A DUPLICAÇÃO, MOTIVO DE CONHECIMENTO

Profª Ms. Madalena Aparecida Machado (UNEMAT-FAPEMAT/UFRJ)

 

RESUMO: O estudo de O homem duplicado encaminha à compreensão do homem na Literatura Contemporânea. Como suporte teórico, Adorno amplia a visão do romance na medida em que a vida do pensamento, o resgate das emoções garante a moralidade e o conhecimento que identificamos localizados ambos no protagonista da narrativa. A formação da consciência de si só é possível com o pensar crítico cujo requisitar é a possibilidade ao discernimento que o duplicado pode empreender entre si e o mundo.

 

PALAVRAS-CHAVE: Conhecimento; duplicação, consciência; homem; personagem.  

 

 

    RÉSUMÉ: L'étude de O homem duplicado vise à la compréhension de l'homme dans la Littérature Contemporaine. Comme support théorique, Adorno, agrandit la vision du roman dans la mesure où la vie de la pensée, la reprise des émotions assure la moralité et la connaissance que nous avons identifiées toutes les deux chez protagoniste de la narration. La formation de la conscience de soi n’est possible qu’avec la critique rationnelle dont le questionnement est la possibilité au discernement que le double peut établit entre lui-même et le monde.   

   

MOTS CLEFS: Connaissance; dédoublement, conscience; homme; personnage.      

 

Ao estudarmos a Literatura Contemporânea um dos aspectos que mais nos chama a atenção é a representação do homem, não só a configuração, mas o deflagrar da consciência de ser humano que o personagem é capaz de realizar. Para melhor entender como isso acontece elegemos o escritor português José Saramago, com o intuito de pesquisar na sua literatura os dilemas, os dramas, enfim a sensibilidade que encontramos especialmente no romance O homem duplicado (2002). A fim de que nossa argumentação tome consistência um dos pressupostos teóricos possíveis de ampliar a leitura da narrativa é o estudo de Minima moralia (1993) de Theodor Adorno (1903-1969). Nesse livro, concebido com base nas experiências da segunda guerra mundial, os assuntos contidos trazem análises a respeito da alienação a que o homem se vê submetido num mundo recheado da indústria cultural e racionalidade tecnológica. As deformações de caráter social e cultural fazem eco da existência moderna denunciada por Adorno, cuja tarefa assumida é de desvendar as muitas máscaras da falsa consciência. A força libertadora que o autor vê no uso de aforismos como recurso para dar forma ao seu pensamento, traz junto de si um âmbito individual para o qual conclama as diferenças. Justamente o ir além das aparências é motivo condutor de quem se arrisca na avaliação do tempo presente. Embora o contexto do livro seja o da experiência da segunda guerra mundial e de ser publicado em 1951, o rigor das avaliações, o sentido crítico da concepção de Adorno nos auxiliará de maneira incondicional na interpretação do romance O homem duplicado.

            Como podemos falar de consciência de si, de o sujeito se encontrar numa efervescência identificada pelo nome de dialética se ele é engolido por uma atmosfera que não o deixa pensar nele mesmo? Como garantir o mínimo de moralidade nas parcas reflexões que ele ainda é capaz de fazer se sua vida está danificada? Moralidade de quem, por quem, para quem atingir? Tais dúvidas que encaminhamos ao personagem principal do citado romance, dizem respeito à experiência individual do sujeito condenado pela história que ensina; no seu entender ele ainda está pleno desta condição, entretanto, em si já não apresenta significado. Do pensamento adorniano, retiramos a valorização deste algo desaparecido como principal porta de entrada para nossa interpretação. A anunciada decadência do indivíduo, enfraquecido e feito oco pela manipulação da sociedade se torna em Minima moralia o requisito para se falar da experiência ainda assim subjetiva proporcionalmente encontrada em O homem duplicado. 

            O individualismo que corrobora para a liquidação do indivíduo é algo a ser combatido juntamente com a ingenuidade, a descontração, enfim, “de todo descuidar-se que envolva condescendência em relação à prepotência do que existe.” (ADORNO, 1993, p. 19) Prepotência que lemos como a visão posta, o não questionamento, a aceitação tácita dos modos de ser e viver que impedem a conscientização do sujeito sobre seu valor. A necessidade de estar atento, de saber fazer distinção entre a ilusão e o sofrimento é outra vertente a se lembrar na subjetividade em destaque. A existência privada é cada vez mais minada por uma semelhança imposta nos modos de comportamento, sendo subtraída em realização universal; isto, no entanto, não invalida a necessidade de uma reflexão independente.

            O sentimento de sufoco, de retraimento que apontamos no perfil do protagonista da narrativa em estudo indica a pressão da conformidade, além de ver baixar seu grau de exigência em relação a si próprio, de acordo com Adorno. Isto coloca o personagem em dialética de si paralelo à urgência da criação ou da vazão da consciência por se ver um ocupante do mundo. A perda da disciplina do ensino é inteiramente residual no arvorar daquilo que vê o ator representar nos filmes. Quando não há proteção, auxílio ou conselho a seguir, soçobra a manifestação da desesperada concorrência entre si muito maior que a universal. A lacuna no indivíduo se esgarça pelas equivalências sentidas, por exemplo, num comportamento negado em si, mas visível no outro seu igual. Ocorre seja na solicitação pelo diferente, seja na negação da igualdade abafada esta pela realidade contrastante. A progressão da desumanidade que gera o atrofiamento do sujeito como explana Adorno, é a medida da supressão do tato configurado como a convivência humana impossível dos tempos atuais.

            A objetividade com que a humanidade passa a ser vista em se tratando do indivíduo enquanto tal fez este perder a autonomia em se realizar sendo representante do gênero humano. Minima moralia se esmera em trabalhar tal estado das coisas frente ao homem cuja vida já não se pode dizer que lhe pertença; a tecnificação ao precisar os gestos, fazendo-os rudes também extende-os aos homens. Desta forma, podemos falar no deperecimento da experiência, uma vez que a questão da funcionalidade é a diretriz do instante consumido e, logo substituído por outro de igual ou menor importância. A praticidade como forma de condução da vida apresentada de maneira a fazer crer no favorecimento das relações pessoais, faz, contudo, atrofiar o que é humano. Há a perda da sensibilidade em detrimento das finalidades imediatas como, por exemplo, no fechamento de um contrato típico de negócios no qual perguntas triviais a respeito da família são mero pretexto para o bom funcionamento da relação comercial. Isto demonstra o lado sombrio da “objetividade nas relações humanas, que acaba com toda a ornamentação ideológica entre os homens, tornou-se ela própria uma ideologia para tratar os homens como coisas.” (ADORNO, 1993, p. 35) Quanto mais prático, mas fácil de embotar sentimentos, sensações e apagar as emoções envolvidas em cada ação humana.

