UM BREVE OLHAR SOBRE AS MANIFESTAÇÕES ECOLÓGICAS EM ORYX E CRAKE DE MARGARET ATWOOD

Doutoranda Bárbara Maia das Neves (UFRJ/FTESM/UNESA)

Palavras-chave: ciência, ecologia e sociedade.

 

Por vezes vista com bons ou maus olhos, a ficção científica se apresenta como um gênero que pode contribuir com muito mais do que o velho estereótipo de robôs, alienígenas e viagens no tempo. Em geral vista como literatura escapista, na verdade percebe-se que a ficção científica de boa qualidade foge do suposto padrão de uma literatura menor para se revelar como um instrumento de crítica e denúncia, em especial dialogando de forma interdisciplinar com outros textos. Adam Roberts, em seu livro Science Fiction (2000), exemplifica este aspecto crítico ao debater a obra Guerra dos Mundos (1898) de H. G. Wells. Nesta obra Wells emprega a metáfora da invasão marciana para criticar a expansão do Império Britânico de seu tempo: ambos utilizando violência para atingir seus objetivos, sedentos de poder e extremamente opressores com relação aos “outros”, ou “diferentes” de seu grupo de elite. 1

Ainda dentro da ficção científica, mesmo que não seja um estilo inteiramente exclusivo desta, podemos encontrar a distopia que, por ser um estilo de pouca divulgação dentro da literatura brasileira, faz necessária uma breve explanação a seu respeito. A distopia, ou anti-utopia, não utiliza os já mencionados aspectos mais fantásticos da ficção como as viagens interplanetárias e extraterrestres, haja vista que o uso de tais elementos poderia desviar a atenção do leitor do foco principal da obra distópica: uma crítica contundente e por vezes aterrorizante de algo que o(a) autor(a) considera ruim em seu tempo e que, se não controlada a tempo, pode causar danos sociais e ambientais horríveis em um futuro próximo. Apesar do pensamento distópico já poder ser visto em obras do século XIX, é no século XX que tal gênero terá sua devida manifestação. De acordo com Patricia Warrick em seu The Cybernetic Imagination in Science Fiction (1980) a distopia se evidencia de forma mais clara na sociedade ocidental principalmente após a 2 a Guerra Mundial. Houve tanta destruição neste período da história que as pessoas perderam a esperança em um futuro melhor e escritores se voltaram para a distopia como uma forma de revelar os males que viam no mundo.

M. Keith Booker na sua obra The Dystopian Impulse in Modern Literature (1994) também apresenta outros fatores que contribuíram para um surgimento da distopia: o advento de possíveis guerras nucleares, os conflitos entre países – principalmente a Guerra Fria – e os horrores causados por vários “-ismos” como o Stalinismo, o McCarthismo, o Fascismo e o Nazismo. 2 Além da violência evidente, a própria apatia que começa a dominar o ser humano (evidenciada principalmente por Ray Bradbury no seu Fahrenheit 451 , de 1953) acaba por ser um outro fator de horror nas distopias.

Mais recentemente outros fatores como questões feministas e ecológicas têm permeado as obras distópicas, mostrando que o leque de assuntos infelizmente só aumenta. Dentre as distopias de cunho mais feminista torna-se relevante mencionar o trabalho da Profa. Ildney Cavalcanti. No seu artigo “Distopia Feminista Contemporânea: um mito e uma figura” (2002) Cavalcanti debate como este outro aspecto da distopia aborda o tema da subjugação feminina:

As distopias feministas desenham infernos patriarcais de opressão, discriminação e violência contra mulheres, mapeando assim a sociedade contemporânea. Ao mesmo tempo, e revelando sua natureza ambígua, essas ficções expressam de forma importante desejos e esperanças utópicos pertinentes às mulheres. Vistos sob um ângulo específico, esses textos oferecem um antídoto à banalização da misoginia, que ainda se constitui como um dos males da nossa sociedade. Em outras palavras, eles trazem à luz atitudes e valores androcêntricos que na maioria dos casos passam despercebidos. E questionam tais valores e atitudes através do exagero motivado pelo princípio crítico e indicativo da proximidade existente entre as distopias e as sátiras. (CAVALCANTI. 2002: 247)

 

A autora então lida com aspectos de como a condição feminina pode alterar o modo como a realidade é percebida. Cavalcanti compartilha o pensamento da teórica Raffaella Baccolini (“Gender and Genre in the Feminist Critical Dystopias of Katherine Burdekin, Margaret Atwood and Octavia Butler” de 2000) no tocante aos privilégios aproveitados pelo patriarcado em detrimento das mulheres ex-cêntricas. 3 Apesar do enfoque obviamente centrado no feminino, nem todas as distopias feministas são manifestos em favor das mulheres, outras minorias também fazem parte do interesse deste grupo: gays, latinos, negros, judeus, e tantos outros também são abordados em várias obras.

