamin em Origem do drama barroco alemão. A composição alegórica é uma técnica utilizada em praticamente toda a obra de Glauber, mas presente de forma fraca nas obras atuais. É para entender este abandono da alegoria que se torna importante voltarmos nosso olhar para a produção literária atual, que em obras de autores como Paulo Lins ou Luiz Ruffato a composição alegórica é um recurso largamente utilizado. Nesta distância entre literatura e cinema atuais reside também a distância entre distintos projetos de crítica e leitura do real. 

Ricardo Pinto é doutorando em Literatura Comparada pela UFRJ. É também  professor, escritor, editor da revista eletrônica Confraria (www.confrariadovento.com) e sócio da editora Confraria do Vento. Sua pesquisa é sobre a relação entre violência e cultura.

 

 

Entre cascudos & promessas: a construção da sociedade civil na República de Machado 

Rogério Britto (rogerbritto@pop.com.br) 

O interesse em Esaú e Jacó e Memorial de Aires reside em mostrar como Machado utilizou o potencial explicativo do material histórico que, dentro do plano ficcional, pôde trazer à tona argumentos capazes de delinear problemas que, face as evidências em suas diversas e contraditórias esferas, pareciam naturalizados. Reler Esaú e Jacó e Memorial de Aires não visa a buscar soluções mágicas ou
estereótipos benevolentes, para encobrir a condição degradada em que se encontrava a sociedade civil do final do século XIX e início do XX. Trata-se de — neste momento de extrema "escassez simbólica"— tentar compreender, sem negatividade ou condescendência, essa sociedade civil um tanto quanto torta, frágil, equivocada e débil que se configurou a partir do momento em que o projeto escravocrata havia ruído por completo e a passagem da Monarquia à República não representou a inserção da maioria da população num projeto com cara de Brasil. 

Rogério Britto é mestre e doutor em Teoria Literária pela Universidade Federal do Rio de Janeiro — UFRJ.  É professor universitário e autor de diversos artigos sobre Machado de Assis, cidade e modernidade, entre eles A modernidade tardia e o retorno da utopia: ou um olhar sobre a cidade e imagens da sociedade civil machadiana.

  

 

Entre a cidade e o campo: Mário de Andrade e a música popular 

Valdemar Valente Junior (valentejr@msm.com.br)

 

Entre a cidade e o campo: Mário de Andrade e a música popular é uma tese de doutorado, que trabalha com aspectos da cultura musical brasileira e com sua consolidação no século XX. A configuração de música que tem sua origem no encontro de elementos da tradição européia com a cultura africana tem como espaço de atuação o Rio de Janeiro, evento que se consolida com a abolição do trabalho escravo e a proclamação do regime republicano. Do outro lado da questão, insere-se a pesquisa de Mário de Andrade sobre os temas da música folclórica e rural distanciada da musica urbana por sua originalidade e desvinculada do sentido comercial conferido pelo rádio e pelo disco. Nessa contraposição de idéias, reside o núcleo do debate que pretendemos promover. 

Valdemar Valente Junior é doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ, onde defendeu a tese Entre a cidade e o campo: Mário de Andrade e a música popular. Professor de Literatura Brasileira e Portuguesa da UniverCidade e Universidade Castelo Branco. Atualmente, dedica-se à pesquisa em música popular.

  

 

A crítica da modernização uruguaia na obra de Juan Carlos Onetti 

Víctor Manuel Ramos Lemus (victormlemus@terra.com.br)

O escritor uruguaio Juan Carlos Onetti (1908 – 1994) pertenceu à chamada Generación Crítica, Generación del 45 ou Generación deMarcha” (semanário de esquerda fundado por Carlos Quijano, que teve Onetti como um dos seus diretores). Sua obra constrói uma crítica às conseqüências trazidas pelo processo de modernização do seu país. O Uruguai, até então dominado pelo ideário da Generación del Centenario, vivia o sonho eufórico de ser a materialização de uma modernização bem sucedida com a suposta vitória da civilização contra a barbárie. A obra de Juan Carlos Onetti constitui uma tomada de posição perante esse ufanismo. 

Víctor Manuel Ramos Lemus é licenciado em Lengua y Literatura Hispánicas pela UNAM – México. É mestre e doutor em Teoria Literária na UFRJ. Atualmente, cursa o doutorado em Literatura Hispano-americana na UFRJ e é professor adjunto de Língua e Literatura Espanhola nessa Universidade.

  

Quase dois irmãos: termos de uma derrota 

Wellington Augusto da Silva 

O trabalho apresentado é uma análise do filme Quase dois irmãos, dirigido por Lucia Murat e lançado no circuito brasileiro em 2005. O filme narra, em cenas retrospectivas, três épocas decisivas da história da amizade de dois amigos, da infância até a maturidade. Dadas as contingências impostas, é discrepante o rumo das vidas de Miguel, ex-guerrilheiro e atual deputado e Jorginho, filho de sambista, morador de favela e atual chefe do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Em um ritmo acelerado, a narrativa focaliza o contato entre as classes sociais brasileiras ao longo da segunda metade do século passado, nos momentos de encontro das vidas dos personagens. Assim, Miguel e Jorginho encarnam, respectivamente, a pequena burguesia e as classes populares. A combinação histórica anunciada, no longa metragem, sugere ao espectador, de modo recortado, as transformações operadas pela dinâmica social recente brasileira. São trabalhados nessa análise os temas que compõem as importantes etapas da história recente das relações sociais: o samba, a guerrilha contra a ditadura militar, o tráfico de drogas e a explosão da violência urbana pela ordem histórica. O estudo pretende mostrar, sob o signo da derrota, os termos relevantes na formação social brasileira: a possibilidade abortada de crescente democratização da sociedade e as conseqüências dos sucessivos anos de ditadura. Nesta fórmula, é observada uma das explicações para atual configuração das relações entre as classes brasileiras.  

Wellington Augusto da Silva é bacharel e licenciando em Letras pela UFRJ. Professor de Redação do Programa de Extensão da UFRJ – CPV-Caju. Tutor presencial de Língua Portuguesa na Educação do Cederj. Mestrando em Teoria Literária da UFRJ.