            Ao desconhecer o que se passa entre os próximos, as pessoas se movem pela idéia do lucro, da imediatidade das relações cada vez mais distantes marcadas às vezes com o peso da hostilidade. O fato é da mesma maneira provocador da anulação de si dentro de uma dominação dos sentimentos enquanto resultado da dominação maior de um homem por outro, de um ideal por algo desprovido disso. Privadas pela cultura organizada, as pessoas em última instância se vêem desprovidas inclusive de uma experiência de si mesmas. Na perspectiva de Adorno, o inverso é a principal razão de ser do homem, qual seja, o pensamento realmente independente que priorize o elemento crítico. O grande entrave que o texto aponta é a liberdade perdida da Filosofia para a ciência no que tange à especulação, à reflexão; quando isto acontece, a subjetividade vai pela mesma via de extinção que a Filosofia. A Literatura entra pela porta dianteira na discussão ao trabalhar com a imagem do mundo na intenção de acabar com a falsidade e a prevenção. Então, faz sentido que o espírito de dialética seja atribuído ao personagem o homem duplicado cujo contraste observado na sua pessoa é o da razão dominante, da retirada do entorpecimento que o consenso significa. Processo de busca e apreensão, a dissolução do concreto no interior do próprio indivíduo dá ocasião para pensarmos no quê a exclusividade perde campo quando falamos na substituição da experiência.

            Por outro lado, o conjunto de experiências que o duplicado imaginava possuir se faz lacunas como aquelas observadas por Theodor Adorno com as quais podemos medir o distanciamento ou a continuidade do conhecido. Homem a meio do caminho com sua subjetividade, o duplicado não obstante, opta pelo encurtamento sem explicitar o continuísmo que nega mesmo sem alarde. A vida consciente do sujeito do conhecimento ocorre em meio à insuficiência e, só ela produz a existência não regulamentada a propósito do pensamento passível de ser despertado pela crítica, juízos revisitados, enfim, pela dialética para que assim seja identificado e mesmo se transforme em ensinamento; não sem razão o protagonista do romance é um professor.

            A imagem do espelho, o reflexo de modos de ser em O homem duplicado mostra uma insistência com aquilo que Adorno chama de dialética por esta se mover pelos extremos com o propósito de levar à inversão. Neste ponto acreditamos que Saramago diverge do pensador na medida em que os personagens não querem ser o outro, apesar da indignação da imagem roubada, o que é salientado o tempo todo é a vontade deles no direito à particularidade e, por extensão, o dilema de não poder escolher. Apesar disso, se funde nos dois textos a denúncia da desumanização, do outro ser notado apenas enquanto objeto, refletido, subsumido para deleite de uma das partes na contenda de viver. Talhado para não servir de exemplo, o duplicado dentro de uma sociedade repressiva como nos ensina Adorno, se nivela ao conceito de homem embora isto não passe de uma paródia da imagem e semelhança. Tanto isto é cabível que os adjetivos original e cópia são usados indiscriminadamente ao longo do romance a nosso ver com a finalidade de desmascarar a idéia de quem se parece com quem e mesmo para confundir a semelhança. Chegamos a tal constatação ao observarmos o comportamento arredio do personagem protagonista; ele parece estar fugindo o tempo todo, se esquivando de ser objeto de contemplação, enfim, de fugir dos olhares alheios quando na verdade é o seu olhar que mais o preocupa. O inominável de dentro dele o acusando de ser ninguém, colocando-o o tempo todo em discussão com a imagem descoberta.

            A experiência da duplicação vivida por seus protagonistas Tertuliano e António, mostra uma humanidade prostrada ante a impotência de assimilar à experiência aquilo que escarnece da totalidade. Sem conclamar o impasse, tentam embora na maioria das vezes em pensamento, deglutir o que lhes acontece; cada um a seu modo vive em função de não se entrelaçarem. É bom frisarmos que nisto eles respondem positivamente ao que Adorno propõe como o homem representante de um mínimo de moral para consigo: o requisitar do diferente; o discernimento necessário a se fazer entre os outros e em si. As emoções que sobrepujam no fato da duplicação existir contrastam com a objetividade que os personagens tratam a situação aos olhos do mundo. O não se adaptar, o impasse, resolução questionável ao invés de exemplificar o mau uso da objetividade, mostra por sua vez o sujeito na iminência de ser abolido de sua condição. Ainda prepondera a vida do pensamento no romance já que não houve a adoção de nenhuma medida exemplar, nenhuma conduta em destaque e, principalmente não houve decisão sobre qual vida erigir. 

            A vida do pensamento começa para os personagens à medida que se distanciam da vida prática, algo que se encontra desenvolvido na filosofia de Adorno. Minima moralia exercita a noção de subjetividade na era da sua liquidação; ao negar a idéia do absoluto para tratar com o elemento humano também há condenação quanto à relatividade. O cuidado deve ser com o não apagar os vestígios humanos na transformação observada; por outro tanto, lançar mão da possibilidade de ir além de si mesmo por meio do questionamento, da oposição fecunda bem como da assimilação compreensiva daquilo que nos contradiz, ensina Adorno. O livro apresenta substratos nos quais o escritor se coloca no papel de intelectual que é posto no mundo separado da práxis material. Qualquer medida cautelar, demonstração de ódio, avanço ou recuo de liberdade serão sempre coisas consideradas erradas porque partem do intelectual cuja aura é a de distanciamento com a praticidade intrincada nas relações humanas.

            O horror que somos capazes de demonstrar tendo em vista o processo de absorção, passa a ser a medida a se determinar o quanto ainda podemos falar da instância do Eu. O que é auto-renúncia e o que é pura alienação são perguntas cuja resposta busca eco no discernimento do indivíduo em meio à quantidade misturado na multidão. A compreensibilidade tão cara ao espírito do livro empenhado por uma moralidade satisfatória, envereda pela distinção entre a intenção e a cópia. A Literatura lhe serve de parâmetro porque a ambigüidade notada em seus textos designa o ponto de indiferença entre a razão objetiva e a comunicação, fator este de primordial importância para se distinguir os significados incrustados. Neste aspecto, O homem duplicado identifica a inexatidão do trato da vida com a objetividade da imagem nada intencional feito cópia de dramas não vividos. O ator, o original perseguido pela cópia que de si tem muito pouco, exercita sua arte sem destaque nem reconhecimento. Podemos traçar um paralelo fazendo dele a problemática da subjetividade enquanto incorre no conformismo a erradicar. Para Adorno tal ação é seguida de perto da crença na extinção da arte porque ela seria a responsável pela crescente impossibilidade de representação do que é histórico. Como vimos pelos títulos dos filmes em que ele atua (Um homem como qualquer outro, Quem porfia mata a caça, etc) sempre figurando em segundo plano, age na vida concreta de forma contrária e se impõe como o portador da subjetividade negada ao duplicado. Ponto nevrálgico de extinção da arte, não só quando a duplicação faz seus estragos e deixa o ator sem atuar, o professor sem ensinar, mas também porque os dois juntos formam a representação do drama maior da subjetividade. Adorno discute as motivações humanas e incita o leitor a ver nesta suposta impossibilidade da arte de exercer seu papel, a liberdade perdida do sujeito; se não se pode ou não se alcança a representação do fascismo, por exemplo, é porque o sujeito já não possui a liberdade de denunciar seus horrores.