Como exemplo de distopia feminista, podemos citar duas obras da autora a ser focalizada neste artigo: a canadense Margaret Atwood. Em sua primeira obra distópica, A História da Aia (1986) o enfoque está majoritariamente conectado a questões de subjugação da mulher, especialmente através de um discurso religioso de grupos cristãos fundamentalistas. Já na segunda obra distópica da autora, a que será investigada criticamente neste artigo, Oryx e Crake (2005), vê-se que o enfoque está mais voltado para a sociedade em geral e especialmente centrado em aspectos de cunho ecológico e científico, pois tais assuntos afetam todos os grupos sociais como um todo e não deveriam ser vistos como preocupações de apenas alguns. Os próprios noticiários aos quais assistimos todos os dias na televisão reforçam a noção de como os desastres ambientais não escolhem suas vítimas e evitá-los é responsabilidade de todos.

Neste artigo faz-se necessário por em qustão alguns aspectos sobre a presença do ecológico na obra Oryx e Crake de Atwood. Mais até do que um mero manifesto em favor da proteção ambiental, a obra de Atwood discute a relação entre os humanos e os não-humanos e os problemas que podem surgir daí: questão de como a ciência e a natureza podem agir tanto de forma simbiótica, com uma relação de mútua ajuda, como de forma aniquiladora e destruidora. Também se faz relevante debater a questão do ecoterrorismo presente no texto, de como a proteção ambiental pode ser tão devastadora como sua destruição. Primeiramente deve-se fazer uma breve discussão sobre o ecoterrorismo e sobre um pouco de sua história.

Na sua luta por tentar salvar o que ainda nos resta de natureza e em uma tentativa desesperada de conscientizar a sociedade para os males que está causando, muitos grupos em prol do meio ambiente se utilizam de medidas um tanto quanto extremas para propagar suas idéias e chamar a atenção do mundo. Tais atitudes por vezes envolvem a destruição de equipamentos e um pouco de agressividade para com os outros seres humanos vistos como vilões da história. Tal atitude recebe vários nomes como no inglês “ecotage” ou “monkeywrenching”, em português tal atitude é mais conhecida como ecoterrorismo.

Antes que seja dado algum prosseguimento, torna-se relevante falar um pouco sobre esse estilo de manifestação, em geral condenado até por outras associações, como a famosa ONG Greenpeace. De acordo com J. Phillipon em seu artigo “Eco-Terrorism” (2002), ecoterrorismo na verdade não é apenas uma tentativa radical de salvar o meio ambiente. Ecoterrorismo pode tanto ter a já mencionada implicação de querer alertar as pessoas ou de salvar alguma espécie animal ou reserva ambiental, como pode ter um sentido mais sombrio no meio bélico. Acredita-se que as primeiras manifestações de ecoterrorismo foram, na verdade, técnicas de depredação do ecossistema de um país, tribo ou povo inimigo em uma tentativa de enfraquecê-lo e forçar sua rendição. Um exemplo disso seriam técnicas encontradas no Egito antigo de envenenamento de poços no deserto para que os soldados não pudessem reabastecer seus cantis e morressem de sede ou ficassem fracos demais para lutar.

Ecoterrorismo tenta promover uma distinção entre o que Arne Naess chama de uma ecologia superficial (“shallow ecology”) que é centrada nos interesses dos seres humanos, e uma ecologia mais profunda (“deep ecology”), que traz à tona a questão do Ser (“Self”). 4 Tal atitude é melhor exemplificada na obra Green Rage (1990) de Christopher Manes, em que o grupo Earth First! (“A Terra Primeiro!”) advoga a necessidade de uma ecologia mais pela preservação da Natureza simplesmente por ser A Natureza , não pelo que Ela pode fazer pelos seres humanos:

Although there were many pragmatic, social reasons for protecting as much of the natural world as possible, Earth First! stood for the more radical proposition that the natural world should be preserved for its own sake , not for the sake of any real or imagined benefits to humanity. “A grizzly bear snuffling along Pelican Creek in Yellowstone National Park with her two cubs has a life just as full of meaning and dignity to her as my life is to me,” [Earth First! cofounder] Foreman asserts. 5 (MANES. 1990: 71.)