            Recorrendo a Epicuro, Adorno explana o lugar do indivíduo em tempos de egocentrismos exacerbados, “a situação na qual o indivíduo desaparece é ao mesmo tempo de um individualismo desenfreado, onde ‘tudo é possível’” (ADORNO, 1993, p. 131). Em multidão, mas interiormente sozinho e gostando disso, o homem pinçado pela reflexão vive as contradições de perder o elemento mediador, se empobrece, embrutece e regride ao estado de mero objeto social. Se os traços de humanidade ainda possíveis de se encontrar neste contexto se ligam ao indivíduo isolado, eles também nos chamam a encerrar a fatalidade que individualiza os homens somente para depois destruí-los por completo na solidão. O que fazer? Como fazer? Não encontramos em Minima moralia. Encontramos isto sim, que está no pensamento dialético a fonte da tentativa em quebrar os elos da corrente cujo nome é o caráter coercitivo da lógica, usando para isso as próprias armas dela. Por isso faz sentido vermos no homem duplicado a face espelhada em humanidade solícita por se expressar.

            A liberdade perdida mostra o quanto há de injustiça, do poder de reivindicação de direitos perdidos para o horror da privação, da autonomia suprimida, no momento em que o homem percebe a inverdade de toda realização meramente individual. Esta estranha sensação de não poder se destacar entre os muitos, de ainda ser capaz de esboçar reação com uma pergunta, dá sentido à epígrafe que Adorno vai buscar em Baudelaire para a terceira parte de Minima moralia: “Avalanche, queres me levar em tua queda?” Se ainda resta indignação ainda há esperança para o ser humano, assim pensamos por causa da experiência resguardada, das lembranças individuais que o sujeito confisca como propriedade. Daí termos a convicção de que o homem duplicado age de maneira idêntica ao pronunciar a pergunta crucial de sua vida: Quem sou eu? Embora ele não tenha a resposta, o fato de se indignar na pesquisa dela já demonstra a afinidade que buscamos. Em termos filosóficos isto não funciona como um envoltório sem a aura de sentimentalidade que poderia transmitir, só faz sentido invocá-lo quando o presente pode e deve ser mudado com a experiência que o passado formou. Já no romance, os personagens desprovidos de um passado e sem futuro à vista; o presente disjunto, o desconhecido é o que eles vêem como necessário ser mudado; principalmente para o professor de História ancorado nela toda vez que o presente lhe deixa na prevenção.

            Na expectativa de se pensar o Eu como o faz Adorno, o sentimento é visto como algo a resgatar ao mesmo tempo em que pode ser visto com garbo e sofrimento, ainda é a via de configuração da alma humana, daquele que traz na expressão dos olhos o desejo desesperado de se salvar por meio da autodeterminação do Eu. Mais uma razão para interpretarmos em O homem duplicado a mesma vontade de resgate da emoção, de encontrar sabedoria nela conforme avalia o narrador do livro. Portanto, longe de ser a nostalgia de salvação é um recurso do qual os bem situados só vêem porque só aprenderam com a cultura a se envergonhar da alma e por isso a ridicularizam em quem se ressente dela. Na nossa compreensão, a subjetividade discutida no texto do filósofo apresenta a severidade do julgamento feito pela sociedade burguesa sobre como o trabalho, a beleza, a constância do sentimento podem interferir naquela de modo parcimonioso.

            A consciência que de espontânea passa a reduzida se o objeto da experiência for tão grande que diminua o indivíduo, é responsável por um domínio da moral, algo também de certa forma incomensurável. Entendemos com isso que qualquer ação praticada pelo sujeito não pode ser julgada conforme expectativas criadas e sim como algo resultante de um conceito destituído de mensuração. Ora, não é outra a sensação que invade o homem duplicado. Não poder se medir nem intervir porque a duplicação não foi catalogada nos compêndios da compreensão judiciosa da sociedade, faz dele um pária cuja moral é mais que discutível. É a experiência que conta e se ela sobrepuja o sujeito em suas vontades este se torna vítima tanto quanto não pode fazer diferente ao que foi levado a praticar. Nessa roda de objetividade crescente concomitante ao apagamento da subjetividade, encontramos no pensamento de Adorno a inervação moral no âmbito da consciência de mesmo porte para fazer pensar na assimilação redundante, na revolta plantada de acordo com a maturidade do leitor. Somente ao aprender conviver com a moralidade sem falsos moralismos é que o sujeito pode resgatar o Eu perdido para noções pouco cristalizadas, por isso mais condizentes com a humanidade a ser resgatada.

            Nem vítima nem adepto, o que o filósofo deixa bastante especificado é que a consciência moral não é um jogo em que se ganha hoje e perde amanhã; a indiferença do que ele chama de culpa moral aponta para a impotência em tomar decisões próprias crescente com a dimensão do objeto. Disto extraímos a intolerância do seu texto com a visualização do homem por outro como algo a ser desbaratado e não compreendido na dimensão humana que lhe é peculiar. Bem ao contrário, não é a suposta facilidade das relações que deve ser vista ou resolvida de maneira paradigmática. É por outro lado, observar pelas reações do ser humano o quanto há ali de conformidade com a realidade social que diretamente o atinge na vida privada. Reagir de forma inesperada, brutal quando escapa à supervisão do mundo é sentir-se ameaçado na esfera que foi ampliada de seu próprio Eu. Exteriormente é o mesmo sujeito gentil, atencioso, mas, na intimidade a hostilidade se faz sentir na medida em que submete aquela à exigência crítica porque é ela afinal que investe o outro da condição de sujeito. Negada esta, não deixa de fazer o mesmo consigo ao acolher na consciência a estranheza que se vê amenizada. Acontece o contrário com Tertuliano Máximo Afonso que acolhe em sua consciência a estranheza nem um pouco amenizada, enquanto a conformidade externa depõe contra todos os sentimentos nobres fazendo-o demonstrar uma moralidade sofrível.

            O homem que buscamos compreender e Adorno discorre como uma questão prioritária incita muitas vezes não só o pensamento à revolta, mas enxergar a opressão por trás de cada boa intenção para com a maioria. Desconfiar da hierarquia é um princípio de base para quem pretende despertar consciências, trazendo em si as convergências desfeitas, as opiniões pouco abalizadas, terra fértil para a rebeldia professada. Também fica bastante expresso que o filósofo fala contra o espírito de conformidade, de não se deixar levar pelos fatos como coisas naturais; como são criados, portanto culturais, muda o sentido de acordo com quem os manipula. Não ser manipulado é característica do homem cujo perfil Adorno se empenha em traçar.

            Aos poucos, à medida que a consciência se transforma, podemos falar de exacerbamento se a dialética pode ser encontrada no sujeito tão experiente quanto se permita. Com a liberdade sempre em foco o atributo maior do pensamento aliado ao discurso atua contra o comprometimento com o positivo, o bem explicado, fazendo-se consciência inquieta. A discussão concernente à repressão aliada à moral faz ver o quanto isto contribuiu para o afastamento do indivíduo da sociedade e vice-versa por causa dos interesses em voga. Quanto mais o indivíduo é rechaçado para dentro de si mais vê na composição da riqueza o ingresso para a vida em sociedade. Do plano econômico a uma visagem da individualidade escassa, a moral cambiante na organização do mundo planifica injustiças e o modelo de imoralidade vem a ser o qualificativo dessa moral tão requisitada nas relações entre os homens. Atingida a meta, no centro das atenções, as pessoas se esforçam para se integrar no ritmo fazendo da subjetividade algo próximo do impossível em se pensar, abordar de forma a enobrecer o Eu que elas perderam.

            A vida assim considerada transforma-se na ideologia de sua própria ausência como denuncia Adorno. Pela atenção à vida composta de sentimentos tais como o amor, o homem pode ser coerente com os paradoxos que observa no mundo trazendo-os para dentro de si. Com isso não se confirma a fraqueza, todavia, é em mostrar-se fraco que ele pode sair do círculo vicioso da integração sem emoção, da adaptação voluntária. Negando este estado de coisas, a desqualificação que poderia desmerecê-lo, ao contrário, o impede de ser visto pela imagem da igualdade. Não poderíamos deixar de observar o mesmo com relação ao protagonista cujo designativo não se reduz ao nome com sobrenome ou a profissão. Chamado de o homem duplicado, internalizando o que seria uma desqualificação ele tem a oportunidade de tentar ser diferente, de ser afinal humano como ainda não o foi. Na configuração da própria consciência o sujeito que desaprendeu a se pensar, o pensamento se torna ao mesmo tempo a possibilidade da comprovação de si mesmo. Isto gera a sensação de ser vigiado na capacidade de pensar, trabalho a que a filosofia no ponto de vista de Adorno, deveria buscar uma unidade para a oposição entre sentimento e entendimento para assim proporcionar a chamada unidade moral. Porque só a faculdade de julgar mede a firmeza do Eu e, se o mundo está bestificado por não ver a loucura de sua própria organização, igualmente o sujeito pronto a manifestar sua aquiescência demonstra deficiência moral e falta de autonomia com sua quota de responsabilidade por isso.  

            À consciência dilapidada resta um laivo de observação. Ao perceber a loucura objetiva chamada pelo autor de impulso à utopia, o sujeito em plena efervescência dos contrários dentro de si expande em conhecimento quando adota a razão como ferramenta para resistir no desespero e no excesso. A subjetivação ocorre em dispêndio do que a existência requer. As pessoas sugadas pela totalidade sem, contudo, poder se assenhorear dela enquanto seres humanos se digladiam pelo desconhecimento da linguagem que tal situação demanda. Equivalente é a vontade de viver: pela dependência da negação da mesma vontade que premida pela autoconservação anula a vida na subjetividade, conforme ensina Adorno.

            O Eu que move o homem o coloca como um todo, como um aparelho a seu serviço. Desta forma quanto mais anulado, integrado ou reticente o Eu se mostrar mais o homem reflete autonomia. A visão dialética dos modos de ser e viver compõe o desenvolvimento para que o sujeito se abandone, por exemplo, a um perigo desconhecido, experimente por isso mesmo um lugar vazio na consciência. Por isso temos no personagem professor Tertuliano Máximo Afonso, a consciência aberta para as implicações da duplicação. A emancipação histórica do ser em si se assegura e se compromete com a ambigüidade que a vida humana oferece, daí fazermos a observação de que o sujeito está numa dialética de si. Porque não identificarmos nele o homem duplicado? O perigo ocorre onde a dialética é vista como um recurso e não como uma entrega despudorada a ser feita. O conhecimento e não poderia ficar de fora o maior deles – o conhecimento de si – não só deve ser extraído do que existe mas se faz indispensável ver nele a deformação e por esta mesma desgenerescência a que pretende negar. Minima moralia trabalha com aquela fagulha a que o pensamento se vê contrafeito, qual seja, o reconhecimento de que ele transita na sua própria impossibilidade. Receptivo a isto o homem compreende-se pela extensão e profundidade com que pode pensar-se entregue ao mundo feito de condicionamentos, embora se querendo incondicionado, a consciência deste limite – a dialética de si – é o que vai definir pelo exacerbamento. 

            Livro seminal na obra de Adorno, junto com Horkheimer (1895-1973), Dialética do esclarecimento (1985) vem marcar definitivamente o pensamento filosófico acerca de como o conhecimento pode levar a humanidade não à libertação, mas a uma espécie de barbárie. A liberdade propiciada pelo processo de racionalização das atividades não apenas se tornou problemático como muda o sentido da ciência. Com fins escusos o esclarecimento quando acusado de autodestruição se vê entre a privação do uso afirmativo da linguagem conceitual científica e cotidiana, da mesma forma da linguagem oposicional. Como os autores criticam, a proibição do puro pensar arrosta o cerceamento da imaginação teórica, abrindo-se ao desvario político. Investigar a autodestruição do esclarecimento é o objetivo a que se propõe Dialética do esclarecimento ciente de que a liberdade na sociedade é indissociada do pensamento esclarecedor; este só pode ser paralisado pelo temor da verdade. Do mito, extraída a falsa clareza com que moldurava o conhecimento resta a obscuridade e a clareza com que elabora a realidade. Pelo progresso social o homem desaparece enquanto indivíduo por servir ao aparelho e ao mesmo tempo, nunca se serviu tanto dele. As muitas informações não significam esclarecimento, a questão é fazer este tomar consciência de si; a racionalidade e a realidade social partem juntas do mito enquanto esclarecimento e o esclarecimento revertido à mitologia, arquitetando dessa forma a dialética.

            O progresso do pensamento sempre teve por princípio livrar o homem do medo e investi-lo na posição de senhor. O fator intrigante como deduz Adorno e Horkheimer é que o homem totalmente esclarecido se encontra sob a égide da calamidade triunfal. Se a meta sempre foi desencantar o mundo pelo dissolver os mitos fazendo a reversão entre imaginação e saber, se, ainda, a superioridade do homem está no saber, porque o esclarecimento extraído desse processo é marcado pela coerção externa? A natureza que o homem pensava dominar oferece resistências porque não se compara ao domínio pensado e longe de se desenvolver junto da coerção externa, o esclarecimento está além da instrumentalização e da praticidade.

            As várias vezes em que a Dialética do esclarecimento insiste que conhecimento é poder, também vemos até pelos efeitos do nazismo que o esclarecimento é totalitário. Se ainda podemos ver conhecimento nos mitos, a racionalidade adotada se embasa no ser e acontecer captados ambos pela unidade. O número é o grande condutor do pensamento que se quer válido; a busca pela distinção é o mais importante para poder enfim distinguir entre a própria existência e a realidade. O mito responsável por dizer a verdade acerca das coisas e dos homens, relatar, denominar, expor, fixar, explicar acaba virando doutrina para a representação dos acontecimentos. O esclarecimento como meta depois de destruídas as distinções entre a realidade e o mundo, este é submetido ao domínio dos homens. Então o homem passa a identificar em todas as relações a existência do poder, despertado da alienação do mundo explicado das restrições. A dialética se constrói ao poucos quando, pelo aumento do poder há alienação sobre o que exercem o poder; na essência das coisas, perdura a dominação. Se no passado esta se dava sobre a natureza agora é sobre os outros homens no intuito da acumulação, no ter para poder submeter e não ser submetido.