 

Phillipon também discute como o Ecoterrorismo começou a tomar mais força no mundo ocidental a partir do Earth Day (“Dia da Terra”) realizado nos Estados Unidos em 1970, em que várias manifestações de destruição de equipamentos e demonstrações de força foram usadas por ecologistas para atingir seus objetivos. Outros aspectos influentes foram a fundação do Greenpeace – que prega a não violência –, e a publicação de vários livros sobre salvação mais radical do ambiente, principalmente The Anarchist Cookbook (de William Powell em 1971) e The Monkey Wrench Gang (por Edward Abbey, em 1976). Este último foi um dos grandes motivadores da fundação do grupo Earth First!.

Na obra de Margaret Atwood, vemos vários exemplos de como o ecoterrorismo pode manifestar-se desde obras de arte controversas até formas mais radicais. O que se vê neste livro é como uma sociedade futura vive em um mundo de meio ambiente dilacerado, algo que se reflete não somente na ausência de alguns tipos de animais e plantas, como até mesmo na forma como a sociedade é organizada. No “passado” da narrativa, aqueles que tinham condições para tal viviam como prisioneiros em Complexos, condomínios que agiam como pequenas cidades onde as necessidades de lazer, educação, trabalho, saúde e moradia seriam plenamente atendidas desde que a pessoa se sujeitasse a ser um “escravo” das empresas farmacêuticas que os controlavam. Tais lugares possuíam polícia e política próprias, tendo um novo governo onde o “real e legítimo” não tem vez. A questão da fidelidade à companhia que mantém esses condomínios fechados é um ponto primordial para a sobrevivência e o direito de continuar usufruindo dos privilégios de tais lugares, independente de se concordar ou não com o trabalho que é produzido lá. Os que não tinham condições de viver nos complexos viviam nas cidades, lugares sujos, fétidos, onde as pessoas levavam a vida em condições sub-humanas, com toda a sorte de criminalidade e doenças. Mesmo antes da destruição em que se apresenta o tempo ‘presente' da obra, percebe-se que o apocalipse não estaria mesmo muito longe, como mostra a citação abaixo ao se referir às cidades onde as pessoas comuns viviam:

Jimmy nunca tinha estado na cidade. Ele só a havia visto pela TV – intermináveis cartazes e placas de néon e fileiras de prédios, incontáveis veículos de todos os tipos, alguns deles com nuvens de fumaça saindo da traseira; milhares de pessoas, correndo, gritando, protestando. Havia outras cidades também, perto e longe; algumas tinham bairros melhores, seu pai disse, quase igual aos Complexos, com muros altos cercando as casas, mas estas não apareciam muito na TV. (ATWOOD. 2004: 35).

 

Conforme o narrador Jimmy (também conhecido por Homem das Neves) cresce e vai para a universidade, entramos em contato com grupos que levam as manifestações em favor da natureza a um nível mais radical. Como exemplo podemos citar Amanda, uma artista e um caso amoroso na vida de Jimmy, que emprega materiais fétidos e repugnantes na busca de um alerta contra a destruição promovida pela humanidade. Amanda chama sua obra de Esculturas Vulturinas, ou seja, formar palavras com carcaças de animais mortos, esperar até que os abutres apareçam para comer a carne morta e fotografar todo o evento do alto, em um helicóptero. 6 Apesar de seu trabalho atrair até mesmo cartas inflamadas de grupos ecológicos, o que também ocorre com os grupos radicais como o Earth First!, Amanda acredita estar alertando a humanidade para seu eterno ciclo de produzir cadáveres, restos e entulhos, tão prejudiciais ao ambiente.