            O esclarecimento já desenvolvido desde o mito, pelo rigor da lógica formal ao julgar o mito cai na mesma órbita. Isto porque ao tentar explicar os acontecimentos pela repetição numérica recai no princípio da imanência que o esclarecimento defende contra a imaginação mítica. Aqui é necessário frisarmos que a tomada de consciência do personagem o homem duplicado, passa pelo processo de inserção num número que ele recusa a integrar. À dominação que a existência do original significa, tem como conseqüência ao duplicado um fechamento, espécie de restrição aos modos de ser encarados até então como únicos. Ao procurar o conhecimento em si visto na forma do outro que não é, percebe que este está além do número par que ambos passam a representar para a humanidade que desconhece aquele drama. Por este prisma, o romance contraria a idéia inicial de como se chegar ao conhecimento exposta na Dialética do esclarecimento, pois o que é digno de conhecimento pode ser mensurado, o incomensurável é eliminado numa época em que os homens são forçados à real conformidade. Importa o todo, o indivíduo é dissolvido na unidade da coletividade. A abstração neste sentido é instrumento do esclarecimento no processo de liquidação do indivíduo. Impulsionado pela lógica dos números o conceito em qualquer setor da vida do homem exerce a dominação real na medida em que o eu sabedor da ordem e subordinação ambiciona encontrar a verdade no pensamento ordenador. Lembramos que o professor de Matemática ao sugerir ao professor de História que assistisse o filme Quem Porfia Mata a Caça, tem para si que a vida do colega precisa de uma ordem, de uma solução para o marasmo vivido. Entendemos isto como a desmistificação de que a ordenação pura e simples não explica nem resolve o homem não apenas o personagem, mas a vida como um todo. Inclusive, o porfiar que é discutir, retirado do filme longe de resolver o problema do professor, o coloca no centro de uma disputa em que não há vencedor. O homem posto entre o emaranhado da natureza em face do elemento individual, vê não sem um certo horror o que não pode ser expresso pela linguagem ambientada na contradição. Por isso ocorre o trajeto passando do medo do mito ao medo real de não poder submeter os acontecimentos ao conhecido dos números. Então, o esclarecimento é a radicalização da angústia mítica como pretende Adorno e Horkheimer porque o dado humano sobrepuja as certezas, as convicções tão bem acertadas com as virtudes conceituais.

            Do caos do inexplicável para a civilização bem arregimentada com respostas possíveis de se encontrar junto ao cálculo baseado na repetição da natureza, a consciência dos homens sai em quase nada modificada se é o princípio da igualdade o elemento funcional a perseguir. O contrário como podemos encontrar na narrativa de O homem duplicado expressa uma ânsia pela diferença oriunda de uma repetição que não se explica pelo número, sequer pela funcionalidade de um rosto muito visto. Contudo, a super exposição não é garantia da individualidade que se busca e é justamente isto a crítica incrustada na imagem dos dois homens iguais. Outra vez é a liberdade requisitada quando se coloca em dúvida a individualidade; ciência e poesia separadas pela linguagem têm no símbolo as condições de se sobressair à imagem da cópia para tentar a autonomia da natureza. A conhecida antítese entre arte e ciência é retomada por meio da duplicação ideológica e na reprodução dócil; ao insistir na explicação aceitável na totalidade, o homem menospreza a arte ligada a expressão do sentimento mútuo dos homens. O saldo fica por conta do saber perdido para a ação da arte enquanto manifestação da natureza humana que se nega a entregar-se à reprodutibilidade. O sentimento da liberdade perdida para presença de um estranho ao invés de configurar a antítese entre arte e ciência, por meio da duplicação de homens ligados à arte e a educação, vem mostrar o equilíbrio difícil diante da vida repetida em indefinições, sobressaltos e alienação do que se é em frente ao espelho.

            Para os filósofos o mundo continua contaminado pela mitologia quando sob a dominação, o homem se vê alienado nas relações com os outros homens e, inclusive consigo mesmo. No padrão da autoconservação, a assemelhação à objetividade ou aos modelos para segui-la confirma tal hipótese. Enquanto pensa controlar os processos de produção no trabalho, o homem é controlado em suas vontades por meio da submissão à autoconservação; assim se ressente no mundo desprovido da subjetividade como um mecanismo dispensável ao processo automático de controle. A dominação a que se vê submetido o professor de História não só pela presença ou o olhar do ator de cinema, tem como resultante a vontade de dominar do primeiro. A intenção de manipular as situações para colocar o outro em desvantagem, demonstra o quanto é discutível no romance a perspectiva da subjetividade para se falar de vidas cuja pretensão ao longo da história deles é a individualidade.

            Dialética do esclarecimento se insurge contra o pensamento a serviço da lógica que conduz à coisificação do homem. Perder o nome longe de ser uma perda mítica lembra a tentativa de dominação da natureza externa e interna sem a qual não se atinge o fim absoluto da vida. A questão se instala em criar uma alternativa para sair da dominação da natureza ou da natureza ao eu. As provações a que a humanidade teve que se submeter para a garantia da formação de um eu como caráter idêntico, determinado e viril do homem não deixa de ser uma tentativa do eu de sobreviver a si mesmo. O senhor quem escolhe e decide o que fazer de si, impõe aos outros o serviço, a submissão de olhar sem aproveitar com todos os sentidos a vida aflorar; o que poderia ser a fruição artística é substituída pelo trabalho manual de onde sai a dominação social da natureza. A dialética do esclarecimento é destrinchada pelo pensamento de Adorno e Horkheimer tendo como exemplo as medidas tomadas por Ulisses quando seu navio se aproxima das sereias. A relação de quem comanda e de quem é comandado se dá por intermédio da detenção do saber. Nisso, a facilitação técnica da existência tem por trás a continuação da dominação e a experiência sensível é mais uma vez submetida; na divisão do pensamento com a experiência temos o empobrecimento do homem na medida em que se iguala pelo isolamento quando se tem em vista a necessidade lógica, a outra face da dominação. Em Saramago o que temos é o enfrentamento do homem consigo por intermédio de uma repetição nunca dantes vista; o encontro de dominador e dominado, o intercambiar dos processos de sentir e ser se efetiva quando os saberes de ambos são colocados em dúvida como forma de entender a vida.

            O pensamento livre do mando media o uso dos instrumentos de dominação, a linguagem, as armas e por último as máquinas como estando ao alcance de todos. Entretanto, como lemos na Dialética do esclarecimento, o pensamento perdeu o elemento da reflexão sobre si mesmo; é negado pelos próprios dominadores como ínfima ideologia. Assim, faz sentido que os homens tomem consciência de que o poder do sistema cresce na proporção que os subtrai ao poder da natureza quando a razão da sociedade racional se torna obsoleta. Segundo Adorno e Horkheimer é somente pensando que os homens distanciam-se da natureza com o propósito de torná-la presente de maneira a ser dominada. Na capacidade de elaborar um conceito, o esclarecimento se apresenta como um fator responsável por ver a natureza perceptível em sua alienação. Como dialética entendemos que a dominação da natureza não ocorre sem sucumbir a ela. Diante do que o conceito pode fazer em termos de objetividade, podemos dizer que ele enquanto ciência servindo de instrumento distancia os homens da natureza, servindo inclusive para medir a distância perpetuadora da injustiça.

            Da mesma forma que o esclarecimento ofereceu resistência à dominação em geral, o homem na liberdade do pensamento pôde disciplinar tudo que é único e individual. A conseqüência é que o todo não compreendido se volta enquanto dominação das coisas, contra o ser e a consciência dos homens. Prevalece por isso na práxis revolucionária, o duelo entre a inconsciência e o enrijecimento do pensamento. Este para os autores, é sim destrutivo se servir exclusivamente de simples construção de meios, em dialética, na ousadia de ser, superar o falso absoluto em que foi enquadrado no princípio da dominação cega. O esclarecimento atinge seus objetivos quando os fins práticos mais imediatos se revelam como o objetivo mais distante. Somente assim o esclarecimento auxilia o homem na busca e/ou resgate do sentido último de humanidade. Se compararmos tais princípios com o que encontramos em O homem duplicado, veremos um personagem atento a uma reflexão sobre si de modo a criar condições de se estabelecer as diferenças que procura para se livrar da dominação projetada no ator Daniel, o outro de António Claro.