Além da atuação mais artística de Amanda, outras manifestações em defesa do planeta aparecem ao longo da obra. Plantações de café são atacadas por carunchos modificados para resistir a pesticidas; roedores híbridos de porco-espinho e castor destroem correias de transmissão de carros, forçando as pessoas a andar; micróbios destroem o piche das estradas, tornando-as intransitáveis. Estas atitudes por sua vez são tomadas por um grupo na internet chamado DoidAdão, que tem o amigo de Jimmy, Crake, como um de seus membros mais influentes. O que parecia ser apenas um grupo de defesa dos animais parece apresentar aspectos mais radicais nas suas atitudes. 7 Assim como os ecologistas mais radicais já mencionados antes, o grupo de DoidAdão acredita que seu trabalho está em chocar a população, até mesmo como uma forma de fazer com que grupos ecológicos mais tênues em atitudes sejam melhor vistos aos olhos do povo. 8 No entanto, a sociedade de Oryx e Crake já está muito deteriorada para se deixar levar por manifestações, sejam elas mais incisivas ou não.

No entanto, as representações de ecoterrorismo na obra de Atwood encontram seu apogeu na atitude final de Crake. A princípio é relevante ver os motivos que levam este brilhante cientista a uma atitude desesperada. Crake revela-se um grande pensador da situação da humanidade no planeta e de como ela desgasta os recursos naturais de forma indiscriminada.

(...) Como espécie, nós estamos muito encrencados, muito mais do que se imagina. Eles estão com medo de liberar as estatísticas porque as pessoas poderiam simplesmente desistir, mas escuta o que eu estou dizendo, o espaço-tempo está se esgotando. A demanda por recursos vêm excedendo a oferta há décadas em regiões geopolíticas marginais, por isso a seca e a fome; mas muito em breve a demanda vai exceder a oferta pra todo mundo. Com a Pílula BlyssPluss, a raça humana terá uma chance maior de sobrevivência.

- De que maneira? – Talvez Jimmy não devesse ter tomado aquele drinque extra. Ele estava ficando um tanto confuso.

- Menos gente, portanto mais espaço. (ATWOOD. 2004: 272).

 

Mais tarde, uma grande praga toma conta do planeta, fazendo com que todos no mundo morram, à exceção de Jimmy, que havia sido secretamente imunizado por Crake, já que Jimmy seria aquele que deveria tomar conta das “crianças de Crake”. Enquanto cientista, o amigo de Jimmy cria uma raça híbrida de humanos com aspectos animais (um Dr. Moreau moderno) 9 na esperança de que esta nova raça saiba usar os recursos do planeta sabiamente e ajudar a natureza a se reparar. À época da grande epidemia estas crianças ainda viviam em um mundo experimental no laboratório. A praga, acredita-se, estava também inserida nas pílulas BlyssPluss, facilitando assim sua propagação. Essas pílulas funcionariam como um poderoso medicamento, comparável ao Viagra do mundo de hoje, que prometia rejuvenescimento e beleza a todos além de uma melhora no desempenho sexual. A humanidade extinta é então substituída por uma nova espécie, fisicamente melhor e mais preparada para o mundo apocalíptico que resta.

A humanidade na obra é sempre retratada na sua pior forma: consumista ao extremo e totalmente ignorante do risco que corre pela sua falta de consciência para com o ambiente. Neste mundo de grandes corporações farmacêuticas, a ciência é quem manda: não somente pelo controle dos já vistos Complexos, mas também até na educação, em que escolas destinadas aos estudos científicos (como o Instituto Watson-Crik de Crake) são muito mais cuidadas e bem tratadas que as de estudos mais voltados para os humanos (como exemplo temos a pobre escola de Jimmy, Martha Graham). A ciência, nesta obra, reflete a perspectiva otimista do século XIX e do início do século XX como a substituta de Deus e resposta a todos os problemas. Não importa a destruição que possa estar espreitando na esquina, a ciência resolverá tudo e ainda trará benefícios matérias aos que dela se utilizam. Sendo assim, a sociedade da obra mostra principalmente que o lucro é de maior importância que fazer o humano pensar sobre sua condição e buscar formas alternativas de garantir sua sobrevivência.

Por fim, a literatura, como um veículo que pode apresentar várias funções, inclusive a de denúncia, não poderia deixar de abordar os problemas vigentes bem como sugerir métodos de ação para solucioná-los, ou pelo menos apresentar formas que levem o leitor a uma conscientização e a uma re-leitura do mundo ao seu redor. Roland Barthes discute na sua obra O Rumor da Língua (1984) como o autor emprega o que já existe no mundo, que seu trabalho não é de todo original e que sua genialidade está justamente na sua capacidade de escolher o que deve ou não fazer parte de sua seleção, mesclando, excluindo, fornecendo o devido embasamento. 10 Por este viés, a distopia, com seu caráter de alerta, é um dos gêneros que muito contribui para esta reflexão; apropriando-se de elementos do mundo dito ‘real', o autor apresenta problemas e questionamentos que passariam despercebidos na sociedade.