            Seguindo a trajetória do herói grego da Odisséia, os filósofos encontram em Ulisses o testemunho da dialética do esclarecimento. O herói das aventuras é também o protótipo do indivíduo burguês conduzido pela ordem racional a que se submete muito mais que as razões proclamadas pelos deuses. A duplicidade do esclarecimento encontrada no personagem de Homero faz pensar em Nietzsche quando este percebe no movimento universal do espírito soberano, tanto o sentimento de seu realizador último quanto a existência da potência hostil à vida. A opressão detectada em tudo que é vivo fornece elementos para a interpretação da epopéia independente de ser vista como romance ou não, as condições ideais para denunciar a dominação e exploração que o homem é senhor e servo num só texto. Por ser este entrelaçamento de mito com esclarecimento a Odisséia expõe a oposição do ego sobrevivente às inúmeras dificuldades do destino propiciando assim a formação na consciência de si. A volta para casa do herói cansado é igualmente o retorno à pátria onde é respeitado e aos bens materiais. Diferenciado pelo saber com que age, Ulisses na espacialidade de suas aventuras fomenta as condições para a constituição da individualidade ao se opor às forças míticas; o faz visando sair vencedor nas aventuras por meio da astúcia, conforme explana Adorno e Horkheimer é perdendo-se que Ulisses se conserva.

             Já o herói do nosso tempo sem consciência daquilo que é também sem forças para driblar o desconhecimento a que se vê reduzido, só tem uma arma para sobreviver: a espera. Tendo em si a duplicidade, de nada resolve o saber que ele acreditava possuir, a segurança de uma imagem sem mácula se desfaz transplantada a outro personagem que sem explicação vive a realidade ignorada de sua vida. Enquanto sacrificando a consciência de si, o herói homérico vai além do sacrifício exigido pelo mito ao agir de acordo com sua potencialidade de indivíduo humano. A ação marcada pela racionalidade civilizatória em detrimento da irracionalidade mítica, contudo, acarreta a introversão do sacrifício: a história da renúncia. Temos neste raciocínio mais uma explicação para a gênese da dialética do esclarecimento no que tange a transformação do sacrifício em subjetividade, esta não se dá de forma harmoniosa. Na renúncia, o herói se vê obrigado a encontrar as soluções para cada obstáculo; a dignidade só é conquistada achatando a ânsia de uma felicidade plena, universal, indivisa. O eu de Ulisses representa a universalidade racional contra a inevitabilidade do destino; para isso a astúcia do herói se vê munida da palavra com seu poder sobre as coisas, da dualidade com a qual pode jogar. Adorno e Horkheimer concordam que o herói homérico ao se intitular Ninguém, se salva fazendo-se desaparecer comparando este recurso com o esquema da matemática moderna enquanto adaptação pela linguagem ao que está morto. O homem entre as forças míticas tem como única ameaça o esquecimento e a destruição da vontade, como vemos que o herói supera a ambos o faz por meio da eliminação do sofrimento. O duplicado ao renunciar a ser si mesmo dispensa a ilusória felicidade que o dado racional poderia lhe fornecer. Sem palavras que o explique nem ação meritória que o resgate do dilema, simplesmente se vê consumido pela duplicidade da vida que compõe.

            Ao se denominar Ninguém, Ulisses como sujeito renega a própria identidade a fim de preservar a vida em troca de uma imitação mimética do que ainda não tem forma. O eu diluído com o uso da palavra visando a auto conservação ao mesmo tempo em que é astúcia é estupidez logo se sai da dificuldade. Ao se identificar renuncia a aparência, o que para os filósofos em estudo faz a dialética da eloqüência. A força dessa dissolução é o esquecimento; esquecer a identidade momentânea, mas depois esbravejá-la torna-se a contramão da astúcia com que o herói é identificado. O conceito de pátria oposto ao de mito faz o paradoxo de maior profundidade da epopéia uma vez que marca a passagem histórica da vida nômade à vida sedentária do lar receptivo. Já o protagonista sem pátria nem lar a defender, do romancista português, é reduzido por um mimetismo do qual não encontra explicação e encontrá-la não é a tarefa que mais o preocupa, o eu dissolvido na imagem que se torna agressiva porque repetida, tem no pensamento o refúgio de algo que quer esquecer sem sucesso.

            O esclarecimento visa o sistema feito forma de conhecimento, toma para o sujeito o apoio necessário para a dominação da natureza. As dificuldades no conceito de razão fazem no indivíduo humano a conversão a um processo reiterável e substituível, não mais que um exemplo para os modelos conceituais. Com isto, o esclarecimento expulsa da teoria a diferença, essencial para que o sujeito tome consciência de si. Os autores apontam o marquês de Sade como aquele que mostra o sujeito burguês liberto pelo entendimento sem direcionamento de outrem; a burguesia chega ao poder pelas mãos do esclarecimento. Na genealogia da moral, a personagem Juliette perfaz o caminho traçado pela razão, porém no sentido de desmascarar o total benefício de seu uso. Se ao longo de sua história o pensamento serviu como órgão de dominação, assustado com a imagem que o espelho devolve, este abre, todavia, o pensamento para o que está além dele e que o homem pode captar como o faz Juliette quando suscita indignação; nisso, a dialética do esclarecimento ocorre proclamando a identidade entre dominação e razão.

            Quanto ao esclarecimento como mistificação das massas dentro da indústria cultural, Adorno e Horkheimer fazem questão de destacar que a cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança, fazendo o homem se perder nesse processo. Algo bem próximo do encontramos no enredo de O homem duplicado. A falsa identidade entre o universal e particular proclamada pela necessidade de consumo é mais um mecanismo de dominação através do poder do dinheiro. O sujeito da sensibilidade perde espaço para a indústria que reproduz de antemão as necessidades que aquele pensa ter. Então a totalidade toma lugar no efeito de harmonia; na cor particular; na penetração psicológica das artes em geral. Com a extinção da força criadora no Ocidente extingue-se também o dado humano da espontaneidade, a imaginação criadora seqüestradas pela técnica reprodutora, reduz, portanto, a tensão entre a obra inventiva e a vida rotineira. Em todos os setores da indústria cultural o padrão de competência é transformar os produtos finais nas mãos dos consumidores numa linguagem quotidiana versada pela naturalidade capaz de convencimento. A imitação colocada em termos de absoluto deixa de ser algo negativo e passa a ser justificado como estilo de identidade, a obra quando não podendo resistir, integra-se ao sistema reprodutor. Ritmo, dinâmica, repetição são os novos valores agregados à obra porque não se dissociam do que é novo e atraente para o consumidor identificado com o produto adquirido. Na contramão, o romance de José Saramago expõe o desconforto pela imagem repetida, a identidade perdida com a descoberta da duplicação reitera a falta de justificativa para um se anular na falsa opinião de ser mais humano que o outro.

            A indústria cultural após contaminar a obra de arte, invade a diversão também reprodutora da dominação. Então não se pode falar de nenhuma espécie de pensamento particular ou nenhum esforço intelectual, prevalece o aceitável da falta de sentido. Como nos filmes cômicos ou de terror o pensamento em si é desfeito e mesmo massacrado para evitar o transtorno de seus efeitos. Ancorado pela sociedade industrial o homem se vê em desgaste contínuo por causa do esmagamento de toda e qualquer resistência individual, sendo-lhe oferecido em troca a satisfação através da sublimação estética. Ao eterno consumidor, a fuga do quotidiano exposta nas telas da diversão mais uma vez reproduz os projetos de expansão da razão capitalista. O dado humano contra o mecanismo social é desfeito pela razão planejadora fazendo o consumidor aplacar os impulsos humanos quando lhe é entregue a verdade sob forma de catarse. Divertir é ficar longe do sofrimento e para isso é necessário não ter que pensar; estar de acordo significa libertar o pensamento como atitude negativa, enfim, é o que os autores chamam de desacostumar as pessoas de sua subjetividade.

            Como o objetivo final é a assimilação, a semelhança perfeita é a diferença mirada. Cada pessoa se faz peça de troca, mero exemplar, desprovida do dado sensível para resultar no puro nada introjetado e perceptível quando perde com o tempo a semelhança. A indústria que reduz os homens a clientes ou empregados estendeu seu domínio à humanidade inteira, eles não passam em ambas as alternativas de objetos a seu serviço; está na estereotipia dos homens o mecanismo de dominação social da indústria cultural. Então, podemos perguntar junto ao texto da Dialética do esclarecimento qual o inimigo a combater? É o que já está derrotado, o sujeito pensante. O controle social se exerce pela mentalidade repisada do conformismo às normas, na ilusão de que o único conhecimento válido esteja ligado a alguma especialização. Ignorando os outros e depois a si, o sujeito jogado de um lado ao outro sem chegar a lugar nenhum dentro da indústria cultural determina o lugar fixo de trágico na rotina temendo sua exacerbação. Domina dessa forma não só os instintos bárbaros, mas também os revolucionários para os quais perderia terreno cedendo poder ao pensamento livre. Na narrativa, a dialética começa com o descobrimento da duplicação e com ela a recusa na assimilação. O pensamento de ambos os protagonistas é mostrado de forma tal a não se compatibilizarem pela igualdade. Desta maneira interpretamos como a crítica desenvolvida pelo escritor no sentido de negar a falta de pensamento do homem do seu tempo; com a duplicação fica explícito que os modos de pensar não podendo ser vistos em conformidade também se debatem no vazio, na não compreensão, no nada irresoluto, todos estes tão valorizados enquanto conhecimento quanto reduzir a existência a uma sentença racional e se confortar nisso.

            A harmonia de vida no capitalismo tardio diz respeito à renúncia à pretensão de felicidade, a entrega sem limites, a aceitação tácita da falsa identidade entre o sujeito e a sociedade na qual pensa estar inserido. Desse processo a liquidação do trágico confirma a eliminação do indivíduo guiado pelas antenas do poder ainda mais excludente quando afirma a comunhão. O que os autores da Dialética do esclarecimento chamam de pseudo-individualidade é a falsa idéia que o indivíduo tem de possuir um eu pensante, porque o indivíduo sozinho ou em conjunto forma um entrecruzamento das tendências do universal proclamada em alto e bom som para o sentido maior de sua reintegração total na idéia de universalidade.

            Repetição, cópia, imitação são dados a que o homem se agarra quase em desespero tentando achar a individualidade. Ao tentar ser igual para ser diferente, ele acaba por sucumbir à ideologia do mesmo; ocultar a contradição ao invés de acolhê-la na consciência é mais um item da alienação cujo destrinchar leva à dialética. Vemos que no romance a dialética se faz não pela acolhida da cópia, porém, pela não aceitação sem, contudo, encontrar uma possível resolução para o caso dos homens iguais. Até chegar a isto o indivíduo troca o prazer pela assistência, o estar informado mesmo que as notícias cheguem já filtradas; conquistar prestígio assim é mais importante do que ser um conhecedor. Invertidos os processos da individualidade, a percepção das coisas e pessoas está a serviço de algo diferente do indivíduo em si ou o seu crescimento enquanto pessoa. Retomando a cultura como uma mercadoria paradoxal, o texto envereda pelos caminhos tortuosos da desmitologização da linguagem, de um lado processo total de esclarecimento, do outro recaída na magia. Na poderosa publicidade da indústria cultural, palavra e conteúdo, racionalização e encantamento mágico não se separam quando a liberdade de escolha reflete sempre a coerção econômica, vale dizer, escolha sempre do mesmo.  

            Em relação aos limites do esclarecimento, o livro alemão discorre acerca dos elementos do anti-semitismo para delinear o alcance do entrelaçamento dialético entre esclarecimento e dominação; resulta disto que a ordem prescinde da desfiguração dos homens. A racionalidade imperante está ligada à dominação como base do sofrimento, enquanto para quem a domina atinge o máximo da eficiência, quem é dominado sente não ter o saber opressor. A subjetividade negada é mais que um elemento racista, é a própria condição humana surrupiada sob a forma do purismo alardeada. À falta de reflexão sobre si, responsável muitas vezes pela dominação se atrela ao esclarecimento enquanto este não desencadeia a parte de verdade cujo acesso à consciência o mundo da reificação impede. Pensando sobre si o homem duplicado se vê subjugado por quem aparentemente é mais merecedor da existência que ele, isto perdura até tomar atitude de vingança e submete sua imagem num corpo estranho a se tornar objeto uma vez que desconsidera seus sentimentos.

            A movimentação do espírito proposta na Dialética com efeitos sentidos na movimentação do corpo, não se entrega à afirmação de fatos e supressão de questionamentos, se transforma na  alternativa para sair do mimetismo a que o homem se vê reduzido em meio aos homens cumpridores de ordens. A condição da civilização exposta pelo comportamento cuja educação social e individual é questionada sob o impulso do mimetismo conduz à compreensão do diverso visto como idêntico. Com isto vem a pergunta do que seja o diferente, quais características podemos identificar quando homens e coisas se mostram indistintos pela falta de reflexão? As manifestações humanas neste contexto são por isso mesmo controláveis e compulsivas porque apenas repetem o previsto dentro da objetividade em que se enquadram. O homem duplicado que no início da duplicação atribuía os fatos concernentes a si como atributo do destino, alterca com o Senso Comum. Ao mostrar personalidade quando vê a necessidade de agir para descobrir o outro eu que não tinha conhecimento, se questiona, faz o mesmo com o mundo circundante. Nisso já prelineia a diferença solicitada para além da identidade apenas resvalada na imagem encontrada na tela do vídeo.