Neste artigo foi possível discutir brevemente a relação entre o humano e o não humano, em especial como esta relação em grande parte se apresenta de forma perniciosa para a natureza, pois esta é explorada e abusada em prol do dinheiro que é supervalorizado inutilmente; e que promove apenas uma satisfação momentânea na aquisição de bens, mas não podendo garantir um permanência do bem maior que é o planeta. Boas casas, bons empregos, carros e compras, enfim, tudo que é visto de forma essencial pela sociedade capitalista ocidental pode terminar por levar a uma grande catástrofe, tal qual é vista na obra discutida, Oryx e Crake , de Atwood.

Apesar de a obra aqui discutida apresentar pessoas que, de alguma forma, se mostram preocupadas com a defesa do meio ambiente, a relação entre humanos e não-humanos ainda se apresenta de forma conflitante. A agressividade das esculturas com urubus é apenas a ponta do iceberg que se pode perceber mais tarde com a extinção da natureza. Nesta obra, a sociedade é apresentada em dois grandes extremos: de um lado existem aqueles que não estão nem um pouco preocupados com o que acontece com o mundo que os cerca, por outro existem aqueles que só vêem a solução na extinção da humanidade. De qualquer maneira não há equilíbrio e as esferas que formam o mundo (o homem e a natureza) ainda não são vistas de forma integrada. Mesmo com o cientista Crake atingindo seu objetivo de destruição da humanidade, o que ele acredita ser a resolução final, o que ocorre ainda é uma perda, pois ninguém aprendeu nada. Foi necessário que ele criasse uma nova espécie híbrida para que uma nova “humanidade” ocupasse o planeta. Mais uma vez uma manipulação científica se fez necessária, mas de que adiantou se o ser humano ainda se manteve na sua ignorância?

Buscar uma relação harmoniosa entre as várias esferas que compõem o mundo não é uma tarefa fácil. A destruição já está há muito impregnada nos hábitos das sociedades (especialmente no mundo ocidental) para que, de uma hora para outra, atitudes sejam modificadas. Ainda assim, não são atitudes tão radicais que vão efetivamente ajudar. O caminho a percorrer é longo, requer conscientização, a ‘limpeza interna' proposta por Guattari, mas só assim é que realmente se pode chegar a um desenvolvimento em que ninguém perca e todos ganhem.

 

Notas:

ROBERTS, A. 2000. p. 63.

2 BOOKER. 1994: 91.

3 Termo apresentado por Linda Hutcheon no seu A Poetics of Postmodernism. para falar dos excluídos.

4 PHILLIPON. 2002.

5 “Apesar de haver vários motivos pragmáticos e sociais para proteger o máximo possível da Natureza, Earth First! Assumiu uma proposta mais radical de que o mundo natural deveria ser preservado pelo que ele é , e não por algum benefício real ou imaginário que possa trazer à humanidade. “Uma ursa cinzenta farejando pelo Riacho Pelican no Parque Nacional de Yellowstone com seus dois filhotes tem uma vida tão cheia de sentido e dignidade quanto a minha,” afirma o [co-fundador do Earth First!] Foreman.”

6 ATWOOD. 2004: 228.

7 ATWOOD. 2004: 200-201.

8 Tal ambição também é partilhada pelos grupos como o Earth First!, eles acreditam que sua radicalidade atrai a antipatia do público, fazendo assim um favor aos grupos mais comedidos que passam a ser melhor vistos pela sociedade. (MANES. 1990:70.)

9 Tal como o cientista Moreau na obra The Island of Dr. Moreau (1896), Crake quer brincar de Deus criando uma nova “humanidade” em que defeitos seriam corrigidos (como a necessidade de religião, a vaidade, o sexo que não fosse apenas visando a preservação da espécie, entre outros), melhorando a força e a resistência dos novos seres, plenamente adaptados a um novo mundo.

10 BARTHES. 2004:62.

 

Bibliografia:

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