            Adorno e Horkheimer se tornam bastante atuais quando denunciam o deturpamento do conceito de razão, principalmente com referência ao sentido patológico no anti-semitismo por causa da ausência da reflexão que o caracteriza. O apagamento da subjetividade neste contexto também fomenta o mesmo num mundo onde a práxis importa muito mais que a fruição sobre o que se faz, pensa ou sente. Por outras palavras, a práxis sem a perspectiva do pensamento denigre o homem em sua natureza. Tal extinção do sujeito para os autores, se efetiva a começar pelos olhares expressando a falta de reflexão transmitidos aos próximos que por sua vez completam um quadro de realidade pautada pela infelicidade. O esclarecimento usado pelos dominadores a fim de oprimir é possível graças ao consentimento dos dominados que têm suas aspirações roubadas quando não transformadas em algo odioso, porque responsável pelo sofrimento atual. Daí temos uma justificativa se houver, para o impulso mimético, o comportamento reificado dos homens brutalizados pela racionalidade pauperizante. Se a engrenagem da indústria não admite a vacilação do homem, este é superado na medida em que não pode mais ser visto como sujeito. O setor econômico visto como fator essencial para o homem se ver como tal, o ato de consumir se faz mais expressivo a cada compra cujo objetivo é ser igual tendo mais, com a falsa aparência de ser diferente. Os despossuídos, na interpretação dos autores, não são apenas aqueles impedidos de acesso aos bens de consumo, mas, sobretudo os que perderam a capacidade de julgar pelo pensamento. O esclarecimento de posse de si quando chegar ao nível da revolta mesmo num tom de violência seria a chance de romper com os próprios limites.

            Da mesma forma que a utilização da razão em prol de objetivos escusos demonstra como os inteligentes facilitam as coisas para os bárbaros, a sobrevivência alegada enquanto colaboração prática é a chancela da transformação da idéia em dominação. Terror e civilização estão na mesma proporção que esclarecimento e dominação ao que a consciência do indivíduo se vê submetida por meio da dialética dos acontecimentos que lhe cercam. O conhecimento tão proclamado como forma de acesso à humanidade em plenitude passa pelo crivo da classificação em tempos de objetividade sem fronteiras. Como sua condição primordial e primeira, ele por sua vez a destrói quando a classificação é vista apenas como a condição e não o conhecimento em si; então mais uma vez podemos dizer que há a dialética do esclarecimento.  

            O progresso que separa as pessoas pelo usufruir os bens de consumo, por exemplo, os da comunicação, têm como efeito mais corrosivo ainda a assimilação dos homens quando os isola. Não discutindo idéias os homens se aniquilam em poder de observação, mudança da realidade a que se integra. Os acontecimentos que a razão alienante tenta juntar num mesmo bloco explicativo trazem em si a semente da fatalidade desconcertante. O paradoxo de poder ver e não poder mudar na consciência dilacerada do homem está em que este se projeta naquele. Justamente é isto que faz o personagem do romance muito mais que ser é se sentir um duplicado. Na frase “Toda reificação é um esquecimento” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 215) mais uma vez chama atenção para a falta de reflexão que produz a dialética do esclarecimento. A objetividade, o resultado das ações sem atentar para o processo de quem as produz gera o apagamento, o esquecimento do ser do homem contra o que os autores reclamam. Na mesma direção estão quando apontam o esclarecimento a serviço de alguma ideologia, contra a planificação, o mimetismo compulsivo da repetição desenfreada de ações e idéias plantadas por uma razão que se quer superior sem conclamar, sem suscitar controvérsias.

            O declínio da individualidade que observamos em Dialética do esclarecimento como sua maior denúncia diz respeito à compreensão como algo de histórico e, incluindo no mesmo quadro interpretativo o despertar de dúvidas sobre a assimilação como algo de positivo. Nesse livro emancipar a humanidade significa o respeito pela diferença real e procurada; na autonomia e na incomparabilidade do indivíduo se cristaliza a resistência tão valorizada pelos autores contra o poder cego e opressor da realidade vista de acordo com o todo irracional. Para eles a filosofia com um passo adiante da ciência é a própria voz da contradição, sadia, desejável até, no intuito de fazer ouvir a grito abafado do homem preso às amarras de um pensamento ainda não elaborado.

            O ato de pensar nas verdades em construção faz do homem o indivíduo que não se anula pela fuga da obrigatoriedade de se escolher uma alternativa mais clara de acordo com conveniências outras que não a sua. A verdade enquanto todo é tão perigosa quanto vê-la por parte sem a devida reflexão do sujeito. Sendo assim, a dominação quando vista como contradição relegada ao âmbito da arte, aí entendida como forma de beleza, trai o princípio gerador do pensamento, espírito e mesmo linguagem. A indústria cultural e seu aparato distorcido junta ao trabalho de precisão o erro como acaso, mostra o aspecto mal da subjetividade e do natural fazendo ver ao mesmo tempo a praticidade, o envoltório de facilidade e despreocupação de seus produtos ao alcance de todos. Neste mundo que precisa do homem inteiro para seus fins imediatos só tem chance de sobreviver quem como o Ulisses usa seu poder de força astuciosa. A dialética do esclarecimento toma corpo assim que as etapas intelectuais no interior do gênero humano tapam a esperança imobilizando-a; desse modo testemunha petrificada de que todo ser vivo se encontra subjugado embora pareça dominar.

            Ambos os livros de Adorno nos amplia a capacidade de leitura de O homem duplicado uma vez que a subjetividade é o ponto alto de discussão nessas obras. Se, teoricamente observamos a ausência de reflexão como apagamento da individualidade, na forma romanesca, a reflexão presente não é garantia para que o homem possa sair da igualdade a que se vê exposto. Quando os protagonistas não se julgam mais capazes de fazerem o que fazem, são levados pelo impulso mimético; um a imitar o ator na intenção de encontrá-lo, o outro a se fazer passar pelo professor de História que nunca foi. Nisto podemos dizer que haja não uma racionalidade paupérrima, mas racionalidade borbulhante sem, contudo, amenizar o desconforto existencial dos personagens. Tanto isto é verdade que o narrador deixa claro no homem duplicado, a definição de um sujeito cujo rótulo não é o de ser um modelo de homem, é, ao contrário, dado à vacilação, de moral questionável. A revolta observada em termos teóricos como a saída para a perda da subjetividade é notada no homem de duas vidas, porém, ela não resulta numa espécie de melhoria direcionada a uma coletividade, sequer ao seu portador. Quando há a vingança no romance, os efeitos sentidos se voltam contra o provocador e contribuem de forma decisiva para o estado de inaptidão em se escolher. Embora possamos encontrar objeção para este último argumento com a saída final do personagem no intuito de encontrar e tudo indica aniquilar a aparência indesejada de um outro igual a António Claro, toda a arquitetura do romance indica a não formatação do personagem com alguma resolução.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ADORNO, Theodor W. e HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985

ADORNO, Theodor W. Minima moralia - Reflexões a partir da vida danificada. Tradução de Luiz Eduardo Bicca. São Paulo: Ática: 1993

ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004

BAUDRILLARD, Jean. A troca impossível. Tradução de Cristina Lacerda e Teresa Dias Carneiro da Cunha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Tradução de Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Ioratti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986

COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria. Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão e Consuelo Fortes Santiago. Belo Ho[1]rizonte: Editora da UFMG, 2001

HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Tradução de Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Centauro, 2002

SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Companhia das Letras, 2002

_____. Ensaio sobre a lucidez. São Paulo: Companhia das Letras, 2004

_____. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995

_____. Todos os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997

_____. Viagem a Portugal. São Paulo: Companhia das Letras, 1997

_____. O evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991

_____. A caverna. São Paulo: Companhia das Letras, 2001

_____. Memorial do convento. Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil, 1996

_____. Levantado do chão. Rio de Janeiro: Record/Altaya, 1996

 

 

 

           



[1] Doutoranda Madalena Aparecida Machado (UNEMAT/Pontes e Lacerda): Professora de Literaturas de Língua Portuguesa no Departamento de Letras